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League of Legends: Temporada 2020 começa com recorde de coreanos no Brasil

Os coreanos "Luci" e "Shrimp", campeões brasileiros de LoL pelo Flamengo em 2019 - Divulgação/Riot Games
Os coreanos "Luci" e "Shrimp", campeões brasileiros de LoL pelo Flamengo em 2019
Imagem: Divulgação/Riot Games

Gabriel Oliveira

Colaboração para o START

25/01/2020 04h00

Resumo da notícia

  • São 12 coreanos atualmente inscritos entre a primeira divisão e o torneio de acesso
  • Sucesso do Flamengo em 2019 incentivou outras equipes a investir na "importação"
  • Considerados os melhores do mundo, coreanos são atraídos pela cultura diferente e pelo "atalho" para chegar ao Mundial

A temporada brasileira de "League of Legends" de 2020 começa neste sábado (25) com participação recorde de jogadores e treinadores da Coreia do Sul, país referência nessa modalidade e considerada a meca dos eSports. São 12 coreanos inscritos em seis equipes que disputam o CBLoL, o campeonato de elite, e o Circuito Desafiante, da 2ª divisão.

O número supera o recorde anterior, de 2019, quando seis pro-players e técnicos coreanos participaram da 2ª Etapa por três times.

Além disso, a temporada 2020 é iniciada com a maior quantidade de estrangeiros da história. Contando com os coreanos, há 21 cyber-atletas e treinadores de fora do Brasil inscritos nas duas principais competições de LoL do país. Outros ainda podem ser registrados ao longo dos campeonatos.

Na opinião de membros da comunidade ouvidos pelo START, a maior presença dos orientais é resultado do ótimo desempenho do Flamengo: o campeão brasileiro da última temporada tinha coreanos tanto no time quanto na comissão técnica. A "invasão" dos coreanos também demonstra o desejo de desenvolvimento dos clubes, naquele que será o último ano antes da adoção do modelo de franquias, em 2021. Os estrangeiros também estão mais interessados no cenário competitivo brasileiro.

SKT - Colin Young-Wolff/Riot Games - Colin Young-Wolff/Riot Games
A superioridade coreana em League of Legends teve seu auge com a SKT T1, em 2016: a única equipe tricampeã mundial
Imagem: Colin Young-Wolff/Riot Games

Início da imigração coreana

Os primeiros coreanos a virem para o Brasil foram o caçador Park "Winged" Tae-jin e o meio An "SuNo" Sun-ho, contratados pela Keyd em 2014. O clube conquistou os títulos da Liga Brasileira - Série dos Campeões, correspondente à 1ª Etapa do atual CBLoL, e de outras competições nacionais.

Suno e Winged - Divulgação/Agência X5 - Divulgação/Agência X5
SuNo e Winged, em 2014, foram os primeiros jogadores coreanos a disputar o CBLoL
Imagem: Divulgação/Agência X5

Inspirada na rival, a paiN trouxe Han "Lactea" Gi-hyeon (inicialmente topo e depois atirador) e o suporte Kim "Olleh" Joo-sung para o segundo semestre daquele ano.

Na Final Regional Brasileira, que decidiu o campeão nacional de LoL de 2014, eram quatro coreanos na disputa. Contudo, surpreendentemente, nenhuma das duas equipes que contavam com os jogadores da meca dos eSports alcançou o topo. Clubes com elencos 100% brasileiros chegaram à final: a KaBuM ficou com o título ao derrotar a CNB e-Sports Club.

Em uma declaração antológica à época, o brasileiro Pedro Luiz "LEP" Marcari disse, depois da vitória da KaBuM sobre a Keyd nas semifinais: "Eu fiquei bem feliz com a CNB ganhando também. Isso mostra que coreano não é Deus, como todo mundo acha. Aqui é BR!".

KaBuM - Divulgação/Riot Games - Divulgação/Riot Games
KaBuM: campeã em 2014 com uma escalação 100% brasileira
Imagem: Divulgação/Riot Games

Depois, outros quatro coreanos participaram da 1ª Etapa do CBLoL e do Circuito Desafiante de 2015. Foram os últimos antes de um hiato de dois anos e meio sem pro-players da Coreia do Sul no Brasil.

Eles só voltaram em 2018, quando RED Canids Kalunga, Team One e Flamengo fizeram contratações de coreanos. Na 2ª Etapa da temporada 2019, seis cyber-atletas da Coreia do Sul estiveram em equipes participantes do CBLoL. Esse número era o recorde de presença coreana antes da onda atual chegar ao cenário competitivo brasileiro.

Atual onda sul-coreana

Segundo especialistas e membros dos clubes, o sucesso do Flamengo em 2019 animou as organizações e os jogadores estrangeiros. Com coreanos no elenco e na comissão técnica, o Rubro-Negro chegou à decisão da 1ª Etapa do CBLoL e conquistou o título da 2ª, indo representar o Brasil no Campeonato Mundial da última temporada.

O jogador profissional e analista Caio "Loop" Almeida escreveu sobre isso no Twitter:

"O principal motivo para trazer coreanos é o histórico deles nos eSports e no League of Legends", crava o treinador João Pedro "Dionrray" Barbosa, da paiN, equipe com dois pro-players e um técnico da Coreia do Sul. "Temos muito a aprender sobre noção de jogo e estratégia, e também é uma tentativa de importar um pouco da cultura deles de disciplina, postura e hierarquia".

Ele ressalta, porém, que a diferença de nível entre coreanos e brasileiros não é mais tão alta como em anos anteriores. "Tem que rolar adaptação dos dois lados. O time tem que se esforçar para trabalhar bem junto, não é o abismo que era antigamente".

paiN coreanos - Divulgação/paiN Gaming - Divulgação/paiN Gaming
A paiN Gaming investiu pesado para 2020. Na foto, os coreanos Xero, Key e Seonghwan entre os brasileiros Dionrray, Kami e brTT
Imagem: Divulgação/paiN Gaming

O treinador coreano da paiN, Sin "Xero" Hyeok, parece ter essa consciência, segundo declaração ao START. "Temos que chegar com a mentalidade correta. Nunca achar que seremos heróis ou salvadores, mas sim transmitir nossa experiência e extrair o máximo de conhecimento dos brasileiros, que já conhecem bem o LoL da região".

Xero conta que aceitou o convite de trabalhar no Brasil motivado pelo desafio. "Ir para uma região totalmente nova, com estilo de jogo e cultura muitos diferentes da que estou acostumado é um desafio que me atraiu. Farei de tudo para alcançar os objetivos nesta nova jornada, ajudando não só a paiN a conquistar títulos, mas também no desenvolvimento do cenário brasileiro".

Mesmo objetivo tem o topo Lee "Parang" Sang-won, contratado pela KaBuM. "Quando eu estava em busca de um time para jogar, a organização entrou em contato comigo. Fiquei muito interessado em participar do CBLoL, e a KaBuM é uma ótima equipe", justifica o pro-player coreano em contato com o START.

Eu já joguei em outras regiões, morando na China, na Europa e no Chile. Portanto, a adaptação, para mim, tem sido tranquila. A convivência e a comida, com certeza, são pontos positivos. Já o clima no Brasil é bem diferente, bem quente, mas estou me acostumando
Lee "Parang" Sang-won, topo da KaBuM

Quem são os coreanos no Brasil

- CBLoL

WooFe - Flamengo
Luci - Flamengo
Parang - KaBuM
Wiz - KaBuM
SeongHwan - paiN Gaming
key - paiN Gaming
Xero (treinador) - paiN Gaming
Balkhan - Redemption
Patrick - Redemption

- Circuito Desafiante

Sky - RED Canids Kalunga
JackPoT - Santos e-Sports
Rainbow - Santos e-Sports

Os demais estrangeiros no Brasil

- CBLoL
ScrappyDoo - técnico (Espanha) - FURIA Uppercut
Alternative (Portugal) - FURIA Uppercut
Tianci (China) - INTZ
Grell (México) - Vivo Keyd
Aloned (Chile) - PRG Esports

- Circuito Desafiante
Buggax (Uruguai) - Falkol e-Sports
Tierwulf (Chile) - Falkol e-Sports
Raven - técnico (Portugal) - Havan Liberty Gaming
Ryuzaki (Sérvia) - Team One

Como são as negociações

Wizer - Divulgação/Riot Games - Divulgação/Riot Games
O jogador Eui-Seok “Wizer” Choi jogou o CBLoL pela KaBuM em 2019
Imagem: Divulgação/Riot Games

Quando os clubes brasileiros de eSports vão ao mercado em busca de coreanos, normalmente agentes da Coreia do Sul entram em cena para intermediar o negócio. Eles podem tanto apresentar indicações de pro-players que representam como ir atrás dos desejados pelas organizações.

O ex-treinador Gabriel "MiT" Souza já trabalhou na contratação de sete coreanos que vieram ao Brasil, inclusive os três importados pela paiN para a temporada 2020.

Ele defende que os clubes devem pensar em três coisas para definirem se irão ao mercado da Coreia do Sul e escolherem os jogadores: se o pro-player pretendido é melhor do que as opções do Brasil; se compensa pagar salário em dólar para o coreano em vez de investir em um cyber-atleta brasileiro de ponta; e a capacidade de adaptação da equipe e do contratado.

O nível e o estilo de jogo, a posição, a experiência, o salário pedido e o domínio do inglês são levados em conta na escolha das melhores opções para importação.

"Os jogadores ouvem primeiro propostas da Coreia e da China e depois olham para os outros polos. O Brasil tem uma coisa a mais, que é o caminho mais fácil para o Campeonato Mundial do que na América do Norte e na Europa. Sempre colocamos isso na mesa", explica MiT.

O empresário coreano Deok-jin "JoyLuck" Yun  - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
O empresário Deok-jin "JoyLuck" Yun afirma que o Brasil tem sido levado a sério pelos jogadores coreanos
Imagem: Arquivo Pessoal
O empresário coreano Deok-jin "JoyLuck" Yun destaca que o cenário brasileiro conquistou a confiança dos jogadores da Coreia do Sul e que, por isso, tem sido mais procurado. "Pensava-se que o Brasil não era seguro, mas jogadores coreanos tiveram experiências na liga brasileira e foram bem-sucedidos. Isso faz os pro-players daqui acharem que o campeonato do Brasil não é ruim".

Ele diz que os coreanos, ao serem procurados por clubes brasileiros, se interessam em saber das nossas cultura e alimentação e querem se certificar de que terão companheiros de equipe "com pensamento profissional e que joguem bastante".

Outro agente coreano, Kim Tae "Positive" Hwan, conta que a negociação começa com o alinhamento de necessidades e expectativas das duas partes. Uma vez que há acordo, os detalhes da contratação são discutidos. Isso pode levar de semanas a meses.

"Não importa quão popular seja um jogador, eu acredito que a capacidade do profissional de se ajustar e trazer o melhor de si em um determinado ambiente é o essencial", comenta Positive.

Ele ressalta que a paixão dos brasileiros pelos eSports chama a atenção dos coreanos. "O campeonato do Brasil é conhecido por ser competitivo e o público, apaixonado. O LoL tem muitos torcedores e está crescendo em popularidade. É por isso que as competições brasileiras estão atraindo mais e mais estrangeiros".

Flamengo Mundial - Wojciech Wandzel/Riot Games - Wojciech Wandzel/Riot Games
O fato de o Brasil ter vaga no Mundial também atrai jogadores estrangeiros, que normalmente teriam uma competição mais acirrada em seus países
Imagem: Wojciech Wandzel/Riot Games

Intercâmbio

Para a analista de League of Legends Letícia Motta, a importação de coreanos "é a melhor maneira de evoluir, dada a conjuntura do cenário atual". "Claro que eu quero ver jogadores brasileiros tendo o protagonismo e o espaço nos nossos campeonatos, mas, ao mesmo tempo, é difícil isso acontecer se não procuramos uma maneira de evoluir em macro e micro play. Trazer os jogadores da Coreia é buscar essa evolução de uma maneira mais acelerada".

Ela pondera, contudo, que só a vinda dos estrangeiros não é garantia de melhoria. Eles devem se entrosar bem com os companheiros e serem corretamente utilizados pelas comissões técnicas para que os brasileiros sejam positivamente impactados.

Letícia Motta - Saymon Sampaio/BBL - Saymon Sampaio/BBL
A analista Letícia Motta vê os benefícios de importar jogadores, mas lembra que a receita não é garantia de sucesso
Imagem: Saymon Sampaio/BBL

"Temos que pensar que tipo de impacto as organizações querem ter com isso, né... Só títulos de campeonatos brasileiros? Dado o nosso desempenho internacional até hoje, nós temos que pensar em algo que traga bons resultados como um todo, que melhore o nível técnico mesmo", analisa Letícia.

O diretor de eSports da Riot Games no Brasil, Carlos Antunes, exalta a inscrição recorde não só de coreanos, mas também de estrangeiros nos campeonatos oficiais.

"Nossa avaliação é muito positiva, pois cada vez mais times viverão a experiência do intercâmbio entre jogadores brasileiros e estrangeiros. Isso, naturalmente, provocará uma evolução nos jogos e se desdobrará em aprendizado e na evolução das estratégias e das dinâmicas de preparação", comenta Carlos.

Ele defende que a presença de cyber-atletas vindos de outros cenários vai incentivar os brasileiros a saírem da zona de conforto, aproximar as equipes nacionais do estilo de jogo do exterior e melhorar a formação de novos jogadores.

"Isso ajuda a elevar a barra de expectativa e a motivação dos brasileiros, uma vez que terão desafios cada vez maiores na liga local, o que ajuda a formar jogadores cada vez mais completos e melhores", finaliza o representante da Riot brasileira.

O técnico da KaBuM, Guilherme "Kake" Morais, não acredita que os times com coreanos saiam na frente dos demais e sejam, necessariamente, os favoritos. "Não temos como saber isso. O que conta é conseguirmos aplicar o que conversarmos".

Com o início do CBLoL e do Circuito Desafiante, saberemos o que os coreanos podem trazer de bom e como impactarão suas equipes. Mas uma coisa é certa: o Brasil entrou de vez na rota do mercado internacional.

Calendário League of Legends 2020

Torcida LoL - Riot Games/Divulgação - Riot Games/Divulgação
Torcida na final do CBLoL 2019, vencida pelo Flamengo
Imagem: Riot Games/Divulgação

O primeiro CBLoL de 2020 começa neste dia 25, com os jogos da fase de classificação sendo disputados aos sábados e domingos, durante 11 semanas, sempre a partir das 13 horas (horário de Brasília), no estúdio da Riot Games Brasil, em São Paulo. Haverá quatro confrontos "MD1" (melhor-de-um) por dia, em três turnos, de modo que os times se enfrentarão três vezes.

Os quatro primeiros colocados na fase de pontos disputarão as semifinais nos dias 25 e 26 de abril. A final está marcada para 2 de maio, em local ainda não anunciado.

São oito equipes participantes no CBLoL, das quais quatro contam com coreanos: Flamengo, campeão brasileiro de 2019, paiN Gaming, KaBuM e Redemption. Já as demais concorrentes são: FURIA Uppercut, INTZ, Vivo Keyd e PRG Esports.

No Circuito Desafiante, torneio de acesso à 1ª divisão, a largada está marcada para 3 de fevereiro. Os confrontos acontecerão às segundas e terças-feiras, a partir de 21 horas (horário de Brasília). Na primeira fase, com três turnos e que durará 11 semanas, as séries serão MD1.

As semifinais estão marcadas para os dias 6 e 7 de abril, com os quatro primeiros colocados da fase inicial. A decisão irá rolar em 12 de abril, em local ainda não informado.

Seis equipes estarão na disputa, sendo que duas delas têm pro-players da Coreia do Sul no plantel: RED Canids Kalunga e Santos e-Sports. O campeonato contará ainda com Team One, Havan Liberty Gaming, Falkol e-Sports e Intergalaxy Tigers Gaming.

Os jogos, tanto do CBLoL quanto do Circuito Desafiante, são transmitidos pela internet em canais oficiais da Riot Games.

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