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Free Fire: conheça as New Girls, campeãs da Liga NFA feminina

New Girls FF Arte UOL - Arte/UOL
New Girls FF Arte UOL Imagem: Arte/UOL

Thaime Lopes

Colaboração para o START

10/07/2020 04h00

Foi uma vitória suada, mas merecida. Depois de quase um mês competindo, as meninas da line-up New Girls finalmente tiraram das costas o peso da vontade de ganhar a NFA.

Depois de um ano juntas e participação em dezenas de campeonatos amadores, esse é o primeiro título de peso da equipe, que se autofinancia e espera que a conquista mostre para os organizadores da Garena que existe um enorme público feminino esperando mais reconhecimento.

O START conversou com Isabella "HYPE Isa" Fatureto e Bianca "BiaBKR" Sanches, capitãs da equipe, sobre a trajetória da New Girls no competitivo do Free Fire e a importância de ganhar a Liga NFA junto com as companheiras Jennifer "Sete" Marchiori, Julia Yamamoto e Amanda Bicalho.

Em um beta muito, muito distante...

NG1 FF - Divulgação/NewGirls - Divulgação/NewGirls
Imagem: Divulgação/NewGirls

Tanto Isa como Bia começaram suas carreiras no Frifas ainda na época do beta, no começo de 2018. Apesar de terem começado casualmente, não demorou muito para que ambas chamassem a atenção de diferentes guildas por seus desempenhos nas partidas ranqueadas.

"Eu comecei a jogar como um hobby e daí conheci o GG Easy [Ramon Ramalho, fundador da New X Gaming, vencedora da Season 2 da Pro League] e entrei para a guilda dele, que na época era a Magnatas. Ele foi o primeiro cara a ser visionário e querer apostar em uma line feminina, em uma época que só tinha campeonato amador", conta Isa. O pioneirismo de Easy também é um sentimento ecoado por Bia, que completa a fala da companheira: "ele foi um dos primeiros líderes a dar espaço para mulheres no jogo".

Foi por meio da New X que as meninas formaram a New Girls, nome que carregam até hoje, mesmo que atualmente representem a HYPE, time da B4. "Estamos há muito tempo juntas, somos uma das lines mais antigas no competitivo feminino", conta Isa, que disse que apesar de duas integrantes terem saído, a maior parte da equipe é a mesma há mais de um ano. "A gente já passou por diversos momentos, sempre com o único objetivo de crescer dentro do jogo e no competitivo. Tivemos várias conquistas pequenas quando comparadas com o cenário de Free Fire, mas sempre focamos e pensamos em melhorar", completa.

Elas chegaram até a semifinal da Pro League, sendo a única equipe inteiramente feminina a avançar tão longe no campeonato.

O que vale é a experiência

NG FF - Divulgação/NewGirls - Divulgação/NewGirls
Imagem: Divulgação/NewGirls

As líderes da New Girls contam que, antes da NFA participavam de "dois, três campeonatos por dia nos fins de semana". Mesmo depois do título, elas acreditam que os camps amadores são a porta de entrada para novas equipes e também para criar intimidade com o competitivo. Bia comenta que esses torneios "ajudam a lidar com a pressão. Estando há dois anos competindo, nós sabemos que participar desses campeonatos faz a diferença, porque amadurece sua jogabilidade."

Por não terem patrocinadores, a equipe faz acordos com os organizadores dos torneios para que, em troca de uma vaga, divulguem a disputa nas redes sociais. "Na maioria das vezes somos convidadas e fazemos esse acordo", explica Isa. Bia completa: "quando ganhamos prêmio em dinheiro, guardamos uma parte para participar de outros torneios e reinvestimos na própria equipe".

A falta de investimento externo, porém, nunca impediu que as jogadoras desistissem. "A gente passou todo esse tempo carregando nosso nome e acreditando que juntas conseguiríamos atingir nossos objetivos. Acreditamos no nosso potencial e jogabilidade", afirma Isa.

Trajetória conturbada

NFa Feminino Times - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Apesar de terem saído da NFA com o título em mãos, o caminho até lá não foi fácil. Acabaram a primeira rodada em 15º lugar e chegaram a cair para o 16º antes de começarem a subir na tabela. Dentre as 12 equipes que se classificaram para a final, estavam na 10ª posição. Na última etapa, entretanto, a pontuação foi zerada e o formato do campeonato foi o que impulsionou as jogadoras para frente.

"Tivemos um início muito conturbado, porque no início todo mundo tinha uma expectativa sobre nós. Estamos juntas há mais tempo, com mais entrosamento, então era uma cobrança externa e de nós mesmas também. Só que a gente começou e acabamos cometendo muitos erros no início por causa dessa pressão", Isa explica.

"Ficávamos muito inseguras de fazer as coisas que tínhamos treinado o tempo todo. A gente praticava de um jeito e na hora da partida ficávamos com medo de fazer. Mas todo dia a gente entrava pensando em se recuperar, fazer nosso melhor, porque sabíamos que ainda tinha chance de a gente ganhar. Chegou na final e no formato [pontuação zerada] sabíamos que poderíamos ganhar tanto quanto qualquer outro time, mesmo que nossa trajetória tenha sido diferente", fala Bia.

A virada, para elas, aconteceu em dois momentos: o primeiro booyah, que só veio na semifinal, e a atuação impecável de Mikaelly "Mika" Leite na final.

Isa explica como a vitória fez com que o time acordasse, falando que "estávamos muito mal e quando conseguimos ganhar no segundo dia de semi, a gente acordou e pensou: 'vamos conseguir!', por mais que estivesse dando tudo errado", ela conta rindo.
Mudar a estratégia foi o que as ajudou a melhorar o desempenho, Isa fala. "A gente dava muito azar com safe e aí nosso coach [Leirisson "zLero" Matheus] falou para a gente parar de contar com a sorte e pensar em pontuar. Foi isso que fizemos, começamos a comprar trocação com todo mundo. Chegamos a fazer 14 kills em uma única partida sem nem chegar no top 3".

Foi em uma dessas disputas por eliminações que Mika brilhou. O squad estava completo quando, de repente, as meninas da GOD chegaram em um carro e derrubaram todo mundo, deixando só a jogadora em pé. Ela virou o jogo e eliminou o esquadrão adversário inteiro.

"Essa trocação fez toda a diferença, porque estávamos disputando o topo da tabela com a GOD e a Mika ter eliminado todas fez com que a gente saísse em vantagem", detalha Bia.

Atenção, Garena!

B4 FF - Divulgação/Garena - Divulgação/Garena
Imagem: Divulgação/Garena

Para as capitãs do time, as jogadoras profissionais de Free Fire só vão ter espaço quando existir um campeonato oficial, organizado pela própria Garena. "As organizações grandes usam as meninas hoje só para mídia, mas quem jogam são os meninos. Acho muito difícil uma equipe grande querer montar uma line inteira feminina se não existe camp oficial. A NFA é incrível, mas a Garena poderia pensar nesse público também", afirma Isa.

Ela continua o pensamento, explicando que, em sua opinião, a falta de investimento é medo das organizações de não terem retorno financeiro. "As equipes não pensam em montar um time só com mulheres porque acham que, sem torneios oficiais, não vão ganhar o dinheiro delas de volta. A gente quer tentar vaga na Série C da LBFF (Liga Brasileira de Free Fire) porque a gente acha que lá é o único lugar que vamos ganhar o destaque que merecemos. Queríamos ver uma line full feminina lá. Hoje as únicas meninas que jogam como titulares são a Tami e a Laura, da SS."

Machismo de sobra

Garena 1 - Divulgação/Garena - Divulgação/Garena
Imagem: Divulgação/Garena

Mesmo com tantos títulos para o nome, as jogadoras da New Girls não estão isentas da cultura do machismo, tão presente nos games. Durante a NFA, elas contaram que os comentários do público eram os que mais mexiam com elas. Mas não só o público ofendeu as meninas, mas também outros jogadores profissionais.

Bia conta que "eles [os pro players] às vezes fazem comentários machistas achando que estão fazendo uma brincadeira. Quando a gente faz uma jogada muito boa, eles falam 'nossa, nem parece menina jogando'. Por termos uma trajetória longa no Free Fire, acontece bem menos do que para alguma jogadora que está começando agora, mas tem muito julgamento. Temos que manter a cabeça no lugar e focar para não desistir, porque esse tipo de coisa desanima bastante".

Conselho é de graça e todo mundo gosta

NFA Liga Feminina - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Para as garotas que estão começando agora, Isa e Bia reforçam que o mais importante é treinar e focar muito. "Crie uma line com suas amigas, pessoas que você confia e que estejam com você independente dos resultados. A coisa mais forte que a gente tem é a união e a confiança uma na outra. Uma hora o resultado vem", fala Isa.

Bia concorda e completa: "o início é sempre mais difícil, porque tem que evoluir e se encaixar em um time que queira as mesmas coisas que você. Já passamos por muitas coisas boas e ruins juntas e isso só nos fortaleceu. Já desanimamos algumas vezes também, mas uma sempre tá lá para a outra, incentivando. Ter união é confiança é mais importante que tudo. Mantenha o pé no chão e não desista!".

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