Mais cor: coletivos ajudam na inclusão de LGBTI+ em games e eSports
Não é de hoje que a comunidade gamer é conhecida por não ser receptiva às minorias, seja por gênero, orientação sexual e até raça. Recentemente, o caso do canal Mil Grau, que foi denunciado por fazer uma série de ofensas racistas, misóginas e homofóbicas, tem incentivado as vítimas a se unirem.
Diversos projetos no Brasil incentivam pessoas da comunidade LGBTQI+ nos jogos online, seja divulgando streamers, realizando eventos e ações voluntárias. O objetivo é ser uma ponte de jogadores com interesse em comum: jogar de boa sem ser discriminado.
O Vale Colorido de Valorant
Lançado neste ano, Valorant já recebeu diversas denúncias de toxicidade de jogadores por comentários racistas e machistas, ainda na fase beta. Wees Ekat sentiu na pele o preconceito. Em entrevista ao START, a não-binária estava jogando o FPS da Riot quando ativou o chat de voz e recebeu comentários ofensivos de jogadores durante a partida.
"Os comentários só foram escalando de 'ah, é mulher, por isso é horrível assim' e 'é mulher, você não tinha nem que estar jogando isso'. Eu não sabia o que responder, tentei me manter na partida, mas me retirei me sentindo extremamente mal e chorando".
Hoje com o Vale fazemos o possível para criar um local onde as pessoas possam recarregar as energias para não abrir mão do jogo
Wees Ekat, uma das fundadoras do Vale
Pensando em uma maneira de evitar outros ataques e manter um ambiente seguro, Ekat e mais três amigos decidiram criar o Vale, comunidade que ajuda pessoas LGBTQI+ dentro do cenário de Valorant. "Hoje com o Vale fazemos o possível para criar um local onde as pessoas possam recarregar as energias para não abrir mão do jogo", diz a gamer.
Assinando o projeto com os nomes dos personagens, os administradores auxiliam jogadores e streamers da comunidade LGBTQI+ a formar um canal de comunicação para receber denúncias. Ekat afirma que, por se tratar de um game online novo, acredita que isso facilite a criar um ambiente mais inclusivo. "Achamos que é mais fácil mudar algo que está começando e queremos que todas as outras comunidades levem nossa luta como exemplo para também lutar".
Acho que ela [Riot] é a melhor fonte para nos dizer como podemos ajudar sobre os reports e denúncias que são vários que recebemos todos os dias
Wees Ekat, uma das fundadoras do Vale
Tanto Ekat quanto os membros do Vale esperam uma resposta da Riot Games, pois acreditam que facilite nas denúncias que os administradores recebem diariamente. "Acho que ela [Riot] é a melhor fonte para nos dizer como podemos ajudar sobre os reports e denúncias que são vários que recebemos todos os dias."
Fabuloses e poderoses
Criado em 2018, o Projeto Fierce (que vêm da gíria "feroz" usadas pelas drags queen no programa RuPaul's Drag Race) encoraja mulheres e pessoas LGBTQI+ que sofrem discriminação, preconceito e assédio dentro dos games e eSports.
Eu senti a necessidade de fazer algo pra mudar
Juliana Lima, CEO e fundadora do Projeto Fierce
A ideia do coletivo surgiu após o episódio em que uma jogadora trans recebeu comentários homofóbicos e machistas por estar no competitivo de CS:GO (Counter Strike: Global Offensive). Conforme relata Juliana Lima, CEO e fundadora do Projeto Fierce: "Eu senti a necessidade de fazer algo pra mudar, tanto para tentar mudar a concepção da comunidade, que até hoje é algo difícil, mas não impossível para melhorar o dia dela e de pessoas que sofrem esse tipo de coisa também."
Atualmente, o Projeto Fierce conta com a fundadora, de Recife (PE), e outras nove pessoas espalhadas pelo Brasil e Argentina, que produzem conteúdo online, design e eventos (tanto online quanto offline) voltados para a comunidade.
Responsabilidade além dos games
Antes da pandemia, o Projeto Fierce realizou o "eSports Solidário", evento online que reuniu times de Pernambuco com intuito de arrecadar dinheiro, brinquedos e lanches para uma creche em Olinda (PE). "Contamos com 10 equipes ao total, não teve nenhuma premiação para os times. Mas, conseguimos arrecadar R$ 600, doação de roupas, e também biscoitos", diz a CEO.
Mesmo com as restrições da pandemia de Covid-19, as organizações tentam realizar atividades online incentivando a comunidade. Recentemente o Projeto Fierce fez uma parceria com o Sakura eSport (organização para ajudar mulheres a terem uma experiência melhor nos eSports) para criar o Shokugyo, workshops sobre diferentes assuntos relacionados ao cenário de games e eSports realizados uma vez por mês.
"Nossa intenção com o evento é fazer com que as pessoas que sonham em trabalhar nessa área tenham mais conhecimento e se profissionalizem com as informações passadas nos workshops", diz Bárbara "Babisu" Mesquita, social mídia do Sakura eSport em entrevista ao START.
Juliana, CEO do Projeto Fierce, afirma que o intuito do Shokugyo é oferecer ensinamentos que vão além de cyber atleta, mas que englobam outras áreas no cenário de esportes eletrônicos como social media, design, fisioterapia e psicologia. "Gosto muito de falar em oportunidades, da comunidade ampliar seu aprendizado sobre questões que seriam interessantes, muito mais além de ser jogador ou jogadora no cenário eSports".
É isso que a gente quer, a gente quer que as pessoas se unam, se ajudem, iremos sempre estar ao lado da nossa comunidade e lutando por ela
Wees Ekat, uma das fundadoras do Vale
Além de eventos e voluntariado, a comunidade se mantém unida como um companheiro de jogo: ajudar quem cai durante a partida e oferecer suporte. Wess Ekat relata que teve um episódio que a emocionou com a força do Vale.
Um streamer parceiro precisou de atendimento médico após sofrer com um acidente doméstico, porém o gamer não tinha condições de pagar a consulta, o Vale ajudou na divulgação da vaquinha e, no fim, o dinheiro foi arrecadado ajudando o gamer. "É isso que a gente quer, a gente quer que as pessoas se unam, se ajudem, iremos sempre estar ao lado da nossa comunidade e lutando por ela" diz Ekat.
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