Pai do Nobru: do apoio ao filho no Free Fire ao sucesso com streams
Resumo da notícia
- Depois de ver o filho desistir do futebol e virar astro do Free Fire, Pai do Nobru também virou streamer
- Agora administrador da carreira do filho, ele relembra as brigas e momentos difíceis do passado
- "Jefão" chegou a abrir mão do celular e da procura por empregos para deixar o filho jogar Free Fire no começo da carreira
- Hoje o "Pai" faz lives diariamente e tem mais de 1,6 milhão de inscritos no YouTube
Quando Bruno "Nobru" Goes decidiu abandonar o futebol e fazer streams de Free Fire, Jeferson Moreira, o pai do astro, o apoiou e comprou equipamentos com dinheiro que nem tinha. Ele se tornou o administrador da carreira do filho e seguiu os passos do pro-player do Corinthians para também se transformar em streamer de enorme audiência.
Jefão, como é conhecido o pai de Nobru, faz lives diariamente e tem mais de 1,6 milhão de inscritos em seu canal no YouTube. Neste Dia dos Pais, comemorado hoje (9), a mensagem dele é de que vale a pena incentivar o sonho dos filhos.
BRIGA E RECONCILIAÇÃO
Esta história de sucesso nos eSports e na internet começou no início de 2019, quando Nobru, com 17 anos na época, chamou o pai para uma conversa para dizer que queria abandonar o futebol e se tornar streamer.
Nobru praticava o esporte desde os 9 anos e tentava seguir a carreira profissional, por incentivo e desejo do pai, que tinha o sonho de ser jogador e não conseguiu realizar.
"Eu fiquei um pouco decepcionado, tínhamos investido neste sonho de futebol. Tivemos uma discussão de pai e filho e ficamos afastados por uma semana, meio que sem se falar", relembra Jeferson, de 34 anos, em entrevista ao START.
Porém, a consciência paterna e o desejo de apoiar Nobru falaram mais alto. "Eu parei para pensar: 'eu prometi ajudar e estar ao lado do meu filho e agora que ele está decidindo o futuro dele, vou virar as costas? Eu estou errado, vou procurá-lo'. Pedi que o Bruno me explicasse sobre isso".
Jeferson admite que, até aquele momento, não conhecia os jogos eletrônicos e os eSports.
"Eu venho de um passado em que a diversão era jogar futebol e bolinha de gude, era soltar pipa. Para mim, game não era principalmente uma profissão. Era uma diversão que poucos poderiam ter, e eu venho de uma família pobre", conta Jeferson, que morava com a ex-esposa e Nobru em uma casa em uma favela chamada Jardim Novo Oriente, em Campo Limpo, em São Paulo.
BOTA NO CARTÃO DE CRÉDITO
Na época em que Nobru o chamou para a conversa que mudou as vidas deles, Jeferson estava há quatro meses desempregado e a ex-mulher também não tinha trabalho. Contas de água e luz estavam atrasadas; o aluguel era pago com dificuldade; pai e filho usavam as mesmas roupas para economizar.
Nobru, que teve o celular roubado quando era criança e não quis outro, pediu o aparelho do pai para jogar. Administrador, Jeferson usava o smartphone para procurar emprego e mandar currículos. O jogador ia jogar na residência da avó, a poucos metros de casa, onde o sinal de internet pegava melhor. Eram horas e horas de jogatina.
"Eu deixei meu celular com o Bruno, abri mão de procurar vagas de emprego e apostei muito nele", rememora Jeferson, que, além de perder o meio pelo qual tentava retomar a renda, ainda teve que fazer compras com dinheiro que nem tinha.
Eu deixei meu celular com o Bruno, abri mão de procurar vagas de emprego e apostei muito nele
Jefão, o Pai do Nobru
Para poder começar com as streams, Nobru precisava de uma webcam, uma placa de captura de vídeo e um headset. Ele sugeriu que o pai, sem dinheiro, comprasse os equipamentos no cartão de crédito.
"Eu cheio de contas para pagar. Mas, entre o cartão de crédito e o sonho do meu filho, o que pesa mais é o sonho dele", conta Jeferson sobre a decisão que tomou. "Eu parcelei tudo em dez vezes e eu tenho certeza que, a partir daquele momento, Deus olhou para nós e começou a nos ajudar. Foi tudo muito rápido".
STREAMS E CARREIRA ESPORTIVA
Habilidoso dentro de jogo e carismático fora dele, Nobru passou a conquistar público cada vez maior em suas lives, inclusive sendo contratado por plataformas de streaming.
Ele ainda entrou, em outubro de 2019, para a equipe de Free Fire do Corinthians. No mesmo ano, conquistou o título brasileiro na 3ª temporada da Pro League e venceu o Mundial, disputado no Rio de Janeiro, tendo sido escolhido o melhor pro-player do planeta. No Prêmio Esports Brasil, levou três troféus, nas categorias Melhor Atleta de Free Fire, Melhor Atleta e Craque da Galera.
Foi a consagração para Nobru e o pai - ambos, aliás, torcedores do Timão. O jogador não representou o Corinthians nos gramados, como sonhava Jeferson, mas sim nos campos virtuais.
Foi um sonho e aconteceu da melhor maneira possível, principalmente por sermos corintianos. Realizamos este sonho. Foi incrível
Jeferson Moreira, pai de Bruno "Nobru" Goes
DE MODERADOR A STREAMER
Quando as lives de Nobru começaram a bombar, Jeferson passou a fazer a moderação do chat e a ajudar o filho no planejamento das transmissões. Engana-se quem pensa que era tudo intuição e impulso.
Os dois pensavam em formatos, conteúdos, horários e inspiravam-se em influenciadores consolidados, como Lucio "Cerol" dos Santos, Rodrigo "El Gato" Fernandes e Ramon "GGEasy" Raynny. "Sempre olhávamos o que tinha de melhor nos streamers maiores para colocar nas lives do Bruno e pensávamos no que poderíamos fazer de diferente".
Por estar próximo, o pai de Nobru participava de lives do filho, rodando as roletas de jogos de sorte que ocorrem dentro do Free Fire. Extrovertido e comunicativo, Jeferson conquistou a audiência, que passou a cobrar que o pro-player colocasse o pai para participar mais vezes das transmissões.
Daí para os pedidos que Jeferson criasse o próprio canal no YouTube, não demorou muito. Ele, apoiado por Nobru, resolveu começar a fazer streams, em maio deste ano.
"Eu me preocupei porque não sabia jogar o jogo, iria passar vergonha. O Bruno me disse: 'o seu tipo de stream vai ser de diversão. O pessoal vai assistir para ver você brincando e, em último aspecto, vai ficar o jogo'. Eu aceitei o desafio", conta Jeferson, que, desta vez, veja só, recebeu conselhos do filho.
Hoje, o canal de Jefão no YouTube tem mais de 1,6 milhão de inscritos. As transmissões têm audiência média de 200 mil a 800 mil visualizações. A primeira live dele no canal contabiliza, hoje, mais de 1,3 milhão de visualizações.
O perfil de Nobru no Youtube conta com 9,5 milhões de seguidores e soma mais de 500 milhões de visualizações.
VIDA DE STREAMER
Segundo o pai do cyber-atleta, ter se tornado streamer é, ao mesmo tempo, "fácil, difícil e gostoso".
"É fácil porque o Bruno tem público engajado e me ajuda muito nas streams e nas redes sociais. É difícil porque, por ser o pai do melhor jogador do mundo, tem uma parte do público que gosta de jogabilidade e me cobra habilidade, e eu sou um jogador comum. E é gostoso porque eu posso interagir com o público, que nos dá muito carinho e apoio", explica Jeferson.
Ele admite que se inspira no filho para fazer as suas lives, "principalmente no conteúdo interativo". "Em jogabilidade não tem como, mas na interatividade eu me espelho muito na dele. Eu tento trazer coisas da dele e fazer as minhas também".
ADMINISTRADOR NOS ESPORTS
Atualmente, Jefão trabalha como administrador da carreira de Nobru e é remunerado por isso, podendo usar a experiência de quando trabalhava no ramo de clínicas médicas e hospitais. Ele, em breve, começará a receber as remunerações das lives no YouTube. "Eu pretendo viver da renda de streamer".
Estar no universo dos games tem sido recompensador pelo carinho do público e pelos depoimentos emocionantes de quem, assistindo às transmissões, encontra forças para lutar contra depressão e outras doenças.
"Quando se recebe uma mensagem desta, de que você mudou a vida de uma pessoa, seu trabalho toma outros rumos. Dá um 'up' para você falar mais com o pessoal e mandar mais mensagens positivas", diz Jeferson, lembrando do dia que recomendou que os espectadores se reconciliassem com os pais se estivessem brigados com eles. Duas pessoas mandaram mensagem contando que haviam atendido o conselho.
Jeferson, aliás, se dá bem com a mãe de Nobru, com quem se relacionou por oito anos a partir da adolescência. Ele tinha 15 quando se envolveu com a moça, e dessa relação de adolescente em uma noite nasceu o pro-player.
Apesar do gravidez inesperada, Jeferson sempre quis ter filho, principalmente se fosse homem. Além do Nobru, ele é pai de uma menina, com a mesma companheira dos tempos de adolescente.
"Eu fui criado sem pai. Desde a minha infância, queria um pai para desabafar, falar sobre mulheres, futebol, papo de homem. Minha mãe foi uma supermãe, nunca me deixou faltar nada, mas faltava a presença de um pai. O meu sonho era ter um filho homem, para ser o pai que eu nunca tive", descreve Jeferson.
Por eu ter sido pai muito novo, o Bruno é meu irmão, meu amigo, meu companheiro de trabalho e meu filho
Jeferson Moreira, pai de Bruno "Nobru" Goes
FILHOS E SONHOS
Como há muitos pais que, nos dias de hoje, veem os filhos sonharem com uma carreira nos eSports, Jeferson dá o conselho de que é preciso apoiar os sonhos dos jovens. Ele é a prova de que pode dar certo!
"Que vocês possam dar a direção ao filho de vocês, é a base de tudo. Os eSports são uma área nova, que não faz parte do passado de nós que somos mais de idade, mas, de hoje em diante, o futuro é digital. Fiquem do lado, apoiem e sejam amigos dos filhos de vocês", declara o pai de Nobru.
Para Jeferson, o Dia dos Pais "é todos os dias". "O amor é uma sucessão de coisas, não é só palavras. Eu e meu filho temos esta troca todos os dias. Nos amamos e cativamos muito. O Dia dos Pais é todos os dias porque eu me sinto um superpai com o que o Bruno me entrega de carinho, amor, atenção e reciprocidade".
Os dois ainda moram na casa da mãe de Jeferson, no Campo Limpo, onde a carreira de Nobru teve início. Eles estão em busca de uma casa nova para dar sequência a esta história de companheirismo, amor e sucesso.
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