Relembrando "Dino Crisis", o eterno "Resident Evil com dinossauros"
Makson Lima
Colaboração para o START
08/01/2020 04h00
No final de 2019, a Capcom registrou o domínio de uma de suas franquias esquecidas e também bastante queridas, "Dino Crisis". Esse é um procedimento padrão na indústria, mas também é mais que suficiente para trazer à tona debates e especulações sobre supostas ressurreições.
E outra: "Dino Crisis" completou 20 anos em 2019 e a cultura pop decidiu amar dinossauros mais uma vez graças aos novos filmes da série "Jurassic World". Ou seja, agora é um momento bem apropriado para revisitar Ibis Island, relembrar da destemida Regina e do conceito por trás do "panic horror" iniciado pelo jogo.
"Resident Evil" com dinossauros?
"Dino Crisis" não tinha como dar errado: dinossauros + "Resident Evil" + Shinji Mikami. Lá pelo final dos anos 1990, a franquia de mortos-vivos da Capcom já era sucesso absoluto. O terror, mais do que nunca, encontrava seu espaço nos videogames. Levar a ideia para o Período Jurássico (ou trazê-lo para nossos tempos?) parecia genial no papel e provou-se também na prática.
"Dino Crisis" foi lançado em julho de 1999 para PlayStation. A popularidade do console, da Capcom e de "Resident Evil" ajudaram a somar quase 2,5 milhões de cópias vendidas, e mais outras tantas depois, com adaptações chegando ao PC e Dreamcast no ano seguinte.
O caminho para uma franquia encontrava-se devidamente pavimentado, porém, tal qual a pata posterior do T-Rex, foi curto. Com jogos cancelados, uma iteração espacial fracassada e spin-offs nada interessantes, os dinossauros daquela que talvez seja a franquia mais popular protagonizada por tais criaturas se tornaram extintos de vez.
Recentemente, houve rumores sobre a aguardada retomada "Dino Crisis". Coisa mais circunstancial, nada especulativa, mas, ainda assim, na casa dos sonhos molhados. Em entrevista ao site Rely on Horror em 2016, o produtor de "Monster Hunter Online", Tao Weishi, comentou ter interesse em trazer de volta "Dino Crisis": "A Capcom pode começar com uma remasterização do primeiro jogo".
Ele quis dizer remake? Dado o sucesso de "Resident Evil 2" de 2019, tal ideia não parece assim tão absurda.
"Você está extinto!"
Entre trazer dinossauros de volta à vida por clonagem de DNA preservado em âmbar ou através de portais de espaço-tempo, o roteirista Noboru Sugimura escolheu a segunda opção.
Sugimura foi uma figura importantíssima na Capcom, criando, ao lado de Yoshiki Okamoto, a Flagship, uma divisão focada em roteiros dentro da empresa. São de sua autoria as histórias de "Onimusha" e "Resident Evil CODE: Veronica", por exemplo.
No caso de "Dino Crisis", ele consegue ser tão ficção-científica quanto horror de sobrevivência, apesar de ter cunhado uma nova designação, o "panic horror". Na verdade, o termo cunhado por "Resident Evil" não era ainda sinônimo de suas próprias características, como recursos e capacidades limitadas de seus protagonistas, mas ambos compartilham quase tudo.
Saem os zumbis, cerberus e hunters, e entram Velociraptors, Campsognathus, Pteranodonte (que não é um dinossauro, veja você) e, claro, o todo-poderoso Tiranossauro Rex. Esse último, inclusive, responsável por momentos verdadeiramente tensos, de gelar a espinha. Eram absurdos 500 polígonos para dar forma ao dinossauro, algo inimaginável para a época!
Na história do game, Regina, Rick e Gail, agentes da S.O.R.T. (Secret Operation Raid Team), são enviados até Ibis Island para abduzir um cientista tido como morto há anos, e que trabalhava numa arma secreta e perigosíssima. Trata-se de Edward Kirk e sua Third Energy Theory, capaz de abrir portais interdimensionais, substituindo partes da ilha do presente por partes da ilha do passado. E dinossauros vieram junto.
Originalmente, selvas fechadas seriam o cenário principal em "Dino Crisis", o que aconteceu na continuação, mas não no original, que se passa quase inteiramente em laboratórios, com portas automáticas, lasers de defesa e aqueles malditos galpões de carga, onde os quebra-cabeças mais complexos de "Dino Crisis" acontecem.
Inclusive, é total mérito de Mikami ter os dinossauros como principais antagonistas. De acordo com o desenvolvedor, "Jurassic Park: Mundo Perdido" e "Aliens, O Resgate" foram suas principais influências.
Assim como em "Resident Evil", idas e vindas pelos cenários em busca de novos itens, como cartões de acesso, munição e documentos são a coluna dorsal do jogo, de mãos dadas com os confrontos com os dinossauros. Só quem acionou um laser bem na cara de um Velociraptor sentiu na pele o conceito de "panic horror".
Os cenários totalmente tridimensionais, ao contrário dos pré-renderizados de "Resident", dão espaço a câmeras extremamente dinâmicas, acentuando o desespero das sequências de fugas, como o do T-Rex e alguns quick time events bastante rudimentares, com direito a "FIRE" na tela e tudo.
Ainda mais dinossauros
Com o sucesso do jogo original, não demorou para que uma continuação fosse anunciada e lançada. Ainda no primeiro PlayStation, "Dino Crisis 2" chegou em setembro de 2000, mais uma vez concebido e produzido pelo Capcom Production Studio 4, mas sem a direção de Mikami.
Muito curiosamente, foi Shu Takumi quem assumiu a chancela, ninguém menos que o pai de "Phoenix Wright" e "Ghost Trick". Isso, sim, é plot twist da vida real. A produção ficou por conta de outro veterano da Capcom, Hiroyuki Kobayashi, cujos trabalhos incluem a franquia "Sengoku Basara" e, mais recentemente, "Mega Man 11".
"Dino Crisis 2" mantém a premissa do original: a Third Energy Theory, criada por Kirk, é mais uma vez empregada, trazendo criaturas jurássicas para o presente, desta vez em Edward City. A experiente Regina é enviada para resolver a situação, assim como Dylan Morton, membro da T.R.A.T. (mais um acrônimo maravilhoso: Tactical Reconnaissance and Acquisition Team), uma espécie de força especial que fica por trás dos panos.
"Dino Crisis 2" apresenta mudanças brutais em comparação ao original: todo e qualquer aspecto de horror de sobrevivência dá espaço a um jogo focado em ação, em que hordas de dinossauros devem ser eliminadas. A sequência é tão diferente em gameplay, que poderia perfeitamente ser rebatizada, e o mesmo pode ser dito de tudo que veio daí em diante.
Antes de recebermos uma segunda continuação efetiva, aconteceu o spin-off "Dino Stalker", o nome ocidental de "Gun Survivor 3: Dino Crisis", para PlayStation 2 em junho de 2002.
Apesar de não seguir o estilo "shooter on rails" de clássicos como "Virtua Cop" ou "Time Crisis", "Dino Stalker" é ainda mais arcade que seu antecessor. Sobreviver aos ataques dos dinossauros, coletando munição e cura pelo caminho, é o único objetivo do jogo, que não fez um bom serviço em manter a franquia em evidência. Aliás, muita gente sequer associou esse jogo a "Dino Crisis".
"Dino Crisis 3", lançado para Xbox em junho de 2003 e "Dino Crisis: Dungeon in Chaos", de mobile e também de 2003, trataram de enterrar os dinossauros da Capcom de vez.
O primeiro levou a franquia até centenas de anos no futuro (mais precisamente 2548) e as estrelas, mais especificamente até Ozymandias, a nave espacial onde a aventura acontece. Após uma explosão, seus poucos sobreviventes, Patrick e Sonya, precisam confrontar monstruosidades alienígenas na forma de dinossauros, como T-Rex e Velociraptors. "Dino Crisis 3" se voltou ainda mais para a ação desenfreada e com elementos de plataforma - há até um jetpack para auxiliar nos saltos.
O Mundo Perdido
Antes de fechar esse dossiê "Dino Crisis", uma curiosidade: houve dois jogos da série em produção para Game Boy Color, ambos cancelados. Um deles seria semelhante ao que foi visto em "Resident Evil Gaiden", inclusive com o mesmo sistema de batalha.
O estúdio britânico M4 Ltd seria o responsável, e em entrevista ao site NowGamer em 2015 (a matéria encontra-se fora do ar, mas pode ser lida parcialmente no blog Unseen 64, em inglês), diz ter produzido "uma demo bastante impressionante de "Dino Crisis" para GBC". Inclusive, o entrevistado cita "estar no Brasil enquanto os backups estão no Reino Unido".
O outro título para GBC seria algo muito semelhante à versão de "Silent Hill" para o portátil, funcionando como uma espécie de visual novel, com textos e imagens estáticas de fundo. Personagens como Regina e Rick estariam presentes, além de cinco tipos de dinossauros, entre eles T-Rex e Velociraptors.
Assim como tantas outras franquias do passado, "Dino Crisis" continua vivo no coração de fãs. Não há qualquer tipo de informação oficial quanto a uma possível retomada, e este artigo serve para manter a memória dos dinos viva.
A Capcom vive um momento excepcional, tanto com remakes quanto jogos novos, e resgatar "Dino Crisis" nesse momento seria inesquecível. Regina combatendo Velociraptors na RE Engine? Sim, por favor. O quanto antes.
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