"Um jogo dentro de um jogo" foi a forma como Shuhei Yoshida, da Sony, descreveu Pixel Ripped 1989, e estava completamente certo. O mundo virtual e o real colidem quando uma pedra mágica é roubada e usada de forma indevida. Com vilões sendo vilões e heróis sendo heróis, salvar o mundo da sua carteira do colégio enquanto esconde o minigame da professora chata, fez todo sentido do mundo, ainda mais para os idos de 1989.
Pixel Ripped presta homenagens devidas a inúmeras franquias dos videogames, de Mega Man a The Legend of Zelda, enquanto retrata de forma irreverentemente clichê, aquele pedacinho da história sob a ótica de uma garotinha ou um garotinho apaixonado por videogames. Foi assim em 1989, e 1995 expande ainda mais tal conceito, unindo criatividade e originalidade de forma cada vez mais rara de se encontrar, mesmo no promissor mundo da realidade virtual.
Era uma vez, num mundo muito distante (e farofento)...
Alguns anos no futuro, mais precisamente seis, em 1995, Cyblin Lord está de volta para infernizar a vida da heroína Dot e a de sua terra natal e virtual, Far-of-a-Land (melhor trocadilho bilíngue não haveria de ter), nessa maluquice de colidir realidades e franquias de videogame. Mais precisamente a da vida do menino David, às vésperas do Natal e do conforto da sala de sua casa.
Evidentemente que, enquanto joga, sua mãe, tão preocupada com a saúde do filho perante novas e estranhas tecnologias, é uma pedra no sapato tão incômoda quanto o vizinho na janela. "Meu videogame é muito melhor que o seu" ou "isso vai queimar sua retina!", e só adivinhe quem disse o quê. A narrativa de 1995 está, sem dúvida nenhuma, mais elaborada dessa vez, com diversos personagens dentro e fora dos videogames, como o pai tão descolado quanto Rick Moranis (aliás, saudades, Rick Moranis), e heróis em pixel art tão divertidos quanto Simon Belmont - fãs de Castlevania, especial atenção aqui, pois até mesmo o frango de parede foi devidamente contemplado.
Mas será que há apelo para quem não viveu a época, não tem memória afetiva sobre tudo isso? Eis aí uma indagação das mais particulares, afinal, é tão divertido jogar Pixel Ripped 1995, que fica o convite a toda uma nova audiência para explorar mais sobre aquela fatia tão específica da história. Mandar e-mail para o irmão mais velho ou ligar para a tia moderninha faria sentido?
O futuro é tridimensional
O ano de 1995 viu a transição do 2D para o 3D nos consoles domésticos, algo já comum nos fliperamas, com hardwares sempre mais parrudos e evoluídos. Trocar o console se fazia uma necessidade, e as datas festivas existem justamente como pretexto a isso.
O que Pixel Ripped 1995 faz de verdadeiramente impactante, é retratar todo um espectro de eventos num curto espaço de tempo, mais precisamente de fase em fase. Na primeira, seguimos algo mais confortável, semelhante a sala de aula de 1989. Com sua nerf gun, derrubar o vaso de biscoitos parece a forma ideal de desviar a atenção de sua mãe enquanto se avança no jogo - a visão de planta, característica de jogos de RPG como Final Fantasy ou Ys, atrelada a trilha sonora, tão viciante quanto as limitações técnicas da época, acomodada a realidade de seu pai chegando com a árvore de natal.
Enquanto Dot ressignifica seus porquês, sua relação com seu mestre e o próprio papel de seu arquirrival na coisa toda, o mundo (virtual) ao seu redor se torna ruína - e não há sorvete o bastante para apaziguar a dor. Uma ida a loja de eletroeletrônicos do bairro é palco para o confronto entre consoles, com as mentirinhas do "mas eu consegui pegar aquela esmeralda que mais ninguém conseguiu!" sempre presentes. E por que não experimentar - e misturar - ambos? É quando Alien dá as mãos ao Predator, sem espaço para versus, ou quando jogos coloridos e fofos coexistem com os mais soturnos e cinzentos.
Contar mais seria estragar muito das surpresas, e Pixel Ripped 1995 é precioso em surpreender, em criar algo genuinamente próprio ao celebrar os videogames, fase após fase, de forma só possível durante uma distante, porém sempre presente, memória de infância. Acaba por se tornar um patrimônio a toda uma mídia, e tem muito orgulho em ser exatamente isso.
Nos vemos em 1999?
Como disse a criadora de Pixel Ripped, Ana Ribeiro, em entrevista ao START, tem mais Pixel Ripped a caminho, e em diferentes épocas dos videogames. Sendo assim, a franquia se consolida como um verdadeiro museu de novidades dentro de si mesmo, da mídia na qual se insere, sendo impossível de ser traduzido fora da realidade virtual.
A ansiedade pelo ano de 1999 é (particularmente) gigante e há um gostinho do tridimensional muito bem colocado em 1995, quando as produtoras e desenvolvedoras ainda tateavam o escuro de universos ainda por serem descobertos. A realidade virtual ainda se encaixa em tal categoria, com possibilidades infinitas no horizonte. Tem alguma dúvida disso? Continua reticente sobre a importância do VR em videogame? Imagino que o mestre de Dot faria destas, as suas palavras: Experimente Pixel Ripped 1995.
Lançamento: 23/04/2020
Plataforma: SteamVR, Oculus Rift, Oculus Quest, Viveport e PSVR (onde foi avaliado)
Preço sugerido: R$ 37,99
Classificação indicativa: Livre (Violência Fantasiosa)
Desenvolvimento: ARVORE Immersive Experiences
Publicação: ARVORE Immersive Experiences
Jogue também: Pixel Ripped 1989
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