Tormenta 20: o RPG brasileiro que bateu mais de um milhão em financiamento
Resumo da notícia
- Tormenta é um RPG brasileiro que fez 20 anos em 2019
- Em comemoração, foi feita uma campanha de financiamento coletivo que arrecadou mais de R$ 1 milhão
- A campanha mais lucrativa do país teve metas estendidas para incluir desde aplicativo até um curta metragem
Durante a CCXP19, o Painel Ultra ficou lotado de amantes de RPG que esperavam pela palestra dos autores de Tormenta, um dos maiores cenários brasileiros do role-playing game, que iriam contar novidades sobre o tão aguardado Tormenta 20 —a edição que marca os 20 anos do jogo de estratégia e inclui aplicativo, animação e até um curta-metragem. Isso tudo graças à força da comunidade, que arrecadou a quantia de quase R$ 2 milhões por meio de campanha de financiamento coletivo.
Saiba como o RPG que conquistou milhares de jogadores pelo Brasil atravessou problemas financeiros durante duas décadas, até conseguir uma campanha milionária.
Uma longa jornada
Antes mesmo de a moda de jogar RPG surgir com Stranger Things jogando Dungeons and Dragons (D&D) no porão do Mike, os criadores do Tormenta já rolavam os dados. Em 1994 surgiu a revista "Dragão Brasil", um periódico mensal que publicava matérias sobre RPG e contos de fantasia.
A ideia de a revista criar seu próprio jogo surgiu apenas cinco anos depois, na edição comemorativa de nº 50, conforme explica JM Trevisan, um dos criadores do Tormenta e editor executivo da revista Dragão Brasil, em entrevista ao START.
Reunimos as matérias mais legais para tentar criar um universo coerente, e preencher o buraco com outras coisas, então resolvemos que teriam 20 deuses e que teriam aspecto dos deuses romanos. A gente criou um continente e tinha só 5 cidades, não tinha os reinos ainda
J.M Trevisan, um dos criadores de Tormenta e editor executivo da revista Dragão Brasil
A primeira edição de Tormenta foi lançada como um encadernado de 64 páginas separado da edição comemorativa da Dragão Brasil. Na época, além de Trevisan, estavam como autores Marcelo Cassaro e Rogério Saladino. O nome Tormenta significa a tempestade de sangue que assola os lugares no universo do RPG, causando destruição por onde passa.
A revista passou por altos e baixos financeiramente até deixar de ser publicada em 2008. Após oito anos, os editores postaram na internet uma capa-paródia com Stranger Things e D&D, sem intenção de voltar a publicar. Entretanto, a imagem repercutiu e muitos leitores pediram a volta da revista. Com o sucesso da capa, Trevisan e outros antigos editores decidiram investir novamente.
Atualmente, a Dragão Brasil é publicada de forma digital, com financiamento coletivo, pela Editora Jambô. A equipe que produz Tormenta também cresceu e tem desenhistas, quadrinistas e escritores, incluindo Guilherme Dei Svaldi e Leonel Caldela, autores do RPG.
Apesar dos problemas com dinheiro, o RPG nunca deixou de ser publicado durante duas décadas, o que é algo raro para o mercado editorial tanto brasileiro quanto internacional. Trevisan acredita que fazer um RPG ininterrupto é um dos maiores desafios.
Isso de manter a história rolando, a motivação para escrever, as pessoas interessadas, adequar o conteúdo ao teu modo de pensar dez, quinze, vinte anos depois, esse é o maior desafio
J.M Trevisan, um dos criadores de Tormenta e editor executivo da revista Dragão Brasil
A força da comunidade
Reinos foram criados, novas raças e classes foram adicionadas, e o universo de Tormenta expandiu ao longo de dezenas de publicações, entre RPGs, romances e quadrinhos. E como uma boa campanha de RPG que pode durar anos, são muito os fãs que acompanham o Tormenta desde a sua origem. Trevisan conta que os jogadores são bem ativos nas redes sociais —ele mesmo faz questão de responder no Twitter ou no grupo oficial do RPG, que possui mais de 13 mil membros no Facebook.
Todo ano o RPG é publicado pela editora Jambô, mas por ser uma comemoração de 20 anos, Trevisan e a equipe de editores decidiram abrir uma campanha de financiamento coletivo com o intuito de ter maior participação do público.
A campanha foi muito em cima disso, é uma comunidade que manteve o cenário e o universo de Tormenta vivo. O livro foi moldado pela comunidade
J.M Trevisan
O alcance do milhão
Em maio deste ano, foi aberta a campanha pela plataforma Catarse anunciando recompensas e possíveis metas estendidas. Mas o que a equipe do RPG não esperava seria a proporção da arrecadação, conforme explica Leonel Caldela, escritor e um dos editores de Tormenta. "A gente esperava que fosse bem sucedida, a gente sabia que o público queria uma nova edição de Tormenta então era uma boa aposta, mas a gente decidiu apostar no realista", conta o romancista para o START.
A meta inicial era alcançar R$ 80 mil, o suficiente para a publicação do RPG —e no máximo R$ 350, mil sendo otimista— segundo os editores. Logo na primeira hora, porém, foram arrecadados os R$ 80 mil, e no fim do dia ultrapassaram a meta maior. Ao longo de dois meses, a quantia foi crescendo até fechar com o total de R$ 1.918.106, superando em cerca de 2397% o esperado e se tornando a maior arrecadação de campanha de financiamento coletivo do Brasil.
O público surpreendeu demais, foi algo que nem nos nossos maiores sonhos a gente sequer esperava
Leonel Caldela, escritor e um dos editores do Tormenta 20
Com o sucesso, foram criadas diversas recompensas estendidas como adição de personagens, classes, raças e até materiais como escudo de mestre, mapa, dados e dice bags (saquinhos para guardar os dados). Sem esquecer a opinião do público, como afirma Caldela. "Ao longo da campanha houve várias votações para quais raças iam entrar, quais personagens teriam fichas, como seria o livro, teve playtest aberto, recebemos feedback e refizemos. Tudo isso eram coisas que a gente só poderia proporcionar em uma campanha de financiamento coletivo", ressalta.
Mesmo depois de quase vinte e cinco anos no mercado editorial segmentado de jogos de mesa, Trevisan confessa que não esperava o enorme alcance. Ele acredita que um dos motivos de tanto sucesso é a fidelidade da comunidade e a qualidade do material entregue ao longo dos anos.
No nosso caso, acho que é um jeito de você mostrar que o que você sempre curtiu é legal. Acho que o fã sente isso, é quase como uma torcida de futebol no melhor dos sentidos, você quer mostrar que aquilo que você curtiu em 20 anos é legal e mostrar para todo mundo
JM Trevisan, sobre os 20 anos de Tormenta
Um universo em expansão
Ao bater a "meta do milhão", os criadores de Tormenta revelaram durante a palestra na CCXP que o RPG vai migrar para outras mídias, como um aplicativo para ser usado durante o jogo que auxilia na rolagem de dados e criação de fichas.
Também será criada a "Iniciativa T20", uma "plataforma para a publicação e venda de livros digitais de Tormenta feitos por fãs", dando uma chance para a comunidade e escritores iniciantes que têm interesse no universo de fantasia.
Foi anunciada também a nova animação "Holy Avenger", baseada nas histórias em quadrinhos dentro do universo de Tormenta, produzida pelo estúdio Eleven Dragons e sem data de lançamento. E ainda mais: o curta-metragem sobre o RPG, que deve chegar em 2020, e sobre o qual devemos ter novidades a partir de janeiro.
E por que não pensar num game de Tormenta? Os autores revelam que têm muito interesse em ver o RPG como um game. Trevisan lembra que o Tormenta tem publicado o "Desafio dos Deuses", mas pensa em ter algo mais definido para o futuro.
Temos a intenção, não temos nada finalizado porque Tormenta não é só um RPG, é um universo, uma franquia e com a base de fãs que a gente tem a gente quer que expanda o máximo possível.
JM Trevisan.
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