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OPINIÃO

GoldenEye 007: o jogo de Nintendo 64 que tinha tudo para dar errado

A temida "Golden Gun" em ação no jogo GoldenEye 007, de Nintendo 64 - Reprodução
A temida "Golden Gun" em ação no jogo GoldenEye 007, de Nintendo 64 Imagem: Reprodução

André "Avcf" Franco

Do GameHall

09/10/2020 04h00

Jogo rápido

  • Game lançado em 1997 provou que era possível ter bons jogos de tiro fora dos PCs
  • Desenvolvimento foi caótico: a Nintendo cortou verbas, e a desenvolvedora Rare bancou a reta final do projeto
  • Jogo foi inovador em controles, modos multiplayer e também no design de fases

Há 23 anos chegava às lojas o clássico improvável GoldenEye 007, para Nintendo 64. Improvável porque até então o agente secreto James Bond não passava de um coadjuvante no mundo dos games, e também porque ninguém em 1997 imaginava que jogos de tiro em primeira pessoa pudessem funcionar fora dos computadores pessoais.

Não era para menos: os FPS (first person shooters, ou jogos de tiro em primeira pessoa) nos consoles se resumiam a péssimas conversões de títulos famosos para PCs, que também costumavam contar com mais recursos técnicos que os consoles dos anos 1980 e 1990. Até que uma certa desenvolvedora chamada Rare surgiu com Bond, James Bond, para mudar essa escrita.

Tinha tudo para dar errado

GoldenEye 007 - Reprodução - Reprodução
A icônica capa de GoldenEye 007
Imagem: Reprodução

GoldenEye 007 tinha tudo para dar errado, mas a persistência e o talento dos desenvolvedores da Rare salvaram o projeto. Primeiramente, como o filme "007 contra GoldenEye" havia sido lançado nos cinemas em 1995, o projeto inicial previa um game para Super Nintendo com o suporte do chip Super FX. Como a equipe responsável pela produção não tinha qualquer experiência com jogos de tiro, inicialmente pensou-se em tentar um jogo com movimentação em trilho, similar aos jogos de tiro presentes em fliperamas, ideia que não deu certo.

O projeto sofreu atrasos seguidos, levando o jogo para o console seguinte da Nintendo, o Nintendo 64 (que ainda se chamava "Reality"). Isso tornou tudo ainda mais difícil, pois os produtores da Rare ainda tinham que aprender ainda lidar com a nova máquina e se virar com as incertezas quanto às especificações finais que aparelho teria.

Nintendo 64 - Yvonne Hemsey/Getty Images - Yvonne Hemsey/Getty Images
Um Nintendo 64 com alguns de seus games mais clássicos: sonho de consumo nos anos 90
Imagem: Yvonne Hemsey/Getty Images

Para tornar tudo ainda mais difícil, a Nintendo cortou o financiamento faltando alguns meses para a conclusão do jogo, o que obrigou a Rare a bancar sozinha a reta final de desenvolvimento de GoldenEye 007.

Deu tudo certo no final. A inexperiência da equipe responsável levou GoldenEye 007 a adotar soluções fora do padrão da época, que culminaram em uma experiência bastante distinta de outros FPS. Um exemplo disso são as bases militares e prédios com salas vazias que nada acrescentavam aos objetivos de fase, mas que ao mesmo tempo produziam uma experiência mais autêntica. Ainda nesse sentido, muito antes de o recurso ser um padrão, GoldenEye já tinha uma opção de controle que previa dois analógicos, com o jogador usando um gamepad em cada mão. Lógico, é bem desengonçado e não se compara com o que há hoje, mas funciona, por incrível que pareça.

Configuração de controles do GoldenEye - DF Retro - DF Retro
Configuração de controle do Goldeneye
Imagem: DF Retro

Uma campanha fora do padrão

Goldeneye ganhando notão da Ação Games - datassette.org - datassette.org
Review de GoldenEye na revista Ação Games
Imagem: datassette.org

Ainda que jogos consagrados da época, como Duke Nukem e Quake, fossem brilhantes em suas propostas de jogo, suas campanhas eram pouco inovadoras. Grosso modo, a construção de fases era baseada em fazer o jogador procurar chaves para abrir setores bloqueados e seguir avançando. GoldenEye por sua vez, retratava missões de um agente secreto (e não de um soldado que lutava contra monstros espaciais ou demônios), envolvia situações como extração de documentos, desarme de bombas, resgate de reféns, invasão de computadores.

Enquanto a maioria dos jogos do gênero tinha fases longas, que se estendiam ainda mais nas missões finais, GoldenEye variava entre fases mais longas e curtas, sem cansar o jogador.

Outro ponto que contribuía para essa variedade era a grande quantidade de ambientes presentes no game. Assim como no filme, James Bond também passava por vários países e locais diferentes no Nintendo 64.

As telinhas da discórdia

Se em 1997 os jogadores de PC já começaram a sentir o gostinho de internet em partidas via modem, a Rare se desdobrou para oferecer experiência similar no console da Nintendo. Aproveitando-se das quatro entradas para controle, GoldenEye 007 entregou uma das experiências multiplayer mais divertidas dos consoles até a chegada das partidas pela internet. Mesmo as diminutas televisões de 14 polegadas, ainda muito comuns na década de 1990, foram palco para partidas acirradas, criação de rivalidades e destruição e recriação de amizades a partir da tela dividida.

Ainda que o Nintendo 64 sofresse severos problemas de desempenho nas partidas com 4 jogadores, tais limitações não impediam a diversão dos envolvidos. Pergunte a quem perdeu madrugadas nos vários modos multiplayer presentes, como "proximity mines" e "golden gun".

Jogue outro dia

Goldeneye na Super Game Power - datassette.org - datassette.org
GoldenEye 007 na revista Super GamePower
Imagem: datassette.org

O sucesso de GoldenEye 007 não apenas gerou uma sequência (Tomorrow Never Dies, lançado em 2000 pela EA), como levou o gênero dos jogos de tiro em primeira pessoa para os consoles. Assim como o Nintendo 64 recebeu várias conversões de títulos de PC (Quake, Quake II, Hexen, Duke Nukem, Doom 64, Rainbow Six), o sucesso desse tipo de jogo incentivou o lançamento de títulos originais, como Turok 2 e Perfect Dark.

Por sinal, não foi à toa que a Perfect Dark Zero, sequência do título de Nintendo 64, foi jogo de lançamento do Xbox original, assim como a Sony também investiu em diversos FPS para seu PS3, e a geração seguinte a do Nintendo 64 viu uma explosão na quantidade de títulos de tiro.

Assim, é justo dizer que o sucesso e a influência de James Bond em GoldenEye 007 contribuíram para pavimentar o caminho dos jogos de tiro em primeira pessoa, transformando o gênero, antes restrito ao monitor e mouse, em um tipo de jogo popular entre muitos jogadores e jogadoras que curtem um game na tevê da sala, de controle na mão.

GoldenEye 007, assim como os diamantes, é eterno.

GoldenEye 007 Reloaded - Divulgação - Divulgação
GoldenEye 007 Reloaded, de 2011, foi uma das tentativas de resgatar o clássico game de Nintendo 64
Imagem: Divulgação

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