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OPINIÃO

28 anos da Treasure, o baú de clássicos dos games

De Bucky O’Hare no Nintendinho ao The Simpsons nos fliperamas: conheça o legado da Treasure - Arte/UOL
De Bucky O’Hare no Nintendinho ao The Simpsons nos fliperamas: conheça o legado da Treasure Imagem: Arte/UOL

André "AvcF" Franco

Do GameHall

28/06/2020 12h00

Poucas produtoras de jogos têm um nome tão significativamente preciso quanto a Treasure. Em seus 28 anos de existência, a empresa realmente se tornou um baú de clássicos para vários consoles de várias gerações, mas sempre mantendo um espírito "old school" em seus jogos.

Seja qual for o futuro da Treasure, seu auge aconteceu durante a década de 90 e seu legado ficará para sempre na memória e no coração dos seus fãs.

Enquanto ficamos na torcida para que o estúdio volte a produzir games, relembramos um pouco a sua história.

Vamos, tesouro, não se misture com essa gentalha

Teenage Mutant Ninja Turtles - Divulgação/SquaredPotato - Divulgação/SquaredPotato
Imagem: Divulgação/SquaredPotato

A Konami viveu uma grande fase, tanto criativamente quanto comercialmente, entre o final dos anos 1980 e início da década de 1990, com lançamentos de sucessos tanto para arcade como consoles domésticos.

Nos arcades, títulos como Teenage Mutant Ninja Turtles, The Simpsons, Sunset Riders, e Bucky o Hare eram verdadeiros papa-fichas, enquanto jogos como Castlevania III: Dracula's Curse, Teenage Mutant Ninja Turtles 2: The Arcade Game, Axelay e Super Castlevania IV faziam grande sucesso no NES e Super NES. Conheça mais sobre a história da Konami aqui.

Assim, era comercialmente lógico que a gerencia da Konami na época passasse e exigir que o foco de desenvolvimento de jogos passasse a ser sobre sequências de franquias que àquela altura já eram consagradas, decisão que desagradou alguns dos produtores e programadores que trabalhavam na companhia, entre eles Masato Maegawa, um programador já experiente, com trabalhos em vários jogos da companhia na época, como Bucky o'Hare, Laser Invasion, Rollergames e Castlevania: Adventure.

Masato Maegawa - Divulgação/TecToy - Divulgação/TecToy
Imagem: Divulgação/TecToy

A gota d'água foi quando a Konami recusou um projeto para jogo original de Maegawa, que então reuniu outros funcionários descontentes para fundarem a Treasure em 19 de junho de 1992.

Dois hamburgueres, alface, queijo, molho especial?

McDonald's Treasure Land Adventure - Divulgação/RetroGames - Divulgação/RetroGames
Imagem: Divulgação/RetroGames

Com um staff limitado, de cerca de 10 pessoas, a Treasure não tinha condição de publicar seus próprios games nem de bancar várias produções simultâneas. Então, Maegawa adotou a abordagem que viria a ser a linha-mestra da Treasure para os anos seguintes: combinar a produção de jogos licenciados com a de games originais, de forma que o lucro do primeiro possa ajudar a financiar o segundo.

Assim, a Treasure conseguiu como primeiro contrato a produção de um game terceirizado para a Sega com a licença da rede de fast foods MacDonalds, ao mesmo tempo em que produzia seu game próprio. Então, McDonald's Treasure Land Adventure foi lançado em 1993 para o Mega Drive.

McDonald's Treasure Land Adventure é um curioso e competente jogo de ação e plataforma, algo por um lado um tanto surpreendente, dada a baixa qualidade da maioria dos games licenciados daqueles tempos, mas ao mesmo tempo uma primeira prova do padrão de qualidade dos futuros jogos da Treasure. McDonald's Treasure Land Adventure ainda prece ter servido de base para outro ação e plataforma exclusivo do Mega Drive, Dynamite Headdy, que tem direção de arte e trilha sonora um tanto similares ao game do palhaço vendedor de hambúrgueres.

Heróis pistoleiros

Gunstar Heroes - Divulgação/GamesWorld - Divulgação/GamesWorld
Imagem: Divulgação/GamesWorld

O projeto originalmente recusado pela Konami se transformou em um exclusivo da Sega sob a forma de Gunstar Heroes, um clássico de ação e tiro que se mostrou não apenas um dos melhores games da biblioteca do Mega Drive como um dos melhores games 16-bits já lançados.

Rápido, intenso, com situações de jogos variadas, Gunstar Heroes embasbacou críticos e jogadores e levou o nome da Treasure ao panteão das melhores produtoras de jogos para consoles. Gunstar Heroes também foi a estreia oficial da Treasure, uma vez que embora seu desenvolvimento tenha começado após o de McDonald's Treasure Land Adventure, ele foi lançado alguns meses antes.

O corre-corre da cidade grande...

Yu Yu Hakusho: Makyou Touitsusen - Divulgação/RomHacking - Divulgação/RomHacking
Imagem: Divulgação/RomHacking

Após os lançamentos bem sucedidos de Gunstar Heroes e Dynamite Headdy, a Treasure volta aos games licenciados em 1994 com o lançamento do clássico cult Yu Yu Hakusho: Makyou Toitsusen, novamente exclusivo para Mega Drive.

Mais uma vez a alta qualidade da Treasure se faz presente com um game que pode facilmente ser considerado como o melhor jogo de luta do console de 16-bits da Sega, ao lado de Street Fighter 2.

Jogos de luta estavam na crista da onda naquele tempo, então ao invés de fazer um clone meia-boca como muitas outras produtoras da época, a Treasure combinou os melhores elementos de Street Fighter 2 com o sistema de planos de frente/fundo presente em jogos da SNK como Fatal Fury, para entregar um game que representava os principais arcos do anime de Yoshihiro Togashi.

Embora Yu Yu Hakusho tivesse feito grande sucesso no Japão na década de 1990, desde a publicação do mangá nas páginas da Shonen Jump, tanto o anime quanto o manga eram desconhecidos nos Estados Unidos e Europa, o que fez com que a licença não pudesse sair do Japão.

Yu Yu Hakusho: Makyou Toitsusen só chegou ao ocidente 5 anos depois graças à Tec Toy que trouxe o jogo, rebatizando-o de Yu Yu Hakusho Sunset Fighters, em 1999, graças ao grande sucesso que o anime fazia nas transmissões da extinta Rede Manchete. Hoje, Yu Yu Hakusho Sunset Fighters é um raro e caro item de colecionador.

A bala de prata radiante

Alien Soldier - Divulgação/Shadowserg - Divulgação/Shadowserg
Imagem: Divulgação/Shadowserg

A Treasure ainda lançou mais dois games para o Mega Drive, Alien Soldier e Light Crusader, ambos em 1995, encerrando uma passagem extremamente exitosa pelo console 16-bits da Sega e começando a partir daí o ciclo de desenvolvimento para a geração seguinte, inicialmente com games para Sega Saturn. Como não poderia deixar de ser, o primeiro game da Treasure para o console de 32-bits foi o clássico Guardian Heroes.

Lançado em 1996, época em que o gênero beat em up se encontrava em decadência, Guardian Heroes combinava os melhores elementos do gênero, como ação intensa, controles precisos e sistema de combos com ataques fracos e fortes, com toques de RPG como magias de cura e sistema de evolução de atributos, tudo sob uma direção de arte de fantasia medieval de anime. A variedade no gameplay de Guardian Heroes é tal que o jogo permite partidas com até 6 personagens simultâneos, um marco nos jogos beat em up.

Ainda que Guardian Heroes tenha sido um dos melhores games da biblioteca do Saturn, o fraco desempenho comercial do console da Sega fez a Treasure a começar a desenvolver jogos para as plataformas rivais, Nintendo 64 e PlayStation. Assim, em 1997, Mischief Makers e Silhouette Mirage foram lançados, respectivamente para N64 e PS1, em 1997. No ano seguinte, em 1998, a Treasure então parte para seu primeiro jogo para arcade, ainda hoje um dos maiores clássicos de seu portifólio, Radiant Silvergun:

Gráficos de ponta, ação ininterrupta, e alto desafio fazem de Radiant Silvergun um dos melhores shoot em up já lançados. O game ainda ganhou uma conversão bastante fiel para Sega Saturn, o último game da Treasure para esse console. E por falar em despedidas, a sequência de Radiant Silvergun, Ikaruga, foi o último jogo da Treasure para Sega Dreamcast, console cujo ciclo foi prematuramente encerrado em 2001, mesmo ano de lançamento de Ikaruga.

Uma sequência de classe

Sin & Punishment - Divulgação/Amazon - Divulgação/Amazon
Imagem: Divulgação/Amazon

Nos anos 2000, a Treasure então se concentrou sobretudo nas plataformas Nintendo, tanto de mesa quanto portáteis, mas com seu alto padrão de qualidade intacto. Ainda no Nintendo 64, a Treasure desenvolveu Sin & Punishment, um jogo de tiro em trilho pós-apocalíptico que chamou a atenção da imprensa especializada, apesar de ter sido um título restrito ao Japão.

A parceria com a Nintendo ainda rendeu o lançamento de Wario World, em 2003, um jogo de plataforma 3D para o Nintendo GameCube. A Treasure então concentrou sua atenção no Game Boy Advance, que a despeito da companhia ter sido fundada sobre o descontentamento de trabalhar sobre sequências de franquias, produziu sequências de seus títulos consagrados, como Advance Guardian Heroes, em 2005, Gunstar Super Heroes, em 2006, além de um remake de Bangai-O Spirits (2008), jogo lançado originalmente para o Nintendo 64.

Games baseados em licenças também voltaram ao radar da companhia, com jogos como Astro Boy: Omega Factor (2004), Bleach: Dark Souls e Bleach: The Blade of Fate, ambos de 2008, que além de serem animes, herdaram um sistema de jogo que lembra o de Yu Yu Hakusho: Makyou Touitsusen. Em 2009, a Treasure lançou mais uma sequência, Sin & Punishment: Star Successor, para Nintendo Wii.

Por fim...

Astro Boy: Omega Factor - Divulgação/HardcoreGaming101 - Divulgação/HardcoreGaming101
Imagem: Divulgação/HardcoreGaming101

Em anos recentes, a Treasure tem sido bem menos ativa que no passado, se concentrando em remasters e relançamentos de seus melhores games para os catálogos digitais dos consoles da atuação geração, como PSN, Xbox Live, Nintendo eShop. Exceto alguns títulos licenciados para Nintendo 3DS que são restritos ao Japão, a Treasure não lança nada original há quase uma década.

via GIPHY

Infelizmente, pois como a história mostra, seus títulos quando não são clássicos em seus gêneros, no mínimo se mostram como jogos acima da média. Ainda que a companhia tenha se mostrado um tanto incoerente ao lançar sequências, seus jogos sempre tiveram o mesmo espírito "old school", muitas vezes apostando em gêneros considerados ultrapassados ou fora de moda, mas ainda assim bem sucedidos. Independente do que o futuro venha nos contar, a Treasure honra seu nome é um verdadeiro baú de clássicos dos videogames.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL