"Ajuda o maluco tá doente".
Em tempos de mais um BBB, é relembrando dessa reles formação de palavras, proferida assim mesmo pelo ex-BBB Kleber Bambam, ausente de pontuação, em ambiente de puro terror, intercalada com eventuais gritos guturais, que busco tradução para a jornada de poder de Doom Eternal.
É que a célebre frase do imaginário memístico nacional, e seu rico contexto registrado em títulos que vão do direto "Bambam enlouquecendo no treino com Felipe Franco" ao enigmático "Trapézio descendente voltou (vídeo original)", reproduz o clima de força bruta pura, insanidade e resiliência ("aqui nóis constrói fibra") que me acompanhou durante o tempo com a sequência de Doom, reboot de 2016 do jogo que sedimentou os FPS.
Afinal, em Doom Eternal há um maluco (o Slayer, nosso protagonista), que está doente (de ódio contra o inferno e as criaturas que servem o tinhoso) e precisa de ajuda (para extirpar e dilacerar o que pintar pela frente).
E isso aqui não é um treino de academia, mas viver um protagonista de videogame truculento e surtado como Kleber Bambam em sua maior obra também libera uma baita dose de dopamina. Doom Eternal derruba todas as árvores do Ibirapuera e, surpreendentemente, é uma evolução agressiva do seu predecessor —agora carinhosamente apelidado de Baby Doom.
Doom Eternal é insano, profano e faz você sentir que seu coração pode explodir a qualquer instante. É um jogo que te faz parar de respirar, mas só porque na tela, com a ajuda do traje do Slayer, você é capaz de atirar, explodir e executar com uma agilidade que até Deus duvida.
Tá saindo da jaula o monstro
Assim como a aventura da nossa dupla de "boribilders" pelos trapézios descendentes do corpo humano, a trama de Doom Eternal é essencialmente movida pela fúria em estado primitivo. O exército infernal invadiu a Terra, o Slayer não curtiu e vai resolver a situação na base do esculacho.
Mas vale destacar que a id Software fez uma investida inédita na construção de uma espécie de Doomverso, detalhando por meio de colecionáveis quem é quem no rolê, os motivos de tudo isso estar acontecendo e até criando uma história de origem pro seu herói. (É como se o Toguro e a boneca Maria Eugênia, parças de Bambam, ganhassem códices que dissertassem sobre sua relação com os poderes envolvidos).
A novidade não é leviana e coloca um tempero num enredo que historicamente costuma ser servido cru. E o esforço de ler tudo até que vale a pena.
O novo Doom revela uma interessante disputa de forças muito maior e mais antiga do que a prevista no jogo de 2016, com direito a explicações convincentes e o drama de um pai que tragicamente perde o filho pros demônios. Esses documentos são quase tão interessantes quanto aqueles escondidos no prédio da FBC em Control.
Mas calma, o jogo ainda é focado em meter bala. Para saber mais de historinha, o destino é o menu de pausa.
Doom Eternal também tenta explorar narrativamente suas cutscenes, enquadrando e revelando o Slayer e seu olhar permanente de dissabor com a vida. São momentos mais pontuais do que frequentes, mas sempre abarrotados de poses com uma aura meio He-Man, meio Manowar, que conferem ao silencioso herói um status divino de força —mesmo que com um toque kitsch proposital.
Afinal, é meio tosco o Bambam rasgar a regata num vídeo depois de puxar um baita ferro. Mas ao mesmo tempo você olha e pensa "uou, calma aí campeão, tu é brabo, tamo junto, tá precisando de alguma coisa kkk?"
Fato é que essas decisões narrativas trabalham para ressaltar a condição sobre-humana do Slayer e sua habilidade em destroçar demônios de todas as formas e tamanhos e transformá-los em pilhas de carne.
Hora do show
Desde que saiu, o Doom de 2016 é considerado por crítica e público um dos melhores, se não o melhor, FPS para um jogador das últimas décadas. E é por isso que é estarrecedor ver como Eternal evolui em todos os quesitos.
Eu terminei o jogo recentemente, em julho de 2019, mas precisei me reprogramar para aguentar o tranco do ritmo muito, mas muito mais acelerado de Eternal. E da quantidade muito, mas muito maior de inimigos.
É que Doom Eternal mostra uma sinergia absurda entre as habilidades do Slayer e as características de cada monstro, o que acaba te deixando em um flow permanente durante os combates —sensação rebatizada apropriadamente neste texto de BIRL.
Você serra demônio, coleta munição, atira de sniper, destrói a torreta da aranha, BIRL BIRL, lança granada de gelo no grupo de minions, taca fogo no grupo de minions, pega armadura, pula pro outro lado da arena usando uns postes, BIRL BIRL, trava a mira do foguete no demônio cobrinha, saca a metralhadora giratória, metralha girando o maldito do Barão do Inferno...
Parte do BIRL vem das novas mecânicas, como o Cuspidor de Chamas, que faz os inimigos droparem armadura. O Soco Sangrento, que deixa os seus punhos overpowered depois de algumas execuções. A bomba congelante, que, bem, congela. E as vidas extras, que podem ser coletadas nos mapas e dão uma chance a mais de vencer uma batalha sem quebrar o ritmo da obliteração.
Mas parte também vem do ajuste fino do que já estava lá. A Motosserra, por exemplo, que antes exigia o consumo de ao menos um galão de gasolina, agora tem uma unidade de recarga automática, o que é suficiente para despachar os inimigos mais fracos e gerar um fluxo constante de munição.
Os demônios também vêm com pontos fracos para certas modificações de armas, o que incentiva a troca real de equipamento para aproveitar melhor as vantagens, e evita que você morra abraçado com a superescopeta só porque ela é uma arma incrivelmente forte e tem um gancho do Scorpion ao contrário.
E aí, quando tu menos vê, você serra demônio, coleta munição, atira de sniper, destrói a torreta da aranha, BIRL BIRL, lança granada de gelo no grupo de minions, taca fogo no grupo de minions, pega armadura, pula pro outro lado da arena usando uns postes, BIRL BIRL, trava a mira do foguete no demônio cobrinha, saca a metralhadora giratória, metralha girando o maldito do Barão do Inferno, MAIS QUERO MAIS, saca a balista, mira no Cacodemônio, erra com a balista, morre pro Cacodemônio, pensa NÃO VAI DAR NÃO, mas volta porque tinha vida extra, mata o Cacodemônio, QUE NÃO VAI DAR O QUE PAI SAÍ DE CASA COMI PRA CAR&$@O.
BIRL BIRL BIRL. AJUDA O MALUCO TÁ DOENTE!
E tudo isso em longos 20 segundos de partida.
Não é água com músculo
Doom Eternal é insano, profano e faz você sentir que seu coração pode explodir a qualquer instante. É um jogo que te faz parar de respirar, mas só porque na tela, com a ajuda do traje do Slayer, você é capaz de atirar, explodir e executar com uma agilidade que até Deus duvida.
Não é um jogo fácil de pegar por horas seguidas. Tem que concentrar, baixar o modo Bambam e ficar grande, por?@. Mas aí o negócio é treze memo.
Lançamento: 20/03/2020
Plataformas: PC, Xbox One, PS4, Google Stadia, Nintendo Switch (ainda em 2020)
Preço sugerido: R$ 250 (PC) R$ 349 (consoles)
Classificação indicativa: 18 (Violência Extrema, Linguagem Imprópria)
Desenvolvimento: id Software
Publicação: Bethesda Softworks
Jogue também: Doom, série Wolfenstein, Rage 2, Borderlands 3
*Cópia de Doom Eternal de Xbox One cedida pela Bethesda ao START. Durante nossos testes, o multiplayer Battlemode ainda não estava disponível.
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