Akira Kurosawa e Ghost of Tsushima: os filmes que levaram ao jogo
Em entrevista recente ao Start, o diretor de Ghost of Tsushuma, Nate Fox, falou sobre sua admiração pelo trabalho do lendário diretor de cinema Akira Kurosawa. Na apresentação especial sobre o jogo, as influências ficaram ainda mais evidentes. Haverá, inclusive, um modo cinematográfico em preto e branco, para ressaltar ainda mais tais influências.
O cinema de chanbara, de luta de espadas e sobre a saga de samurais sem mestre, vagando por um Japão em constante batalha, é um movimento artístico muito prolífero e exponencial, relevante há décadas, e estará em cada batalha, diálogo e missão paralela realizada na nova produção dos criadores de inFamous.
Como preparação para a chegada de Ghost of Tsushima em julho, listamos algumas das obras mais importantes dentro de tal movimento cinematográfico, de certo a serem devida e respeitosamente representadas dentro da aventura protagonizada por Jin Sakai.
YOJIMBO, O GUARDA-COSTAS (1961)
A parceria entre Kurosawa e o ator Toshiro Mifune (que acabou se tornando a representação mais fidedigna do ronin no cinema) vem de longa data: desde O Anjo Embriagado, de 1948. Para Yojimbo, a química entre o ator, o diretor e a câmera se expressa na naturalidade de cada ação e fala. A trama demonstra a luta entre duas famílias pelo controle de um pequeno povoado. O samurai entra em cena para oferecer seus serviços para quem melhor o pagar. Mas mais do que isso, a figura do experiente espadachim gera dúvidas, confabulações e tramoias entre os membros das gangues e suas respectivas lutas, dos mais ingênuos aos mais experientes.
SANJURO (1962)
A continuação de Yojimbo explora mais o código de honra e conduta do samurai que dá nome ao filme. Mais uma vez, há uma trama sobre traição e confabulação entre a classe mais abastada de um povoado humilde. Kurosawa aprimora sua técnica de condução para um grande número de figurantes em quadro, assim como o preciosismo para recriação de cada detalhe da época: do figurino ao penteado, equipamento de combate e objetos de cena. A cenografia de Kurosawa é uma obra de arte por si só, estudada por décadas. A cena mais icônica do filme, a do confronto final entre o samurai e seu inimigo traído e enganado, certamente influenciará a postura em combate do fantasma de Tsushima.
TRONO MANCHADO DE SANGUE (1957)
Épico em escala e temática, Trono Manchado de Sangue mescla perfeitamente misticismo e realidade. Dois generais de guerra, após uma vitória, são confrontados pelo espírito da floresta e suas capacidades de clarividência. Com seus futuros postos à mesa, a semente da dúvida é devidamente plantada e amigos de infância se tornam rivais de morte. Além da riqueza dos diálogos e interpretações, é como se estivéssemos visitando os feudos mais importantes do Japão desse período de guerras e confrontos. Quando um guerreiro duvida de suas próprias capacidades, o que lhe resta?
KAGEMUSHA, A SOMBRA DE UM SAMURAI (1980)
Ghost of Tsushima fará questão de levar o cinema em preto e branco de Akira Kurosawa para o jogo, mas é bom também apontar o quanto o lendário diretor foi capaz de fazer uso de cores de forma nada além de brilhante. Kagemusha (lado a lado a Ran), é a epítome da beleza na projeção. Era comum Grandes Senhores terem duplos, sombras, sósias que o tirassem da linha do perigo quando aparições públicas eram necessárias. A trama é sobre um ladrão feito senhor, se tornando sombra, da noite para o dia. "A sombra de um homem nunca poderá caminhar sozinha". Destaque especial para a sequência de pesadelo, onde o uso de cores é empregado de forma tão latente, que é como se a película fosse pintada a mão, quadro a quadro, foto a foto.
OS SETE SAMURAIS (1954)
O mais influente e aclamado trabalho de Akira Kurosawa é também a maior representação da obra chanbara já realizada na história do cinema. Os Sete Samurai apresenta, mais uma vez, uma luta de classes, de camponeses pobres à mercê de bandidos cruéis. Sem qualquer tipo de amparo, resolvem clamar pela ajuda de samurais. Sem dinheiro, podem pagar apenas com comida, e a busca por seus salvadores começa difícil por tal motivo, afinal, que tipo de samurai trabalharia por alimento? Cada um dos sete heróis do povoado em questão personifica um pilar do código de conduta do samurai sem mestre. São 207 minutos que culminam numa das batalhas mais épicas e marcantes da sétima arte, onde a luta pela vida, pela sobrevivência, derrota a avareza e ganância.
TRILOGIA DOS DÓLARES
O cinema de chanbara de Akira Kurosawa e o dito "faroeste macarrônico" de Sergio Leone estão intrinsecamente conectados. O episódio do meio, Por uns Dólares a Mais, trata-se de uma espécie de reimaginação de Yojimbo. Foi nesse filme que Leone aperfeiçoou sua técnica, assim como Ennio Morricone entrou para história. De 1964 a 1966, tais movimentos cinematográficos tão importantes, caminharam lado a lado e o cenário do velho oeste e os confrontos com revólveres se confundiram com o Japão Feudal e suas espadas letais. Clint Eastwood de um lado, Toshiro Mifune do outro. A sessão tripla de Por um Punhado de Dólares, Por uns Dólares a Mais e Três Homens em Conflito é nada além de obrigatória para qualquer apreciador de cinema, e quem sabe o quanto a Sucker Punch também pensa dessa maneira?
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