Ainda deve ser surpreendente para muitos fãs a existência de uma série de Castlevania como obra original Netflix. A animação nasceu tímida em julho de 2017, com apenas quatro episódios, mas angariou atenção, em especial de quem nunca sequer havia ouvido falar sobre os games, e mostrou potencial para se desenvolver dentro de si mesma.
Só que o que nasceu com um potencial acabou decepcionando, principalmente para aqueles que enfrentam Drácula nos mundos virtuais há tempos. A estreia da terceira temporada, agora em março de 2020, não mudou em nada essa perspectiva. Como a animação chegou a esse ponto?
Se afastando dos jogos
A história da ascensão do último dos Belmont, Trevor, sua parceria com a Oradora Sypha Belnades e o anti-Drácula, filho do próprio Rei dos Vampiros, Alucard, fugiu de suas origens em Castlevania III: Dracula's Curse e Curse of Darkness para tripudiar entre algo visualmente apelativo, violento, com nuances de romance gótico, porém empesteado de maneirismos infantiloides dignos de quadrinhos noventistas de baixa qualidade.
O roteirista, Warren Ellis, experiente no ramo dos quadrinhos, segue indeciso no que realmente quer: algo mais maduro ou voltado ao público adolescente? A terceira temporada serve de atestado para essa indecisão.
No total, a animação da Netflix já passou por quatro arcos distintos, caminhando em paralelo. De todos eles, a trama de Alucard é, de longe, a mais desperdiçada e enfadonha, e acompanha o meio-vampiro numa rotina solitária.
A nova temporada também pega ainda menos elementos emprestados dos jogos que os episódios anteriores: é um Minotauro aqui, um Malachi aspirante a Cthulhu ali, e nem mesmo faz do vasto catálogo de composições da série nos games, preferindo músicas originais e genéricas.
O roteirista, Warren Ellis, experiente no ramo dos quadrinhos, segue indeciso no que realmente quer: algo mais maduro ou voltado ao público adolescente? A terceira temporada serve de atestado para essa indecisão.
Foi vibrante quando Bloody Tears, de Kenichi Matsubarauma e uma das faixas mais populares da franquia, acompanhou a invasão de Trevor, Sypha e Alucard ao castelo de Drácula na temporada passada, por exemplo. Não há momentos como esse dessa vez.
O destaque vai para a aparição de Saint Germain, o viajante falastrão de Curse of Darkness. Ter o personagem do jogo em mente, porém, é criar um nó quanto a suas intenções e personalidade. Seria mais inteligente criar algo original.
Enquanto a primeira temporada fez questão de abraçar Curse of Darkness em inúmeros pontos, dali em diante, é saudável sequer esboçar qualquer outra iteração a comparativos, enquanto muitos dos episódios se arrastam em interesse. Pensar no potencial desperdiçado de Alucard nessa terceira temporada beira o deprimente.
Potencial desperdiçado
Apesar de todas as problemáticas que há na segunda temporada, da relação juvenil e irritante entre Alucard e Trevor, até personagens originais detestáveis, como Godbrand, ainda tínhamos Drácula.
Deprimido com a morte da esposa, cansado com o peso de séculos de vida nas costas, sua mera presença conotava medo. Carmilla despontou como grande potencial de antagonismo, mas se tornou totalmente dispensável na terceira temporada, cujo foco de vilania passa para Prior Sala, seus monges loucos e planos frankensteinianos.
A terceira temporada de Castlevania chega tímida, insegura de si enquanto tenta criar algo seu, um bocado mais distante de seu objeto de inspiração. É algo inofensivo, diria, e funciona como diversão descompromissada, especialmente para quem não traz qualquer tipo de relação com algum Belmont.
Adi Shankar, o produtor executivo metido a rockstar, já está envolvido em outras duas séries animadas baseadas em videogame, e também em parceria com a Netflix: Devil May Cry e Assassin's Creed.
Ainda assim, é possível que tenhamos uma quarta, afinal, sai bem mais em conta animação ao live action. Só a empolgação que beira o inexistente.
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