Resumo da notícia
- Nascida em 1960 com o nome "Service Games", a empresa exportava caça-níqueis e jukebox para o Japão
- Como fabricante de consoles, a Sega se destacou com Master System, Mega Drive, Saturno e Dreamcast
- Parceria com a Tec Toy no Brasil impulsionou mercado local e rendeu jogos que viraram raridade de colecionador
O tempo passa realmente rápido quando percebemos que uma das empresas mais tradicionais e importantes dos videogames já é uma senhora sessentona. Com uma longa ficha de serviços prestados, incluindo jogos e consoles históricos, a Sega se mantém como uma marca relevante para as novas gerações de jogadores ao mesmo tempo em que permanece nos corações dos veteranos dos videogames.
Seja como uma produtora de hardware, seja como publicadora de jogos, a Sega foi e continua sendo uma empresa sempre extraordinária, tanto nos bons quanto nos maus momentos.
Unidos venceremos
Assim como a Capcom, a Sega tem um início um pouco truncado que envolve a junção de diferentes empresas fundadas em períodos diferentes. A grande diferença é que a Sega tem suas raízes profundamente ligadas aos Estados Unidos.
Tudo começou em 1952, quando Marty Bromley, um empresário que gerenciava máquinas de caça-níqueis, fliperamas e outras diversões eletrônicas para bases militares americanas no estado do Havaí. Na época, o governo americano assinou uma lei proibindo esse tipo de operação e confiscou máquinas de várias empresas que trabalhavam com esse tipo de negócio. Bromley, então, comprou essas máquinas do governo e criou um negócio de importação e exportação para as bases militares americanas no Japão, que naquele tempo estava sob ocupação militar dos Estados Unidos desde a derrota para os aliados na Segunda Guerra Mundial. O negócio prosperou, passando a incluir máquinas de Juke Box, que fizeram muito sucesso em território nipônico. Então, em 3 de junho de 1960, a Service Games abriu sua filial japonesa, a Nihon Goraku Bussan.
Por outro lado, David Rosen, um ex-militar que serviu na força aérea americana durante a Guerra da Coreia, também estabeleceu negócios no Japão, primeiro com um negócio de venda de retratos que rapidamente fracassou. Depois, Rosen virou o jogo com um bem sucedido negócio de cabines de fotos automáticas, crescendo ainda mais após levar máquinas de fliperama e arcades eletro-mecânicos, que na época costumavam ser galerias de tiro. O sucesso dessas operações foi tal, que a Rosen Enterprises chegou a ter pelo menos uma máquina de arcade em todas as cidades do Japão. Já nos anos 1960, o setor de entretenimento eletrônico japonês ficou dividido entre as três maiores empresas da época, a Taito, a Rosen e a Service Games, que além da competição entre si, começaram a sofrer competição de várias outras empresas menores que entravam em um mercado que vivia franca expansão. Assim, em 1964, a Rosen Enterprises e a Services Games se fundiram, se transformando na Sega Enterprises, a empresa que se tornaria lendária em anos vindouros e que está aí ainda hoje.
Do periscópio ao sistema mestre
Nos anos 1960, os arcades se resumiam a galerias de tiros, que por sua vez se resumiam a simuladores de caça ou de faroeste. Inovadora desde o início, a Sega, que até então somente importava e distribuía jogos de outras companhias, inventou um novo jogo desse tipo, o Periscope.
O sucesso do arcade da Sega atraiu grandes empresas, e o conglomerado Gulf & Western comprou-a em 1967. Essa aquisição deu uma injeção de capital à Sega, que por sua vez comprou a Gremlin, na época a maior companhia de arcades dos Estados Unidos. Dessa maneira, a Sega rapidamente se tornou a maior operadora e produtora de arcades dos Estados Unidos e Europa.
Unindo a expertise empresarial com a criativa e técnica, a Sega virou sinônimo de arcades entre o fim dos anos 1970 e início dos 1980, quando os Estados Unidos sofreram o histórico crash dos videogames, que além do mercado de consoles domésticos, também afetou profundamente o mercado de arcades e fliperamas. Por causa disso, a Gulf & Western resolveu se desfazer da Sega, que foi recomprada por David Rosen, com ajuda de investidores. Rosen virou presidente da companhia nos Estados Unidos, enquanto que Hayao Nakayama virou o presidente da Sega no Japão.
Se o crash derrubou o mercado nos Estados Unidos, no Japão os negócios iam de vento em popa, com o país vivendo um grande crescimento econômico e os japoneses ávidos por diversões eletrônicas. No intuito de diversificar seus produtos, a Sega buscou o nascente mercado de consoles domésticos e desenvolveu seu primeiro console, o SG-1000. Embora o aparelho tivesse boas capacidades e preço competitivo, o SG-1000 deu o azar de ter sido lançado no mesmo dia do lendário Famicom, da Nintendo, videogame que se tornou muito mais popular no Japão. Como a maioria das empresas de jogos terceirizadas foram obrigadas a amarrar contratos de exclusividade para poderem produzir jogos para o Famicom, a Sega foi obrigada a se virar quase sozinha e partir pra luta, convertendo seus melhores títulos de arcade para o SG-1000 e as versões melhoradas do console que ela foi lançando ao longo da década de 1980, como o SG-1000 II e o Sega Mark III, que foi lançado nos Estados Unidos como Master System.
Sonic does what Nintendon't
Assim como no Japão, o Master System nunca chegou perto do sucesso do NES, pois além de ter sido lançado em território americano uma ano depois do console da Nintendo, o aparelho ainda ficou limitado a um acordo de distribuição com a rede de lojas de brinquedos Tonka Toys. Mas a Sega não ficou parada assistindo o sucesso da rival, concentrando esforços na produção de um aparelho sucessor muito mais potente que Master System e capaz de entregar em casa a experiência típica dos arcades daquele tempo. Assim, o Mega Drive foi lançado em 1988 no Japão, e meses depois lançado nos Estados Unidos com o nome de Sega Genesis.
Lançado com especificações impressionantes para a época, o Mega Drive foi baseado na tecnologia das placas "System 16" que a Sega equipava em alguns de seus arcades, fazendo com que o console recebesse em seu inicio de vida conversões fiéis de sucessos dos arcades, como o jogo de lançamento Altered Beast, Golden Axe, Super Hang On, Super Thunder Blade, entre outros. Dotado de um processador 16-bits Motorola 68000, o mesmo que equipava computadores Macintosh, o console não apenas deixou o NES/Famicom à léguas de distância, como bateu de frente com rival de geração Super Nintendo até o final do seu ciclo, período que ficou conhecido na história dos videogames como "a guerra dos 16-bits."
(Confesse que você estava esperando ver esse vídeo desde a abertura do artigo?)
A Sega of America principalmente, liderou uma agressiva campanha de marketing, incluindo anúncios provocativos em revistas especializadas, comerciais de televisão e o endosso de celebridades à games da companhia, como em jogos como Michael Jackson's Moonwalker, Joe Montana Football, John Madden Football e Jordan vs Bird. Por outro lado, o braço japonês revelou ao mundo sua arma secreta mortal na forma do super clássico Sonic the Hedgehog, que arrebatou o mundo dos videogames em 1991. Em um tempo que os mascotes tinham importância capital para o sucesso de um game, e Super Mario parecia ser invencível, Sonic não apenas bateu o encanador italiano em popularidade, como fazia parte de um jogo que pela primeira vez na história dos videogames fez parte do público questionar sua lealdade à Nintendo.
O sucesso de Sonic foi arrebatador, a ponto de tornar o porco-espinho um fenômeno da cultura popular e astro de desenhos animados, quadrinhos e até mesmo um longa metragem lançado agora em 2020, o que mostra que a popularidade do personagem permanece inabalável mesmo 29 anos depois do lançamento do jogo que lhe deu vida.
A Sega também conseguiu trazer a Disney, que antes licenciava jogos exclusivamente para Nintendo, para seu lado, possibilitando o surgimento de clássicos como Castle of Illusion, World of Illusion, Quack Shot e uma versão de Aladdin que contou com a colaboração direta de animadores que trabalharam no longa, resultando em um game tecnicamente muito superior à versão Super Nintendo.
Por outro lado, a parceria da Sega com a Electronic Arts, permitiu ao Mega Drive ter as melhores versões dos principais games esportivos da época, incluindo a primeira edição do icônico FIFA International Soccer:
Em seus cercas de 9 anos de existência, o Mega Drive/Genesis não foi somente o mais bem sucedido console da Sega, mas foi um console que permanecerá para sempre no panteão dos melhores consoles da história dos videogames.
Sega e Tectoy, o casamento perfeito
Se no Tio Sam o Master System mal passou de um curiosidade para colecionadores, em Terra Brasilis, o console 8-bits da Sega ainda permanece cultuado, mesmo trinta anos depois de seu lançamento em território nacional. Além da boa biblioteca de jogos, muito desse carinho e reconhecimento derivam do trabalho extraordinário por parte da Tec Toy (que mais tarde mudaria a grafia para Tectoy). O desafio era enorme, pois o Brasil vivia os anos 1980, a "década perdida", período de hiperinflação e depressão econômica, um cenário que tornava a tarefa de lançar um console a um preço competitivo uma operação guerra. Para piorar, o Brasil era um gigantesco território cinza, lotado de pirataria, falsificação e jogos e consoles clonados. Para piorar, o trabalho ruim da Tonka nos Estados Unidos deixou a Sega desconfiada que a Tectoy, que também era uma empresa de brinquedos, pudesse fazer um trabalho de distribuição melhor. Após meses de negociação, a Tectoy conseguiu convencer a Sega sobretudo pelo sucesso que a empresa brasileira obteve com o lançamento da pistola Zillion.
Apesar de todas as dificuldades, o Master System experimentou um grande sucesso no Brasil, recebendo suporte anos após outros territórios. A Tec Toy não se limitou à distribuição e divulgação, chegando até a desenvolver jogos e traduções próprios, sem qualquer suporte por parte da Sega. Jogos como Férias Frustradas do Pica Pau e Duke Nukem 3D hoje são itens disputados a peso de ouro por colecionadores.
O excelente suporte da Tectoy prosseguiu com o Mega Drive (que foi lançado apenas um ano depois do Master System) e os demais consoles da Sega, até o Dreamcast.
O sonho não acabou
Infelizmente, os anos de ouro da Sega como produtora de consoles foram chegando ao final com o fracasso do Sega Saturn, um aparelho 32-bits marcado pelas complicações técnicas e biblioteca de jogos inferior aos concorrentes PlayStation e Nintendo 64. A empresa fez um grande esforço para dar a volta por cima com o Dreamcast em 1999, console que apesar do sucesso inicial e alguns grandes jogos em seu catálogo como por exemplo, Sonic Adventure, Resident Evil: Code Veronica e Phantasy Star Online, não suportou a pressão da concorrência na época e acabou decretando o encerramento da Sega como produtora de hardware.
O fim do console marcou um período de turbulência econômica da Sega, que sofreu grandes perdas no início dos anos 2000, até ser comprada pelo Sammy Corporation, uma empresa especializada em máquinas de jogos e pachinkos, que criou o conglomerado SegaSammy. Desde então, a Sega é focada em produzir e licenciar jogos para arcades e consoles, além de administrar seu vasto catálogo de clássicos de diferentes gerações.
Apesar de não fazer mais parte do mercado de consoles, o legado da Sega permanece mais presente do que nunca através de suas franquias, e sucessos como Sonic Mania, Streets of Rage 4 e Yakuza mostram isso. Quanto aos consoles, Master System e principalmente o Mega Drive são provas de uma época especial na história dos jogos que será para sempre lembrada com carinho.
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