Skatemasta Tcheco: um papo zoeiro sobre o personagem dos games 100% BR
Resumo da notícia
- Depois de Tcheco No Castelo do Sarney (2015), é a vez de Skatemasta chegar ao Steam (PC)
- Personagem criado por Marcelo Barbosa visita cenários como Parque da Sônica e Bingo Clandestino
- "Tentei até colocar o Dollynho e o Mineirinho no jogo, mas não tive nenhuma resposta dos donos dos direitos desses personagens", diz Marcelo
Misture a zoeira de cada dia da internet e memórias de infância e você terá algo muito próximo a Tcheco. O personagem é criação do game designer de Porto Alegre (RS) Marcelo Barbosa e já protagonizou dois jogos: Tcheco No Castelo do Sarney (2015) e, agora em 2020, Skatemasta Tcheco.
O jogo chegou ao Steam no final de janeiro prometendo cenários como "Litoral Gaúcho, Parque da Sônica e Chegada do Papai Noel". O START pegou o seu skate e foi atrás do criador de Tcheco para conhecer os bastidores desse personagem 100% brasileiro.
A concepção - a gênese - de Tcheco data da adolescência de um jovem Marcelo, em 1994, "desenhando na aula em vez de prestar atenção nos professores", nas suas palavras.
O personagem Tcheco é a caricatura de um grande amigo de infância meu, chamado Diego. Um outro amigo tinha dificuldade em pronunciar seu nome corretamente e sempre falava 'Tcheco'
Marcelo Barbosa, criador de Tcheco
Já naquela época, Marcelo queria transformar sua criação em videogame. Só havia um detalhe em seu caminho: ele não tinha a menor noção de como fazer isso. "Eu brinquei de modificar ROMs (longe de ser um especialista nisso!) por muitos anos, mas minha vontade mesmo era a de fazer um jogo do zero", comenta Marcelo.
A vontade de Tcheco em ver a luz do dia era tão grande, que o destino colocou um certo programa de desenvolvimento de jogos no caminho de Marcelo. "Então eu ouvi falar no Scirra Construct e resolvi criar coragem para aprender a fazer jogos".
E não faltou coragem, tanto que Tcheco chega à sua segunda aventura cultivando uma comunidade de fãs. Confira a entrevista completa com o desenvolvedor:
START: Tcheco é Brasil até o talo e gostaria de saber: como acontece a curadoria da zoeira para Tcheco, como o trocadilho "Jequitcheco" que aparece no último jogo?
Marcelo: Tenho a mania de anotar as besteiras que passam pela minha cabeça e que acho que podem ser aproveitadas no Tcheco. Tenho um arquivo de texto gigantesco com essas ideias todas misturadas. Aí às vezes eu o abro, releio e se eu ainda acho graça de alguma piada, dou um jeito de encaixar nos jogos ou em algum vídeo.
START: Quando joguei o primeiro Tcheco, percebi algumas inspirações em Chip 'n Dale (Tico e Teco), de Nintendinho. Estou correto? Como é balancear pura nostalgia e a criação de algo novo, próprio?
Marcelo: Até não foi uma inspiração direta, mas eu acabo misturando lembranças de tudo que joguei nesse tempo (e joguei muito o primeiro 'Tico & Teco" na época do Nintendo). Chip N' Dale foi um dos primeiros jogos em que notei um aumento perceptível, mas justo, de dificuldade. Isso certamente foi algo que tentei implementar no Skatemasta. Também admirava muito no Tico & Teco os controles bem responsivos, mas fáceis de aprender.
Essa preocupação de "o que deve ser novo versus o que deve ser velho" é sempre muito divertida para mim e tomou grande parte dos planos iniciais dos jogos do Tcheco. É algo que muda de projeto para projeto, não tem uma fórmula que procuro seguir. O primeiro jogo foi planejado como um título simples daquela época do fim dos anos 1980. Já o novo é um pouco mais sofisticado em alguns aspectos, mas também procurei dar apenas dois botões de comandos e uma duração curta (aproximadamente 30 minutos).
START: Em Skatemasta, Tcheco conta com a ajuda de heróis de vários jogos indies brasileiros. Como foi essa parceria com seus criadores? Tem alguma história inusitada por trás disso?
Marcelo: Isso é uma referência direta ao jogo Bart vs. the Space Mutants (1991), em que você juntava letras e os Simpsons vinham ajudar o Bart a matar o chefão de cada fase.
O primeiro personagem liberado para mim foi a Mavra, do Blazing Chrome (o Danilo Dias é um cara muito camarada e não é de hoje que me ajuda com esses crossovers). Não havia regras muito claras sobre quem poderia aparecer. A única condição é que eu queria personagens que já tinham aparecido em outros jogos antes. Aí, quando conversava com o pessoal que desenvolve, aproveitava e perguntava se topavam liberar seus personagens para o Tcheco 2.
Praticamente todo mundo autorizou logo de cara. Tentei até colocar o Dollynho e o Mineirinho no jogo, mas não tive nenhuma resposta dos donos dos direitos desses personagens.
Tentei até colocar o Dollynho e o Mineirinho no jogo, mas não tive nenhuma resposta dos donos dos direitos desses personagens
Skatemasta Tcheco
START: Bingo Clandestino, Litoral Gaúcho e Parque da Sônica são nomes de algumas das fases de Skatemasta. Me parece muito que você transforma momentos de sua vida em jogo. É só impressão?
Marcelo: Minha preocupação não é exatamente a de citar momentos da minha vida. Procuro remeter o jogador a situações que lhes sejam familiares, mas que ao mesmo tempo pareçam esquisitas por estarem inseridas em um jogo de videogame. A grande maioria de quem compra os jogos do Tcheco é do Brasil, e acho importante que o jogador "se veja" neles, da mesma forma que os jogos americanos e japoneses faziam isso com seu público.
START: A tela de Game Over mostra a frase: "nasceu nenê, morreu nenê". De onde vem isso?
Marcelo: Essa é uma das bobagens que estavam anotadas nesse meu arquivo de besteiras que mencionei antes. Nem lembro quando ou como escrevi isso, mas achei bem adequado (e bobo o suficiente) para a tela de Game Over quando reli.
START: Qual é seu chefão preferido no jogo?
Marcelo: Chefes são uma parte sempre difícil, porque tento muito pensar em outros modos de se concluir uma fase sem necessariamente enfrentar um chefão (mas ainda não foi dessa vez que descobri como fazer isso, hehe). E também sou péssimo para definir meus favoritos em qualquer coisa, porém fiquei positivamente surpreso com o Pastor Pilão (chefe do Bingo Clandestino). Tinha medo que não fosse dar muito certo, mas a animação dele girando ficou legal e também gostei de ele sair voando como se fosse um helicóptero.
Os amigos de outros jogos ali presentes para mim representam a ajuda que tive (e sigo tendo) do pessoal envolvido nessa área
Marcelo Barbosa, criador de Tcheco
START: Entre Castelo do Sarney e Skatemasta, quais foram as lições aprendidas? Como evoluir a franquia Tcheco para uma (inevitável, espero) sequência?
Marcelo: As lições que confirmei foram aquelas relativas a manter seu projeto simples e pequeno - porque mesmo um jogo rápido vai demorar alguns meses (ou anos!) para ser feito. O meu plano para o Tcheco é que ele estrele jogos muito diferentes - e só daqui a muitos anos pensar em fazer sequências do Castelo do Sarney ou do Skatemasta.
START: Estava assistindo Irmão do Jorel esses dias e pensei: por que não um desenho do Tcheco? Há planos de tornar o Tcheco um produto multimidiático?
Marcelo: Na verdade houve um desenho bem tosco do Tcheco no (já distante) ano de 1999. Passou por uns meses no Canal Comunitário de Porto Alegre. Por mais simples que fosse, tenho a impressão de que foi o primeiro seriado animado feito para TV no Brasil. É um projeto que eu adoraria retomar e já tenho muitas histórias criadas. Seria "só" questão de me organizar para tirar essa segunda temporada do papel.
START: Fiquei sabendo que uma skin do Chorão, do Charlie Brown Jr., tem sido muito requisitada internet afora. Quais as chances?
Marcelo: Essa é a primeira vez que leio sobre isso, hehe. Tenho vontade de fazer mais uma ou outra roupa pro Tcheco usar, mas teria que ser algo adequado às fases em que ele ainda está com a roupa padrão.
START: Qual sua opinião sobre a cena de desenvolvimento de jogos no Brasil hoje? O que pode ser feito para melhorar o cenário, para torná-lo um ambiente mais próspero?
Marcelo: Esse mercado é muito difícil e me parece que a união dos desenvolvedores é fundamental para todo mundo aparecer e conseguir ter seu espaço. No Skatemasta isso nem é uma metáfora sutil, é escancarado mesmo: Os amigos de outros jogos ali presentes para mim representam a ajuda que tive (e sigo tendo) do pessoal envolvido nessa área.
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