Cultura de games retrô sobrevive com entusiastas e colecionadores
Emanuel Colombari
Do START, em São Paulo
29/12/2019 04h00
Ao lado de uma loja de instrumentos musicais, há um estande quase todo de vidro vendendo fitas (ou cartuchos) de Mega Drive. E ao lado dele, um monitor pendurado exibe a tela inicial de Super Mario Bros., clássico do Super Nintendo.
A poucos minutos dali, dentro de uma galeria, uma vitrine exibe cartuchos originais de Master System, enquanto uma TV está montada e pronta para rodar PacMan, do Atari. A loja é ladeada por um comércio de lustres.
Poderia ser um passeio em 1994, mas este é um cenário bem real na São Paulo de 2019. No centro da maior cidade do Brasil, quem cresceu apaixonado por games pode encontrar consoles, fitas e acessórios para seguir curtindo os mesmos jogos que jogava 20 ou 30 anos atrás.
O nicho dos gamers de velha guarda não é dos maiores, mas segue vivíssimo e feliz. Mantido, inclusive, por gente que nem era nascido para gastar dinheiro no auge da rivalidade Sega x Nintendo, por exemplo.
PARA TODAS AS IDADES
Era o fim de uma manhã de garoa quando um pacote se abriu diante de Anderson. Sobre o balcão de sua loja, um homem tentava negociar um Super Famicom na caixa, com dois controles, cartuchos e o manual original do videogame da Nintendo. Aceitava dinheiro ou trocaria por uma versão clássica do Game Boy. Como não houve acordo, o dono foi embora para outra loja em busca do preço que achava justo pela relíquia pessoal.
A negociação foi uma das que ocorreram na Retrô Games enquanto a reportagem esteve ali. Anderson Guilhermino, 41 anos, o proprietário, dividia espaço com Anderson Pereira da Silva, 38 anos, cliente que virou uma espécie de ajudante do pequeno comércio. Por todos os lados, os dois têm a companhia de fitas e consoles diversos.
"O foco é o antigo", contou Guilhermino, que foi levado aos games de décadas anteriores por uma conveniência.
Um dia, passando pelas Casas André Luiz de Guarulhos, em São Paulo, ele viu alguns consoles antigos. E depois de passar boa parte da juventude jogando games de Atari, Master System, Mega Drive e Dreamcast, decidiu comprar um Nintendo 64 para mostrar aos filhos. Em pouco tempo, começou a comprar outros aparelhos para revendê-los.
O bico virou uma pequena loja em Guarulhos. No entanto, em busca de mais movimento, a loja foi transferida para a região da Santa Ifigênia, no centro de São Paulo, há pouco mais de três anos. Com sucesso.
"Às vezes, para vender R$ 1 mil, era um mês. Aqui, foi R$ 500 no primeiro dia", contou Guilhermino, surpreso com as variadas idades de seu público. "Muita gente vinha procurar para dar para os pais, para o namorado. Mas muita criança vê no YouTube e vem comprar."
Para os mais velhos, que descobriram os consoles em questão já na época, o objetivo não é a descoberta. "O pessoal faz muita game room", acrescentou o comerciante, em alusão a cômodos que recebem consoles diversos. "Quando o pessoal termina essa coleção, aí vai para os jogos."
FREQUENTADORES PARCEIROS
Entre os clientes de diversas idades, alguns desenvolvem uma relação mais próxima com o comerciante. E não é apenas o caso do xará Anderson Pereira, mas também de outros frequentadores.
Às vezes, a gente liga (os consoles) depois que a loja fecha e fica jogando
Anderson Guilhermino, proprietário de loja "retrô"
Em uma dessas relações informais, surgiu a parceria com Alexandre Matta, de 53 anos. Alexandre se descreve como um geek, mas acabou farejando no nicho uma boa oportunidade. Assim, sua loja virtual, a And Toys 4all, com grande foco em action figures, passou a vender também consoles e fitas da Retrô Games.
"Anos atrás, abri minha loja online com máquinas de época em casa. Depois, abrimos uma sessão de games online", contou Alexandre.
Embora a concorrência de games mais modernos seja recorrente, e aumente com o passar dos tempos, a loja de Anderson no centro de São Paulo ainda é capaz de atrair o público com algumas raridades - e elas são fundamentais nesse nicho.
Pensou no Atari? Pode ser, mais o acervo ali vai mais fundo. É possível encontrar um SG-1000 (lançado pela Sega no início dos anos 80), um Game Gear ainda lacrado na caixa original, fitas de Mega Drive em pouco vistas caixas de papelão e até um cartucho de Mortal Kombat 3 para Super Nintendo com o autógrafo de Daniel Pesina, ator responsável por interpretar personagens como Johnny Cage, Sub-Zero e Scorpion nos primeiros jogos da série.
Os preços podem chegar à casa dos milhares. E embora nem todo cliente esteja em busca de extravagâncias, não é raro que as compras rendam um bom dinheiro.
"Tem vez que chega alguém e leva 10 jogos de uma vez", garante Anderson Guilhermino, que vende de tudo para suprir o vínculo do público com a juventude. "Até caixa vazia a gente vende", completou. Uma embalagem original de console pode chegar a R$ 150.
CLIENTES FIÉIS
Perto da galeria na qual fica a Retrô Games, ainda na Santa Efigênia, está a ADS Games, loja mantida pelos sócios Aílton, Durval e Sandro. Desde julho de 2002, o estabelecimento funciona no mesmo endereço, entre outras lojas do mesmo segmento, atendendo a clientes que viveram a era de fliperamas e locadoras.
E mesmo que o público passe por ali procurando sucessos recentes, o objetivo do estabelecimento é outro. "A gente trabalha com pouca coisa. O foco é mais o game antigo", conta Aílton Guimarães, 48 anos, o A da sigla. "A gente sempre trabalhou com isso aqui."
E enquanto o monitor de uma loja da frente exibe a tela inicial de Super Mario Bros., com um volume chamativo, Aílton atende um cliente de longa data: Caio Turilli, 37 anos, que migrou de games mais modernos para jogos antigos de Mega Drive.
Turilli, frequentador fiel, frequenta o espaço desde os tempos da inauguração. "Sou cliente desde essa época", assegura.
Ele não é exceção. Segundo Aílton, o público que frequenta sua loja hoje é o mesmo que procurava games de 16 bit na época do lançamento.
"A lógica da idade segue a época do game. O cara com seus 40 anos tinha 20 na década de 90. É a mesma galera (hoje) que jogava antigamente", teorizou, que vê o público mais jovem como um fenômeno vinculado à geração mais antiga. "Essa geração é de pai para filho, para explicar a mecânica dos jogos", acrescenta.
Exemplo disso são os jogos plataforma, gênero que fez sucesso nos anos 80 e 90 graças a personagens como Mario e Sonic e que perdeu terreno com a ascensão do 3D.
"O Super Nintendo mantém um público muito fiel. Mario é um carro chefe", conta Ailton, ele mesmo um fã do "Nintendinho" (o NES) e do Mega Drive. "Game antigo ainda tem muita demanda", garante.
NOSTALGIA MANTÉM PAIXÃO VIVA
Bandas que se reúnem e voltam a lotar ginásios. Reboots de filmes que há muito fizeram sucessos na TV aberta se sucedem nas telas dos cinemas. Discos de vinil. Roupas largas em tons vibrantes. E, é claro, games de gráficos limitados e sons frenéticos.
Não há dúvidas de que os atuais trintões e quarentões têm os dois pés fincados na nostalgia. Mas por que esta geração é tão nostálgica?
Na questão dos games, a resposta remete à infância. Trata-se de uma fuga dos conflitos da vida adulta para uma realidade idílica, longe de cobranças e pressões. Nos videogames, a única pressão é por se manter vivo até o final de cada fase. E nada melhor do que "retornar" a um momento da criação em que isso era rotina, e não uma fuga.
"Muitos consomem este tipo de tecnologia por relembrar o passado e bons tempos dos quais já viveram ou que alguém muito querido viveu e contou a experiência. É uma forma de entrar em contato com algum momento importante e prazeroso que passou", explica o psicólogo Yuri Busin, doutor em neurociência do comportamento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e diretor do Centro de Atenção à Saúde Mental - Equilíbrio (Casme).
Muitos consomem este tipo de tecnologia por relembrar o passado e bons tempos dos quais já viveram ou que alguém muito querido viveu e contou a experiência
Yuri Busin, psicólogo
Para Arthur Igreja, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), especialista em Inovação, Tecnologia, Marketing e Consumo, a avaliação é parecida. "As pessoas consomem tecnologia por um fator primordial: saudosismo. Algo que está presente na vida de muita gente é essa conexão com o passado. Em se tratando de jogos, eles mudaram muito ao longo dos anos. Hoje, temos um ritmo frenético e com uma jogabilidade muito mais complexa. Os jogos antigos eram simples em virtude das possibilidades que a tecnologia oferecia. Então, muitos usuários que consumiam esses jogos daquela época muitas vezes não conseguem nem começar a jogar os jogos de hoje", avalia.
"Além disso, tem um fenômeno que está amplamente presente nos Estados Unidos e que segue se espalhando para vários países que é uma espécie de rito de passagem, que tem fomentado esse mercado. Ou seja, eram crianças e adolescentes que consumiam esses jogos nos anos 80 e 90, e agora compram estes para apresentar aos seus filhos. Esse é o rito de passagem de apresentação, de mostrar como foi a vida que eles viveram", acrescenta Igreja.
O apego nostálgico, porém, pode ter um efeito adverso: o descolamento da realidade. Viver o antes é saudável, mas é preciso ter os olhos bem abertos para o agora.
"Acredito que o maior perigo que a pessoa possa passar é o fato de não viver no dia atual e viver somente no passado. Isso pode causar muito distanciamento da sociedade de agora, dor, tristezas, angústias, etc. Ou seja, diversos sentimentos negativos", diz o psicólogo Busin. "Porém, aqueles que gostam destas tecnologias não necessariamente vivem no passado; apenas lembram de bons momentos que desejam reviver, o que não é algo ruim."
TEM CONSERTO
No quarto andar de um prédio comercial do centro de São Paulo, atrás de uma porta de madeira e vidro, existe um "acervo" capaz de fazer bater mais forte alguns corações já experientes. Ali, entre uma prateleira e outra, dezenas de consoles de diversas épocas dividem espaço. Alguns Super Nintendo de variados tons, dos já amarelados pelo tempo aos conservados cinzas, têm como vizinhos os Mega Drive, os PlayStation 2, os Nintendo 64 e outras tantas plataformas. Algumas caixas originais também estão por ali.
É nesse cenário nostálgico que trabalha Ivo Carlos Vilar, 54 anos, 30 deles dedicados ao conserto de videogames. Formado em eletrônica nos anos 80, o paulistano começou no ofício durante uma temporada morando em Barcarena, no Pará, cidade da família da esposa.
O pontapé inicial veio com um Master System, quando um sobrinho pediu ajuda para consertar o aparelho de uma locadora local. "O dono do comércio estava com um problema no Master. Uma coisa chamou a outra e eu não parei mais", explica.
De lá para cá, e de volta a São Paulo, Ivo já encarou consoles que até mesmo os mais apaixonados fãs de games do anos 90 viram apenas em revistas ou sites - como Jaguar e Lynx, ambos da Atari, ou PC Engine, da NEC. E acumulou histórias diversas.
Como o caso da da mãe que mandou o filho tomar banho - e, diante da negativa, arrebentou o Super Nintendo do garoto a marteladas. Ou de consoles que chegam irremediavelmente empoeirados ou com outros danos. "Tem várias histórias, o pessoal judia mesmo", conta.
Os consoles atuais têm espaço ali, e Ivo conta que faz manutenção de aparelhos como Xbox e PlayStation 4 inclusive para lojistas da vizinhança ou para assistências técnicas. Ainda assim, o público com gosto para plataformas mais antigas segue fiel. E a rivalidade entre Nintendo e Sega, que tanto marcou os anos 90, segue firme e forte entre os fãs cativos.
"Tem cara que é doente pela Sega. Se falar mal, arruma até briga", conta o técnico, deixando claro que a paixão de décadas anteriores não passou para essa galera. "Até hoje tem."
Tem cara que é doente pela Sega. Se falar mal, arruma até briga
Ivo Carlos Vilar, técnico em eletrônica
Sempre sentado atrás de sua mesa repleta de ferramentas e componentes, Ivo se acostumou a atender gente de várias idades. Mas sabe que o que faz com videogames de 8-bit ou 16-bit é um ofício em extinção. Por isso, o prognóstico para seus clientes - alguns deles recorrendo fielmente aos serviços há 25 anos - não é dos mais animadores. A luta dos apaixonados contra o tempo pode logo perder um importante aliado.
"Tem poucos lugares que consertam", analisa Ivo, também um jogador de games de outros tempos. "Por isso o pessoal não quer que eu pare. Eu penso em parar", antecipa.
ANTIGOS SOBREVIVEM NOS MODERNOS
Os sucessivos lançamentos de games fazem a festa do mercado. Ano após ano, gamers, desenvolvedoras e lojas comemoram as vendas de novidades que inundam lojas físicas e virtuais de todo tipo de game.
Mas o nicho retrogamer ainda é visto com atenção pelo mercado. Mesmo em meio a gráficos cada vez mais realistas, o público viciado no visual quadriculado de outrora ainda é capaz de movimentar montantes que não podem ser descartados.
"Muitos aspectos que vemos nos jogos atuais são fruto do que conhecemos na geração de 16 bits, que, para mim, foi a mais importante para popularizar os videogames no Brasil. Jogos de Mega Drive e Super Nintendo se tornaram muito populares no fim dos anos 80 e início dos 90, e alguns jogos clássicos daquela época seguem no mercado, evoluindo com a tecnologia e se adaptando ao tempo. Por exemplo, séries como Mortal Kombat, Final Fantasy, Sonic, Mario, Street Fighter, Fifa e Zelda estavam em evidência naquela época e até hoje são algumas das mais famosas do mundo", avalia o empresário e jornalista Marcelo Tavares, que em 2009 criou a Brasil Game Show, o maior evento de jogos eletrônicos da América Latina.
Para ele, mesmo os consoles mais modernos seguem bebendo na fonte dos sucessos de 20 ou 30 anos atrás. "Acho que a maior importância dos jogos da era dos 16 bit na atualidade esteja justamente no legado e nos conceitos deixados, que até hoje são vistos em diversos títulos. Vários gêneros marcaram aquela geração e ainda influenciam diretamente na atual, de jogos clássicos de plataforma, luta e esportes, até mesmo os first person shooters (FPS), que ganharam muito destaque à época com jogos como Doom", acrescentou.
As empresas sabem dessa influência, e aproveitaram a solidez deste nicho. No Brasil, a TecToy lançou nos últimos releituras de consoles de sucesso - como o Atari Flashback 7 (uma versão do Atari 2600), o Mega Drive e o Master System (ambos com jogos na memória, embora apenas o primeiro permita a entrada de cartuchos).
Procurada pela reportagem, a empresa não divulgou números de vendas, mas se mostrou satisfeita com o momento "extremamente positivo" dos retro gamers. O retorno do público para os relançamentos, garante, tem sido positivo. "Recebemos elogios a respeito."
Ainda ao UOL, a TecToy despistou sobre futuros lançamentos - que, conta, são feitos "de acordo com as solicitações do mercado e clientes". "Estamos neste exato momento definido nossa estratégia e planos para os próximos anos e com certeza vamos compartilhar com o mercado assim que tudo estiver pronto", resumiu.
E para os envolvidos, a boa notícia é que esse saudosismo não deve ir embora tão cedo. "É algo cultural, que está na moda e com certeza não é passageiro", acredita Thiago Valadares, especialista em comportamento digital e um dos fundadores do projeto Comportamento Virtual. "O mundo dos games é nostálgico, as pessoas valorizam a sua evolução, a mudança nos gráficos, na jogabilidade. E, além de tudo, tem os clássicos, games antigos que já estão imortalizadas."
PREÇOS? QUE PREÇOS?
Hoje, as competições em fliperamas e locadoras se transformaram em complexas (e lucrativas) competições de eSports. Mas mesmo entre competidores de jogos como League of Legends e Counter Strike, entre outros, as novas versões de jogos antigos atraem público.
"Quem conheceu os videogames naquela época certamente carrega essa influência em seus gostos por games até hoje - inclusive desenvolvedores. Além disso, muitos jogos que entraram no cenário competitivo de eSports já existiam naquela época, como Fifa, Mortal Kombat e Street Fighter. Tudo é parte de uma evolução, e os jogos de 16-bits foram parte importante dessa trajetória", explica Marcelo Tavares, que vai além.
"Para os apaixonados por jogos 16-bits, como eu, esses jogos seguem fazendo parte da minha vida e, sempre que posso, conecto meus consoles da quarta geração para me divertir com alguns dos maiores clássicos de todos os tempos."
Por isso, se você é um daqueles que investem dezenas, centenas ou até milhares de reais em videogames, jogos ou até caixas antigas, fique tranquilo: o mercado entende tais vínculos afetivos.
"Como qualquer outro fenômeno cultural, além das escolhas triviais e/ou da moda, sempre vai existir espaço para o diferente e carinho especial sobre o antigo. É fácil entender que este tipo de artefato aguça - e muito - a memória dos brasileiros que descobriram o videogame na década de 90 alugando fita na locadora", explica o publicitário Davi Bertoncello, CEO da Hello Research, agência de pesquisa de mercado e inteligência.
"O mercado de antiguidades é extremamente valorizado para uma parcela da população. Carros, arte, discos ou games, sempre vão existir pessoas dispostas a pagar pequenas fortunas para comprar o intangível. Por outro lado, grandes marcas também podem entrar nessa, seja por lançamentos de produtos de linha retrô ou mesmo cultivando a memória afetiva de seus consumidores", emenda.
O ponto de vista é semelhante ao do professor Arthur Igreja, que considera o nicho dos retrogamers "extremamente interessante". "Claro que é um tamanho total de mercado pequeno, mas que normalmente guarda boas margens, que são as pessoas mais apaixonadas e que olham menos os preços", diz. "Podemos comparar esse mercado com o de vinil, que está em alta no cenário musical. Se a empresa souber se posicionar bem, pode não ter um volume tão grande, mas os resultados econômicos são bem interessantes."
Thiago Valadares concorda. "É um nicho muito interessante, que tem poder aquisitivo e que consome com frequência produtos dos games favoritos. Esse público tem uma grande diferença entre idades, mas na sua grande maioria são pessoas que jogaram esses games anos atrás, acompanharam sua evolução, e hoje se divertem em reviver aquelas experiências."
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