Nova MiBR completa 2 anos: CEO vê sucesso, apesar de seca de títulos
Resumo da notícia
- Maior equipe do Counter-Strike brasileiro ainda não emplacou bons resultados desde o retorno em 2018
- Período foi marcado por mudanças no elenco e queda no ranking mundial
- Em entrevista, CEO Ari Segal reconhece as dificuldades mas ressalta paixão dos torcedores pelo time
O retorno da lendária Made in Brazil (MiBR) completa dois anos hoje, com a equipe brasileira de Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO) em uma seca de títulos e acumulando sucessivas mudanças no elenco. Apesar dos resultados ruins em competições e da instabilidade da line-up, o diretor-executivo do Immortals Gaming Club (IGC), Ari Segal, defende que a marca tem sido bem sucedida.
O START relembra, nesta reportagem, a trajetória da MiBR nesses dois últimos anos, marcados por dez trocas de cyber-atletas e treinadores em meio a campanhas ruins em campeonatos e pelo engajamento em torno da marca, com crescentes números de audiência.
A diferença entre desempenhos competitivo e de negócios, aliás, é destacada pelo CEO do IGC, grupo empresarial norte-americano que adquiriu a MiBR, em uma entrevista exclusiva concedida ao START pela internet.
No papo, Ari faz um balanço dos dois anos da nova MiBR, explica as sucessivas mudanças e exalta a paixão dos torcedores pela equipe.
Retorno
A MiBR nasceu em 2003, por iniciativa do empresário Paulo Velloso, incentivado pelo filho, o ex-pro-player Rafael "pred" Velloso.
Naquela época, a equipe logo se destacou e passou a competir nos principais campeonatos internacionais e a conquistar diversos títulos. O mais marcante deles é o da Electronic Sports World Cup (ESWC), considerada a Copa do Mundo do Counter-Strike, em 2006.
Sem dinheiro e em uma fase de decadência do CS 1.6, a MiBR encerrou as atividades em 2012, com um time já não tão competitivo.
O retorno da marca que fez história no CS brasileiro aconteceu pelas mãos do empresário norte-americano Noah Whinston, criador do clube de eSports Immortals, em junho de 2018. No dia 7 daquele mês, a organização confirmou que voltaria à atividade, sob nova direção, e marcou a apresentação do elenco contratado para o dia 23.
Em um evento em São Paulo, a MiBR anunciou a contratação dos jogadores brasileiros que representavam a europeia SK Gaming: Ricardo "boltz" Prass, Marcelo "coldzera" David, Gabriel "FalleN" Toledo, Fernando "fer" Alvarenga e Jake "Stewie2K" Yip.
O time estava em alta, embora não no mesmo nível de 2016 e 2017, quando teve sua melhor fase. Ainda assim, as expectativas eram enormes. Mas os resultados conquistados a partir daí decepcionaram a comunidade e os torcedores.
Resultados inconstantes
A MiBR reestreou na ESL One Cologne 2018, em Colônia, na Alemanha, em julho, com a 7ª/8ª colocação, em uma campanha mediana que se repetiria em outros torneios. Em parte dos campeonatos, a equipe teve performances piores e, em outros, melhores. Mas (bem) longe do brilho de outrora.
FalleN e companhia disputaram 43 torneios nesses dois anos de MiBR, mas só foram campeões de uma competição internacional: a ZOTAC Cup Masters, em Hong Kong, em agosto de 2018.
De lá pra cá, o time amarga uma seca de conquistas, com desempenhos de níveis de médio para ruim na maioria dos compromissos e eliminações precoces de torneios, inclusive com derrotas para adversários pouco expressivos.
As melhores campanhas desde o único título foram quatro vices: na BLAST Pro Series Istanbul, em Istambul, na Turquia, em setembro de 2018; na 6ª temporada da Esports Championship Series (ECS), em Arlington, nos Estados Unidos, em novembro de 2018; na 1ª temporada da Flashpoint, em abril; e na BLAST Premier Spring American Finals, neste mês.
São resultados muito inferiores aos obtidos pela equipe quando os brasileiros defendiam SK Gaming e Luminosity Gaming. Foram oito títulos em 2017 e quatro em 2016, incluindo dois majors - como são chamados os campeonatos mundiais de CS:GO.
O time chegou a liderar o ranking internacional do HLTV.org, site especializado em Counter-Strike. Atualmente, a MiBR está na modesta 14ª colocação.
Trocas constantes
Além das performances inconstantes, outra particularidade da nova MiBR tem sido a rotatividade do elenco. De junho de 2018 pra cá, houve 10 trocas de jogadores e treinadores. Foram, ao todo, 18 movimentações (contabilizando cada entrada e saída do clube). Isso dá uma média de uma troca a cada 2,4 meses.
Desconsiderando o quinteto atual, a MiBR já teve outros sete jogadores, além de dois técnicos.
A primeira da série de alterações ocorreu em 14 de julho de 2018, apenas 21 dias após a nova MiBR ter anunciado o seu elenco. Ricardo "boltz" Prass saiu para a entrada do norte-americano Tarik "tarik" Celik.
Com isso, a equipe chegou a ter dois estrangeiros, já que contava também com o norte-americano Stewie2K. Ele saiu em dezembro daquele ano. Já tarik deixou a line-up em janeiro de 2019. Assim, a line-up voltou a ser 100% brasileira.
A saída mais polêmica envolveu Marcelo "coldzera" David. Insatisfeito com os resultados ruins nas competições e com o relacionamento desgastado com os demais jogadores, o astro comunicou aos companheiros que desejava ser transferido.
Isso se tornou em uma enorme polêmica, porque os demais pro-players da MiBR não quiseram continuar os três campeonatos seguintes com coldzera e preferiram jogar, na improvisação mesmo, com o treinador Wilton "zews" Prado.
O técnico, aliás, não faz mais parte da organização desde março. Ele anunciou a saída do clube em um duro comunicado em que citou problemas "complexos, pesados e enraizados" no time, sem especificar a que se referia.
Na mais recente mudança, em meados de maio, a MiBR substituiu o argentino Ignacio "meyern" Meyer por Alencar "trk" Rossato, que era da Team One e vem fazendo ótimas apresentações. O hermano havia entrado no time seis meses antes, no lugar de Lucas "Lucas1" Teles, que também só ficou meio ano no elenco.
Trocas da MiBR
- Julho 2018: tarik entra - boltz sai
- Agosto 2018: YNk entra
- Dezembro 2018: zews entra - YNk sai
- Dezembro 2018: TACO entra - Stewie2K
- Janeiro 2019: felps entra - tarik sai
- Junho 2019: Lucas1 entra - felps sai
- Julho 2019: coldzera sai | Setembro 2019: kNg entra
- Dezembro 2019: meyern entra - LUCAS1 sai
- Março 2020: zews sai
- Maio 2020: trk entra - meyern sai
MiBR: de 2018 a 2020
Balanço positivo
O diretor-executivo do IGC, Ari Segal, avalia que a nova MiBR "tem sido um enorme sucesso". Ele explica que o projeto nasceu com o objetivo de unir a marca de eSports mais importante do Brasil com os mais populares e talentosos jogadores para "criar uma equipe culturalmente significativa, em torno da qual poderíamos construir uma organização e uma empresa".
"Tudo correu perfeitamente bem nesses dois anos? É claro que não! Nada acontece perfeitamente. Mas, se você olha para o grau de engajamento, a maneira como as pessoas apoiam, com entusiasmo, a MiBR, a forma com que o marketing está respondendo e as outras oportunidades que estamos vendo no mercado por conta da virtude e da popularidade da MiBR, estamos muito satisfeitos", exalta Ari, que assumiu a direção do IGC em substituição a Noah, em dezembro de 2018.
O executivo destaca que, apesar das campanhas insatisfatórias, as partidas vêm batendo recordes de audiência nas transmissões realizadas pelo streamer Alexandre "Gaules" Borba, na casa dos 200 mil a 300 mil espectadores simultâneos. Esse engajamento tem sido potencializado pela rivalidade com a FURIA Esports, equipe brasileira de CS:GO que hoje vive melhor fase do que a MiBR e está no top 5 do ranking do site HLTV.org.
O apoio dos fãs e a afinidade com a MiBR não são atribuíveis apenas à performance competitiva, mas também à lealdade e à paixão dos fãs do Counter-Strike e da MiBR
Ari Segal, CEO do Immortals Gaming Club
Frustração e elenco ideal
O executivo justifica que as constantes trocas no elenco têm sido necessárias para tentar se chegar "ao ponto ideal".
"Eu gostaria de ter a MiBR como a melhor equipe do mundo? É claro! A MiBR gostaria de ser a melhor equipe do mundo? É claro! E é por isso que continuamos a fazer mudanças no elenco, porque estamos tentando voltar aquele nível de desempenho top 5, top 3, top 1", sustenta Ari, acrescentando que adoraria possuir uma line-up que não precisasse de alterações por ser bem sucedida.
"Eu entendo a frustração dos fãs em querer estabilidade, mas eu também entendo a frustração dos fãs porque eles querem vencer. E, até que nós vençamos, nós temos de continuar fazendo mudanças. Porque, se nós temos a mesma line-up, mas sem ser uma equipe de ponta, os fãs também ficarão chateados, certo? Se construirmos uma equipe vencedora, todo mundo estará feliz. E é isso que estamos tentando fazer", aponta o CEO do IGC.
Jogadores remanescentes
Os veteranos FalleN e fer são os dois únicos jogadores remanescentes da primeira escalação da nova MiBR.
Perguntado se isso quer dizer que ambos contam com a total confiança da direção do clube, Ari responde que há "muita lealdade" dos dois lados e o "desejo de uma parceria de longo prazo". Mas pondera, citando exemplos do futebol e do basquete, que atletas de destaque podem optar por trocar de equipe.
"O fato de que certos caras estão conosco consistentemente sugere que há um desejo de mantê-los no elenco", comenta o diretor-executivo.
Rotatividade nos eSports
Sobre rotatividade de pro-players, Ari levanta a bola de que há uma diferença essencial entre os eSports e os esportes tradicionais.
Nos Estados Unidos, por exemplo, onde há associações de atletas, os contratos são balizados por acordos coletivos que tratam de salários, benefícios e estrutura de trabalho. Assim, as contratações podem ser de longo prazo, com os clubes possuindo os direitos dos jogadores por mais tempo do que nos esportes eletrônicos.
"Os eSports têm contratos curtos. Se eu peço para o jogador assinar um contrato de cinco anos comigo, em praticamente todo caso, ele dirá não. E mesmo nos casos em que assina, frequentemente ou o jogador deixa a indústria porque não teve boa performance ou ele supera tanto o que estava acordado em contrato que quer renegociá-lo. Então, não tem havido o tipo de maturidade de contratação em que você realmente tem jogadores por acordos muito previsíveis. Por causa disso, há mais volatilidade de elenco", sustenta Ari.
Ele volta a falar da MiBR para argumentar que o clube está forte, apesar das trocas no elenco, porque há uma conexão dos torcedores com a marca. Em business, a equipe vai bem, obrigado.
"Eu acho que a paixão que os fãs têm pela marca MiBR e por fazerem parte da comunidade da MiBR massivamente superaram a razoável expectativa em torno das consequências da rotatividade do elenco", alega o executivo.
Há uma conexão com a MiBR que os fãs continuarão com a MiBR mesmo que os jogadores mudem. Isso não significa que eles não se importem com os jogadores, mas eles também têm uma paixão pela marca
Ari Segal, CEO do Immortals Gaming Club
Profissionais avaliam
Dois profissionais que passaram pela MiBR falaram ao START sobre as dificuldades da equipe nesse período desde o retorno à atividade.
O técnico sérvio Janko "YNk" Paunovic, hoje na europeia FaZe Clan mas que treinou o time brasileiro, avalia os dois anos de nova MiBR como "muito decepcionantes". "Nós todos éramos cientes do nome e da marca e todos queríamos levar a MiBR de volta ao top 1, mas infelizmente isso não aconteceu".
Ele acredita que o principal problema é a dificuldade de se encontrar uma line-up na qual os pro-players acreditem 100% e que se encaixe bem em termos de papéis de cada membro e mentalidade.
"Eles são trabalhadores esforçados, mas, se você não tiver as peças corretas, pode ser muito difícil obter bons resultados. Além disso, o CS é um jogo de confiança e, após uma série de más performances, os jogadores tendem a exercer pressão extra sobre si mesmos e jogam mais para não perder, em vez de jogar para ganhar, o que apenas aumenta o problema", analisa YNk, que acredita que, se a MiBR encontrar o elenco com o qual se sinta confiante, a equipe pode voltar a ser competitiva novamente.
Para João "felps" Vasconcellos, cyber-atleta que teve duas passagens pelo time de FalleN e atualmente defende a BOOM Esports, esses dois anos têm sido os mais difíceis para os companheiros que conquistaram tantos títulos no passado.
Ele acredita que as performances ruins se devem à pressa e à pressão de retornar ao topo do mundo. "A torcida brasileira cobra muito os jogadores e isso os afeta um pouco. Eles acabam forçando trocas que talvez não seriam boas, mas sei que, uma hora, irão acertar".
Em entrevista em transmissão da BLAST Premier Spring American Finals, na última semana, FalleN elogiou o elenco com trk. "Ele é exatamente o jogador que estávamos procurando", arrematou. "Eu acho que ele está indo muito bem, está melhorando a cada jogo e é esse tipo de jogador que você pode contar, que não vai errar muito, que vai conseguir eliminações importantes".
Com trk, a MiBR novamente encheu a torcida brasileira de esperança ao chegar perto de uma conquista novamente, na final da competição da BLAST. Entretanto, a equipe perdeu de novo, desta vez para a norte-americana Evil Geniuses, e manteve a seca de títulos.
"Estamos trabalhando duro e sabemos que novos tempos estão vindo", prometeu Epitácio "TACO" Pessoa. É o que a apaixonada torcida brasileira espera.
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