Sludge Life: game brasileiro mistura grafite com mundo aberto caótico
Papo reto
- Devolver Digital lançou no final de maio o Sludge Life, game em que o jogador é um grafiteiro
- O jogo foi desenvolvido por um brasileiro em parceria do rapper Doseone
- Ele já publicou outros dois games pela mesma Publisher
Em meio ao caos de ver corporações caindo, greves constantes e evitar de ser agredido por um segurança de cacetete, às vezes o que precisamos para ficar relaxado é desenhar umas paredes ou puxar um cigarro. Bem, essa é a proposta de Sludge Life, novo game lançado pela Devolver Digital (famosa pelos games Hotline Miami e My Friend Pedro).
Em Sludge Life, o jogador é um grafiteiro chamado Ghost e deve explorar lugares para fazer arte com spray. O game foi desenvolvido pelo brasileiro Terri Vellmann, sendo seu terceiro trabalho publicado pela publisher americana. Ele foi lançado em 28 de maio e está de graça na Epic Games Store desde o dia de sua estreia.
Lama, latinhas de spray e cogumelos
Como Ghost, o seu objetivo é fazer 100 tags (ou grafites) espalhados pela cidade, seja em paredes, pedras, outdoors e onde mais for possível para deixar sua assinatura por aí. O sandbox (ou trashbox pelo cenário repleto de prédios abandonados e lodo no lugar do mar) nos apresenta um universo pegajoso, psicodélico e cheio de detalhes divertidos a serem explorados.
Mas Sludge Life vai além de uma simples missão, há o pano de fundo do que acontece na cidade. Ao conversar com as pessoas (e outros seres como moscas e sapos), descobrimos que diversas empresas diferentes (desde a rede de fast food, marca de cigarros e indústria química) pertencem ao mesmo dono, que é o responsável por jogar esgoto na cidade. Após um acidente de trabalho, todos os funcionários entram em greve.
Sludge Life possui três finais (o bom, o ruim e o "estranho", como define o próprio game) e há uma lista de objetivos, ou side quests, para desbloquear enquanto anda pelos lugares. A história não precisa do jogador, necessariamente, mas as atitudes que fazemos podem influenciar indiretamente os acontecimentos.
Ao longo do game, conhecemos outros grafiteiros (ou vândalos como são conhecidos), e rola de fazer aquela parceria de grafites. Além de fazer arte por aí, nosso personagem pode puxar um cigarro tranquilão e consumir desde energéticos abertos que encontra, lesmas (ou beijá-las caso opte em ser vegano) e zooms, os cogumelos alucinógenos para dar uma viajada. O mundo caótico e destruído de Sludge Life vira um playground para o jogador.
Papo reto com criador
O responsável por nos apresentar esse mundo nojento e cômico é o game designer Henrique Lima, conhecido como Terri Vellmann pela internet, teve o primeiro contato com a Devolver Digital de forma inesperada, como explica em entrevista para o START.
Em 2014, os criadores de Hotline Miami, Jonatan Söderström e Dennis Wedin, conheceram Terri através do seu projeto na internet, chamado de Mestre Fungo, em que fazia GIFs mesclando ilustrações realistas com efeitos psicodélico.
Dei muita sorte, foi meio que o lugar certo na hora certa
Terri Vellmann, criador de Sludge Life
Os suecos ficaram fascinados com a arte colorida e pediram para o artista trazer seu estilo para o site do jogo. Na época, estavam lançando uma sequência de Hotline Miami. "Nessa eles me colocaram em contato com a Devolver. Como eu já estava com o Heavy Bullets em desenvolvimento, aproveitei pra mostrar e eles se interessaram. Dei muita sorte, foi meio que o lugar certo na hora certa."
Tanto Heavy Bullets quando High Hell (segundo game lançado pela Devolver Digital) possuem a mesma temática de ser jogos de tiros em FPS. Terri conta que a ideia de criar um game de mundo aberto em que a arma é uma lata de spray veio após o desenvolvimento de Mundo Lixo, que focava maior na exploração. "Era menor e focado só em explorar o ambiente - no caso era uma ilha coberta de lixo. Ele não foi muito popular, mas me marcou, queria voltar a explorar aquela direção, mas com mais interações".
Além dele, o jogo tem a trilha sonora assinada pelo rapper americano Doseone, com quem também participou em High Hell, e teve uma participação maior com roteiro e game design. "O Doseone tem uma carreira longa no rap e se encaixou perfeitamente, foi tudo muito natural. Mas nossa colaboração vai além disso, ele escreveu bastante e o processo de game design e desenvolvimento do universo também foi compartilhado."
Quando já tenho o começo de um loop interessante eu envolvo o Doseone e vamos aos poucos, com muito iteração, chegando em algo parecido com um jogo final
Terri Vellmann, criador de Sludge Life
O que era para ser o desenvolvimento de seis meses acabou virando uma produção de mais de dois anos, como relata o game dev, explicando sobre um pouco do processo criativo. "É caótico, começo apenas com as mecânicas, sem nem saber ainda pra onde vou com o jogo. Quando já tenho o começo de um loop interessante eu envolvo o Doseone e vamos aos poucos, com muita iteração, chegando em algo parecido com um jogo final."
Sludge Life está na Epic Game Store e tem previsão para sair para Nintendo Switch.
Confira a entrevista completa:
START: Como surgiu o seu primeiro contato com a Devolver? Essa não é a 1º vez que lança jogos com eles, como o High Hell e Heavy Bullets.
Terri Vellmann: Lá em 2014 o Cactus e o Dennis, que fizeram Hotline Miami, me chamaram pra criar uma animação promocional e o site do jogo (é a que está no ar hoje no hotlinemiami.com). Nessa eles me colocaram em contato com a Devolver. Como eu já estava com o Heavy Bullets em desenvolvimento, aproveitei pra mostrar e eles se interessaram. Dei muita sorte, foi meio que o lugar certo na hora certa.
START: Tanto o High Hell quanto o Heavy Bullets têm a mesma temática de ser jogos de tiros em FPS. Quando surgiu essa ideia de criar um jogo que foque mais em grafite, gosma e crítica ao capitalismo?
Terri Vellmann: Eu lancei um jogo chamado Mundo Lixo, era menor e focado só em explorar o ambiente - no caso era uma ilha coberta de lixo. Ele não foi muito popular, mas me marcou, queria voltar a explorar aquela direção, mas com mais interações. O humor e essa pegada que você se refere já existia antes no meu trabalho, mas ficava escondido em segundo plano atrás das mecânicas de ação e agora foi possível realmente explorar esses temas.
START: Como funciona seu processo criativo? E o que te inspirou para fazer o game?
Terri Vellmann: É caótico, começo apenas com as mecânicas, sem nem saber ainda pra onde vou com o jogo. Quando já tenho o começo de um loop interessante eu envolvo o Doseone e vamos aos poucos, com muita iteração, chegando em algo parecido com um jogo final. Inicialmente planejava ficar uns 6 meses trabalhando no Sludge Life, mas fiquei mais de 2 anos.
START: Percebi que o game mostra de pano de fundo uma cidade que está ruindo com as empresas falindo, funcionários em greve e um chefe rico pouco se lixando. Mas até onde joguei o protagonista não faz algo para quebrar esse círculo, tanto que o final bom é "uma saída" queria entender melhor o conceito.
Terri Vellmann: Acredito que GHOST não veja mudança naquele mundo, como se o jogo estivesse armado e ele/ela excluído.
START: Como surgiu essa parceria com o Doseone? Ele já tinha trabalhado em música para games?
Terri Vellmann: Trabalhamos juntos antes no Heavy Bullets e no High Hell. Ele já produziu para alguns jogos, acredito que os demais destaques são Enter the Gungeon, Gang Beasts e Samurai Gunn.
START: Pode falar um pouco mais sobre a importância da trilha sonora em Sludge Life?
Terri Vellmann: A música e os sons são uma parte gigante da personalidade de um jogo. O Doseone tem uma carreira longa no rap e se encaixou perfeitamente, foi tudo muito natural. Mas nossa colaboração vai além disso, ele escreveu bastante e o processo de game design e desenvolvimento do universo também foi compartilhado.
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