O Capítulo Um de Tell Me Why, novo jogo para Xbox One e PC dos criadores de Life is Strange, é o típico episódio de introdução, e foca em estabelecer todo o terreno para o que virá a seguir, nos dois capítulos restantes que vão formar o game por completo.
Também por isso, esse contato inicial é curto, acaba com uma cena que te deixa imediatamente com vontade de jogar o próximo, mas principalmente, traz temas como instabilidade emocional, a importância da família e a representatividade LGBTQ+ com muita naturalidade.
Representatividade não é um monstro de sete cabeças
Seguindo a mesma linha vista em Life is Strange, Tell Me Why é um jogo em que a narrativa importa bastante.
E a história mostra dois irmãos gêmeos, Alyson e Tyler, que ficaram 10 anos separados e agora se reencontram para vender a antiga casa da família, localizada na pequena cidade de Delos Crossing, no Alasca.
Uma das coisas que mais chama a atenção no jogo é a forma como a transexualidade de Tyler, um homem trans, não é, em nenhum momento, tratada como tabu.
Esse não é o ponto central da história, apesar do assunto ser levantado quando retornam para a cidade onde cresceram e ele é reapresentado a figuras importantes da infância.
Enquanto Tyler está confortável em ser quem ele é, confrontando, quando necessário, comentários de quem se assusta com sua transição, Alyson não é menos protagonista do jogo por conta disso.
Em vez de encher o irmão de perguntas, ela se educou sozinha sobre o assunto. Por isso, ela age com naturalidade ao reencontrar Tyler, sempre fala dele usando pronomes masculinos, apresentando-o como irmão - mesmo para quem o conheceu na infância - e reafirmando sua masculinidade.
Alyson é a aliada perfeita que, infelizmente, muitas pessoas LGBTQ+ não tem. O Brasil, por exemplo, é o país que mais mata pessoas trans no mundo. Em 2019, foram mais de 120 pessoas trans assassinadas.
Ao conversar com qualquer um que se sinta representado na bandeira do Orgulho, é mais fácil ouvir histórias de famílias que excluíram seus filhos e netos do que histórias de inclusão.
(Tell Me Why) me trouxe uma paz que eu nem sabia que eu estava procurando
O mais incrível é saber, num determinado momento do jogo, que a infância de Tyler e Alyson também foi pautada pela identidade de gênero do irmão. O primeiro nome que ele escolheu para si, Ollie, é o único que conhecemos além do atual.
Em nenhum momento o jogo menciona o nome de registro, e Alyson, mesmo criança, chama-o de irmão.
O respeito e esse tipo de preocupação é fruto da colaboração do estúdio DONTNOD com a GLAAD (Gay & Lasbian Alliance Against Defamation), uma ONG norte-americana que orienta a mídia em como retratar pessoas LGBTQ+.
Como uma mulher lésbica, participar como espectadora dos momentos em que os gêmeos falam com tanta facilidade sobre identidade de gênero e sexualidade me trouxe uma paz que eu nem sabia que eu estava procurando.
Percebi, então, que isso é devido ao fato de o jogo justamente não focar nesse assunto: é o que é. E pronto.
Tell Me Why mostra que pessoas LGBTQ+ possuem os mesmos problemas, traumas e felicidades que qualquer um. E isso aquece o coração.
Conexões superpoderosas
Além do foco na narrativa, esse não seria um jogo da DONTNOD sem algum tipo de poder subrenatural para justificar alguma mecânica no jogo.
Em Tell Me Why, o imaginário popular de que gêmeos tem conexões fortes é a desculpa para que Alyson e Tyler compartilhem de duas habilidades:
Uma é o poder de um conseguir falar dentro da cabeça do outro; e a outra é a possibilidade de revisitar memórias quando estão em determinados lugares juntos.
É por meio dessas habilidades que revisitamos o passado dos irmãos, vendo da perspectiva deles vários dos acontecimentos que acabaram desencadeando eventos trágicos do passado deles.
São também nessas viagens entre passado e presente que a narrativa do jogo se mostra envolvente, porque enquanto as versões adulta dos gêmeos são muito mais céticas sobre o que aconteceu, as crianças que conhecemos são cheias de imaginação e criatividade.
Revisitamos brincadeiras, esconderijos, apelidos e até um livro de histórias - o Livro dos Goblins - que ao longo da trama se torna um ponto importante para entender certos acontecimentos.
É fácil querer o bem e se identificar com Alyson e Tyler porque eles foram e são como nós: crianças que viam o mundo de um jeito colorido e que, conforme a vida foi acontecendo, deixaram a imaginação de lado para lidarem com os problemas "de adulto" que a idade traz.
O gostinho de "quero mais"
No fim, o primeiro capítulo de Tell Me Why faz uma revelação que faz questionar tudo o que aprendemos até então e, de quebra, incentiva a queremos jogar a próxima parte imediatamente.
Entre uma parte e outra é necessário digerir os traumas, as memórias
Sabendo que esse "cliffhanger" deixaria todos os jogadores com gostinho de quero mais, a DONTNOD adotou uma estratégia de cada capítulo ser lançado com apenas uma semana de diferença.
Para os ansiosos, é difícil. Mas, do ponto de vista da proposta do jogo, faz sentido: entre uma parte e outra é necessário digerir os traumas, as memórias e, principalmente, a tal cena do final.
A ideia de Tell Me Why é causar reflexão, e não simplesmente entreter - e ele faz isso de um jeito leve, educativo e que traz para todos nós aquela saudade boa de ser criança, ao mesmo tempo que aprendemos a navegar pela vida adulta sabendo que nossa infância talvez não tenha sido tão mágica assim.
*A cópia do jogo usada foi enviada pela assessoria da Microsoft ao START
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