A narrativa "está em nosso DNA", diz produtor de The Medium
De todos os vários jogos apresentados pela Microsoft para atrair atenções a sua nova geração chegando no fim do ano, The Medium é um dos mais intrigantes. Anunciado para PC e Xbox Series X, essa é a nova empreitada da polonesa Bloober Team, focada em terror desde tempos do primeiro Layers of Fear.
"The Medium é nosso maior e mais ambicioso projeto até hoje, com cerca de 80 pessoas trabalhando no jogo", revela ao START o produtor Jacek Ziemba. É assustador pensar que, num determinado momento, Layers of Fear 2, Blair Witch e The Medium estavam todos sendo desenvolvidos na Bloober. "Você pode perceber que andamos muito ocupados e pretendemos seguir assim."
A presença de Akira Yamaoka
Quando o jogo foi revelado, há alguns meses, um nome bastante recorrente não só no gênero terror, mas na indústria de videogames de forma geral, fez vários pescoços se virarem para The Medium. Ninguém menos que o compositor e produtor de muitos dos jogos da franquia Silent Hill, Akira Yamaoka, há anos trabalhando com Suda 51 em títulos da Grasshopper Manufacture. Você larga o terror, mas o terror não larga você.
"Estamos honrados e muito animados em trabalhar com Yamaoka-san, especialmente porque Silent Hill 2 é um de nossos jogos favoritos. Influenciou e moldou muitos de nós como desenvolvedores de jogos de horror" diz Ziemba, nitidamente em êxtase por contar com o talento do lendário compositor em seu novo projeto, mas alerta: "Silent Hill 2 é sim uma de nossas maiores inspirações, mas quero deixar claro que não estamos tentando, ou não queremos, fazer outro Silent Hill. Temos nossa própria história para contar, nossas próprias questões para perguntar". E terror, como nenhum outro gênero, é sobre incitar perguntas, e não sobre encontrar respostas.
Yamaoka tem trabalhado lado a lado ao compositor da própria Bloober, Arkadiusz Reikowski, de joias do terror como Observer e Blair Witch, para ir muito além de influências, criando algo novo e revigorante no processo colaborativo. "Arkadiusz e Akira-san estão trabalhando intimamente, juntos para alcançar o máximo do conceito de dois mundos e o que essa dualidade significa para a trilha sonora."
Diferentes percepções da realidade
Ao contrário dos projetos passados da Bloober, The Medium abandona a visão em primeira pessoa e aposta num panorama mais convencional ao gênero, como já visto em Resident Evil, Fatal Frame ou no próprio Silent Hill. Ziemba elabora: "The Medium faz uso de uma perspectiva em terceira pessoa e com ângulos de câmera semi-fixos. Isso não só permite uma apresentação mais cinematográfica e perturbadora, mas também está associado a grande motivação do jogo: como sua perspectiva muda sua percepção."
O terror é ferramenta integral na arte de distorcer e subverter realidades a fim de estabelecer meios concretos para o abstrato. Não é fácil criar esse canal, mas The Medium parece ter todas as suas peças nos lugares devidos. Ou indevidos, dependendo da perspectiva. "Esse pensamento potencializa cada aspecto do jogo, incluindo as câmeras que usamos. Quando você jogar, vai perceber que o que vê, ou acha que vê, depende imensamente de como você olha."
E ainda sobre essa realidade paralela em The Medium, e que, inclusive, fará com que a tela seja dividida, com a protagonista, Marianne, coexistindo em ambas, Ziemba acrescenta: "o mundo espiritual do jogo pode ser descrito como o reflexo do nosso, feito de emoções negativas ou eventos trágicos e esquecidos, enterrados ali, de forma muito profunda. Marianne não tem total controle sobre seu dom. A sua, e a nossa, tarefa é encontrar uma forma de sobreviver a seja lá o que for jogado sobre nós." Parece extenuante. O que é ótimo. Estaremos de mãos dadas a Marianne. "E mais, quando estiver jogando, é preciso lembrar que o mundo, e sua percepção dele, pode mudar a qualquer momento" e é aí que entram as capacidades mediúnicas da protagonista, como destaca Ziemba: "você pode exercer influência num mundo, estando noutro".
Uma médium numa Polônia pós-comunismo
O terror é poderosa catarse, crítica social e retrato de seu tempo. The Medium elabora todos esses conceitos, apresentando cenário, pano de fundo e contexto histórico para aflorar seu terror. "Não é sempre que podemos visitar a Polônia pós-comunismo, ou a década de 1990, em videogames modernos." E sobre o roteiro, Ziemba reafirma a importância de representar o seu próprio país na trama. "O jogo se passa nos anos 1990, quando a Polônia já era um país livre e capitalista. Marianne explora lugares que podem dizer muito sobre a época comunista, especialmente nos anos 1980." Esse é o pano de fundo da coisa toda, não a trama principal. "Ainda assim, mesmo esse cenário tem seu próprio lado graças ao mundo espiritual. Lá, você descobrirá os segredos obscuros de lugares abandonados, como um velho hotel."
Como era a Polônia dessa época? E que peso isso terá para a médium? "A maioria da população era religiosa, mas não é algo que exploramos em nossa história. Apresentamos isso como um fato, por exemplo nos cenários. Ou seja, o mundo espiritual não tem a intenção de ser uma espécie de inferno, limbo ou além, conectado a alguma religião específica." E esse ponto é extremamente importante, pois separa os poderes da protagonista de qualquer preceito de divindade ou milagre. Ainda sobre o outro mundo: "é um lugar cujo design foi pensamento especificamente para o jogo, com os anseios da protagonista em mente, e inspirado pelas pinturas de Zdzis?aw Beksi?ski, um surrealista distópico polonês que, infelizmente, faleceu tragicamente muitos anos atrás."
E como nos jogos passados da Bloober, a narrativa é o fio condutor, como elabora Ziemba: "está em nosso DNA. Ainda assim, será bem mais cinematográfico que nossos trabalhos passados. Exploração será chave no gameplay, mas como queremos contar uma história específica, não criamos mundos muito amplos, nos quais você pode ficar perdido. Haverá monstros, claro, e revelaremos mais sobre isso em breve." Sem arsenal, explosivos ou hordas para lidar, mas definitivamente com quebra-cabeças instigantes e um mundo de jogo único e macabro, com protagonismo feminino forte, The Medium é um dos grandes jogos de horror para o segundo semestre.
The Medium
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