Facebook rescinde contratos, e streamers anunciam retorno à Twitch
Resumo da notícia
- Plataforma de streaming do Facebook surgiu em 2018 e atraiu streamers dos serviços concorrentes
- Cortes em janeiro, porém, surpreenderam parte dos contratados, que reclamam da postura da empresa
- Gerente do Facebook Gaming diz que criadores precisam ter "uma comunidade forte", e que a empresa continuará investindo no País
- Nas redes sociais, streamers começam a anunciar retorno à Twitch, da Amazon
O Facebook rescindiu contratos e reduziu remunerações de criadores de conteúdo brasileiros contratados para fazer transmissões ao vivo de jogos eletrônicos na plataforma de streaming da empresa. Os jogadores sentem-se prejudicados com a decisão, que ocorre após cobranças por melhorias na audiência, porque migraram para o Facebook Gaming com a promessa de pelo menos 1 ano de contrato e acabaram envolvidos no corte, sob a justificativa de baixo número de espectadores nas lives.
O Facebook Gaming surgiu em 2018 para rivalizar com outras plataformas de streaming de games, como a Twitch (da Amazon), YouTube (Google) e Mixer (Microsoft). Para isso, investiu para atrair os streamers da concorrência, apostando em contratos de altas remunerações como um dos atrativos.
Nos últimos dias, o START conversou com oito streamers do Facebook Gaming que foram afetados. As histórias convergem em um mesmo fim: cortes nos contratos. A justificativa ouvida por eles é a baixa audiência nas transmissões, o que, segundo afirmam e conforme o START verificou em dois casos, não era uma condição do contrato. Os nomes das fontes foram mantidos em sigilo nesta reportagem.
Reviravolta desagradável
Os criadores de conteúdo sentem-se prejudicados com a decisão, que ocorre após cobranças por melhorias na audiência. Os streamers migraram para o Facebook Gaming com a promessa de pelo menos 1 ano de contrato e acabaram envolvidos no corte, sob a justificativa de baixo número de espectadores nas lives.
Muitos jogadores, que transmitem partidas dos mais variados games na internet, migraram para o Facebook Gaming desde 2018, conquistados pelos contratos que davam a garantia de um rendimento fixo expressivo por pelo menos 12 meses.
Entretanto, para surpresa e revolta dos contratados, a empresa comunicou, em janeiro, a rescisão dos acordos de uma parte dos profissionais e propôs a redução, pela metade, da remuneração de outros. Existem casos de streamers que estavam havia menos de três meses na plataforma.
Regras do jogo
Ocorre que os contratos não preveem número mínimo de horas assistidas, ou seja: não estipulam a audiência que as streams devem atingir. Os documentos falam de horas transmitidas - quantidade de tempo em que o profissional permanece online. O START teve acesso a dois contratos.
"Nossa performance era baseada em horas realizadas, nossa obrigação era cumprir o número de horas do mês. O pessoal saiu de sua plataforma, normalmente a Twitch, para ir para o Facebook com a garantia de que teria uma condição de trabalho pelo menos por um tempo. Mas a empresa não honrou nem 1 ano de contrato, sendo que horas visualizadas não eram parte do combinado", reclama um profissional que se considera prejudicado após ter o contrato rescindido.
Ele conta que, desde meados do segundo semestre de 2019, os streamers vinham sendo pressionados pelo Facebook Gaming a melhorar os índices de audiência, sob a ameaça de terem os contratos cancelados. Foram diversas mensagens em grupos na rede social e no WhatsApp. "Foi uma pressão danada".
Nossa performance era baseada em horas realizadas, nossa obrigação era cumprir o número de horas do mês. O pessoal saiu de sua plataforma, normalmente a Twitch, para ir para o Facebook com a garantia de que teria uma condição de trabalho pelo menos por um tempo
Streamer que teve contrato rescindido com o Facebook Gaming
Contato entre Facebook e streamers
Tanto as cobranças por maior audiência quanto os comunicados sobre os contratos foram realizados pela agência TFTW Gaming Influencers, responsável por intermediar os negócios entre o Facebook e os criadores de conteúdo no Brasil. De acordo com os entrevistados pelo START, a TFTW fica com 20% das remunerações pagas aos streamers.
O dono da agência é Arthur "Paada" Zarzur, proprietário do clube de eSports paiN Gaming, um dos mais tradicionais do País, que conta com equipes profissionais competindo em diversas modalidades. Outro detalhe importante é que, nos contratos, a empresa indicada como representante dos profissionais é a paiN, e não a TFTW. Além disso, os streamers recebem os pagamentos diretamente do clube.
Enquanto parte dos entrevistados pelo START não sabe o que motivou a decisão drástica sobre os streamers, outra parcela acredita que houve contratações acima do que o Facebook Gaming tinha de verba para bancar, ainda mais com as lives não dando os resultados esperados.
A plataforma contaria com mais de 300 criadores de conteúdo contratados no Brasil, segundo informação que consta na página de um dos funcionários da TFTW no LinkedIn. O Facebook não informa a quantidade oficialmente.
"Tinha uma galera ganhando grana pesada, mas a performance de número estava baixa. Só que teve uns streamers que entraram tipo há dois meses e foram cortados", comenta outro profissional. Ele recebeu a oferta de reduzir em 50% seus rendimentos e optou por sair.
Migração de audiência
Os criadores de conteúdo dizem que é difícil transferir o público quando há mudança de plataforma de streaming. Um deles observa que é justamente por isso que os contratos são de horas transmitidas, e não visualizadas.
"Quando assinamos o contrato, deixaram bem claro que o Facebook não se importava com performance e que não iriam exigir resultados. É claro que, se exigissem, ninguém iria aceitar. Todo mundo que saiu da Twitch sabia que estava trocando [a quantidade de] espectadores por uma grana absurda. É impossível migrar todo o seu público", aponta outro profissional cortado e que se sentiu pressionado pelas constantes cobranças da TFTW.
Todo mundo que saiu da Twitch sabia que estava trocando [a quantidade de] espectadores por uma grana absurda. É impossível migrar todo o seu público
Streamer que migrou da Twitch para o Facebook
Os streamers também fazem críticas à plataforma do Facebook Gaming por conta de problemas técnicos recorrentes e de layout e funcionalidades pouco práticos aos usuários. Além disso, segundo os profissionais, não é sempre que o site notifica os seguidores quando uma transmissão começa, o que influencia diretamente na audiência.
"Vários viewers meus reclamam que às vezes [a plataforma] não avisa", relata outro criador de conteúdo.
Os contratos assinados preveem possibilidade de rescisão por parte do Facebook a qualquer tempo, independentemente da motivação, mas os streamers não esperavam um corte tão drástico e abrangente.
Até porque, segundo um dos profissionais ouvidos pelo START, a TFTW havia alegado que a cláusula sobre rescisão era "por segurança", destinada a casos extremos, como por exemplo crimes cometidos ao vivo. "Foi tudo inesperado e traiçoeiro", reclama o streamer. Os contratos exigem exclusividade, isto é, obrigam os contratados a só fazer transmissões no Facebook Gaming.
É um misto de dor e prazer. É um alívio por sair daquela situação de se sentir no fio da navalha o tempo todo e é uma tristeza por deixar de ganhar aquele dinheiro absurdo
Streamer que teve o contrato rescindido e era pressionado por audiência
Despedida
Nas redes sociais, diversos criadores de conteúdo começaram a anunciar, a partir do primeiro dia de fevereiro, a saída do Facebook e o retorno para a Twitch.
O que o Facebook Gaming diz
O gerente de parcerias do Facebook Gaming, William Pimenta, declarou que atualizações e encerramentos de contratos podem ocorrer e disse, sem apresentar números, que a maioria dos parceiros no Brasil não foi afetada pelos cortes realizados em janeiro.
"Não queremos minimizar o impacto que essas alterações podem ter sobre um criador individual e trabalhamos muito para ajudar o maior número possível de gamers a construir uma comunidade próspera no Facebook Gaming. Porém, às vezes, criadores podem ter dificuldades em construir essa comunidade. Frequentemente entramos em contato para ajudá-los nesse processo e, em alguns casos, podemos vir a atualizar o acordo ou terminá-lo", justificou William, em manifestação enviada por e-mail.
Ele sustentou que a empresa continuará investindo no Brasil, com a contratação de mais streamers e a expansão da equipe que trabalha com esses profissionais.
Não queremos minimizar o impacto que essas alterações podem ter sobre um criador individual e trabalhamos muito para ajudar o maior número possível de gamers a construir uma comunidade próspera no Facebook Gaming
William Pimenta, gerente de parcerias do Facebook Gaming
Sobre a audiência como critério para os cortes, o gerente do Facebook Gaming argumentou que "a saúde" dos programas é medida pelas comunidades construídas pelos criadores de conteúdo. "Ter uma comunidade forte significa ter seguidores comprometidos e engajados que voltam para assistir ao conteúdo de um criador. Métricas como o tempo de visualização são um dos muitos indicadores na construção de uma comunidade engajada".
William negou que a TFTW tenha contratado mais profissionais do que o Facebook Gaming poderia bancar e disse que as mensagens de cobrança enviadas aos streamers são parte do programa. "Fazemos análises constantes e colaboramos com nossos criadores parceiros para compartilhar com eles melhores práticas, ouvir feedback, ajudá-los a construir suas comunidades, alcançar novas audiências e crescer".
Quanto às críticas à plataforma, o representante do Facebook disse que a empresa está atenta ao feedback dos profissionais, pois "há sempre melhorias" que podem ser implementadas.
Oportunidade de mercado
Em nota, a paiN Gaming disse que faz parte do mesmo grupo de empresas da agência TFTW, "porém com operações independentes". O clube disse que começou a dar suporte aos criadores de conteúdo do Facebook no fim de 2018 e que a TFTW "nasceu da oportunidade existente no mercado de marketing de influenciadores".
"O nome da paiN ainda está presente no contrato, mas estamos em contato com o Facebook para refletir essa mudança para a TFTW", explicou a organização.
Também procurada, a TFTW não respondeu aos questionamentos do START, apesar de ter tido quatro dias para enviar os esclarecimentos solicitados até a conclusão desta reportagem.
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