Com "Aladdin" e "Rei Leão", é melhor deixar alguns games na memória
"Bora viajar no tempo". Foi esse o pensamento que tive quando coloquei o disco da coletânea "Disney Classic Games: Aladdin e O Rei Leão" no meu PlayStation 4 (também disponível para PC, Switch e Xbox One). Afinal, ambos os games lançados pela Disney para os principais consoles da época eram um dos raros casos de boas adaptações de filmes.
Como tem acontecido com algumas coletâneas recentes contendo games clássicos, há diversas opções para "atualizar" a experiência. É possível experimentar diferentes versões do game - em "Aladdin", há a de Mega Drive (ocidental e japonesa), dos portáteis e uma que tem alguns bugs corrigidos. Já em "O Rei Leão", há todas essas versões, incluindo a de Super Nintendo.
O jogador também pode escolher em qual fase deseja começar e há uma espécie de "rebobinar" que permite "voltar no tempo" e evitar erros. Por fim, o jogo oferece diversas trapaças e os jogos têm partidas completas gravadas, fazendo com que você possa assumir o controle na hora que bem entender.
Tapete mágico furado
Na época, o primeiro dos dois games da coletânea a ser lançado foi "Aladdin". Lembro perfeitamente de abrir a revista Ação Games de julho de 1993 - uma edição, inclusive, famosa por ter uma imagem de capa bem otimista sobre o que seriam os gráficos dos games de consoles 32-bits - e ter visto uma foto do game, cujo longa de animação foi lançado em novembro de 1992 e era um sucesso entre crianças e adultos.
Mesmo a foto da revista sendo pequena, fiquei espantado. Eu, que ganharia meu saudoso Mega Drive apenas no final de 1993, mal podia esperar para jogar o game. E assim o fiz quando tive a primeira oportunidade e sorte de encontrá-lo disponível na locadora.
Devorei o jogo, terminei, adorei.
Só achei uma parte chata: a fase do tapete mágico, quando você tem que escapar de uma caverna que está desmoronando enquanto desvia de obstáculos. É aquele típico momento dos games dos anos 1980 e 1990 feito para representar um pico desnecessário de dificuldade - depois soube que fases como essa eram feitas para desencorajar o aluguel de games, já que boa parte dos jogadores não conseguiriam passar delas durante os poucos dias que estavam em posse do jogo.
Não à toa, foi justamente "Aladdin" que joguei primeiro nessa coletânea moderna. Além da óbvia nostalgia dos tempos em que a minha única preocupação era tirar boas notas na 5ª série, também chamou a atenção a ótima qualidade da música do game.
E o resto? Bem, talvez fosse melhor deixar quieta a memória que eu tinha do game. E eu nem falo em termos visuais, que são o que se espera de um jogo com mais de 25 anos de idade e realmente não me incomodaram - especialmente porque gosto da estética dos games da época - mas por aspectos relacionados a jogabilidade. Pouco precisa, ela acaba exigindo que o jogador refaça diversos pulos até se acostumar com a mecânica do jogo.
Outro aspecto crítico são os pontos de contato de Aladdin com os outros elementos do game: por vezes você vai ser acertado por projéteis ou armadilhas que estavam consideravelmente longe do seu corpo.
Enfim eu chego à tal fase do tapete. Bem, se eu não gostei dela há mais de duas décadas, não vai ser em pleno 2019 que vou achar a experiência bacana. Ela quebra totalmente o ritmo do game não por ser difícil demais, mas sim por ser desnecessariamente frustrante.
Cerca de uma hora depois de ter começado, finalizo Jafar e, com um gosto meio amargo na boca, resolvo encarar "O Rei Leão".
Afinal, dificilmente a aventura de Simba iria me decepcionar, não é mesmo?
Perdido na savana
Eu juro que tentei ligar o modo "hakuna matata", mas os problemas do game eu não consegui esquecer: jogar "O Rei Leão", hoje, é uma tortura para os dedos. Nele, a treta maior não é o ponto de contato de Simba com os outros elementos das fases, como aconteceu como "Aladdin", mas sim a total falta de precisão.
Tem horas que Simba, especialmente em sua versão mirim, é rápido demais e você acaba caindo em um buraco ou encostando em um inimigo. Já na versão jovem-adulto, acertar um pulo com nosso querido leão é uma tarefa que exige mais paciência do que habilidade. Isso, definitivamente, não é viver nem aprender.
Assim como em "Aladdin", há uma fase de "escapada": no caso, o estouro da manada de gnus (a fase chama "Stampede"). Se essa é a parte mais triste do filme, no game ela não carrega tamanha emoção, mas escancara a jogabilidade pouco precisa do jogo.
O lado bom é que quando você chegar nela, você terá passado o momento de raiva máxima do game: a famosa fase dos macacos na qual Simba é arremessado pelo cenário por macacos e precisa rugir para alguns deles para evitar ser arremessado na direção errada. É uma sequência baseada em tentativa e erro capaz de acabar com o humor de qualquer um.
Assim como em Aladdin, a aventura é curta: cerca de uma hora é o necessário para ir do início até a hora que você arremessa o odioso Scar de cima de uma pedra em direção a um incêndio - convenhamos, algo digno de "Mortal Kombat" e não de um jogo com pegada meio infantil, não acham?
Boa lembrança ou memória destruída?
Mesmo com todas as limitações encontradas no game, é inegável que jogar tanto "Aladdin" quanto "O Rei Leão" causou aquela gostosa sensação de nostalgia. Assim como é natural, depois de adultos, encontrarmos falhas em coisas que gostávamos na nossa infância ou adolescência.
A questão é que, mesmo com essa ressalva, ao compararmos esses dois games com outros do gênero lançados na mesma época, tanto a aventura de Aladdin quanto a de Simba se mostram bastante limitadas. Tanto que é bem complicado colocar os dois games no mesmo patamar de pérolas como "Super Mario World" e "Sonic 2", apenas para citar dois contemporâneos.
No final da experiência, senti que houve um certo empate entre boa lembrança e memória destruída. O que é um problema: até então, esses games traziam apenas boas recordações.
É a prova que, em determinados casos, o melhor a se fazer é deixar alguns games apenas na memória.
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