Janela de transferências do LoL: pro-players contam como é buscar emprego
Resumo da notícia
- Com "flyers" no Twitter e até currículo no LinkedIn, jogadores profissionais de LoL saem em busca de recolocação para 2021
- START conversou com pro-players iniciantes e veteranos, que revelam expectativa e ansiedade pelos próximos passos
- Em 2021, o CBLoL terá 10 equipes e funcionará como franquia, sem rebaixamentos
A janela de transferências do League of Legends (LoL) brasileiro é uma fase decisiva para a carreira de cyber-atletas e treinadores, especialmente para aqueles que estão sem equipe. O período de trocas para a temporada 2021 tem peso maior em razão do início do modelo de franquia do Campeonato Brasileiro (CBLoL).
Antes mesmo de a janela ser aberta oficialmente, a movimentação nos bastidores já era intensa. Muitos jogadores anunciaram estar sem time e outros, ainda sob contrato, informaram terem sido liberados para receber propostas. Eles recorreram às redes sociais para se colocarem no mercado.
O START entrevistou jogadores profissionais e técnicos do LoL para contar, a partir da perspectiva deles, como é esse período em que são definidos os elencos dos clubes após intensas negociações.
A Riot Games anunciou a abertura da janela de transferências no dia 09/11, depois da publicação desta reporagem. O período estipulado pela empresa vai de 09/11 às 23h59 do dia 14 de dezembro.
Como funciona a janela de transferências do LoL
Instituída em agosto de 2015, a janela de transferências do LoL é a época do ano em que os clubes podem concretizar as transações de pro-players e treinadores. Eram duas por temporada, entre cada uma das etapas do CBLoL e do Circuito Desafiante, o torneio da 2ª divisão. Não há informações, ainda, de como será a partir de 2021, com o início da franquia.
A Riot Games Brasil disse ao START que, "por conta dos trâmites para as parceria de longo prazo do CBLoL, ainda não tem a data definida da janela de transferências" de 2020/2021.
Segundo o regulamento do cenário competitivo de LoL, as organizações não podem contatar diretamente os jogadores ou técnicos, precisando se comunicar primeiro com a diretoria das equipes pelas quais eles são contratados, sob pena de punição.
Quem não tem contrato vigente ou é liberado para negociar com outros clubes pode anunciar isso publicamente, como já fizeram mais de 40 competidores participantes do CBLoL e do Circuito Desafiante nas últimas semanas. Eles utilizam as redes sociais para expor seus currículos, conversam com diretores e gerentes das equipes e buscam recomendações.
É uma fase de propostas, negociações e, é claro, muita ansiedade, em razão da importância deste período, decisivo para a carreira.
O atirador Humberto "Garo" Peixoto teve o contrato com a Prodigy Esports rescindido e logo fez o anúncio nas redes sociais para abrir as portas a outros clubes.
"É um momento de incerteza, não se sabe o que será do seu futuro, para onde irá e se conseguirá algo bom, mas não há para onde correr. Tem que passar por isso", comenta Garo.
No currículo que publicou no Twitter, o atirador fez questão de destacar que tem inglês fluente e que realizou bootcamp (período intensivo de treinamento) na Coreia do Sul, a meca dos eSports e do LoL.
Outras informações comumente destacadas pelos competidores nos currículos virtuais são o nível que eles detêm no modo ranqueado (solo queue), as equipes pelas quais passaram e as conquistas competitivas, além de características profissionais e pessoais e os meios de contato.
"Flyer" no Twitter e currículo no LinkedIn
O caçador Jonas "Caos" Vriesman recorreu a um designer da Vivo Keyd, equipe da qual fazia parte e que o liberou por não ter sido escolhida para a franquia, para caprichar na imagem do post na rede social.
"É o seu trabalho, o seu futuro, tem que passar uma boa impressão", defende o cyber-atleta. "Fazer um post bonito e bem apresentado mostra que você é caprichoso e se importa. Se capricha fora do jogo, será uma pessoa dedicada dentro dele".
Ele destaca que, hoje em dia, não basta ser habilidoso. O pro-player precisa ter outras competências que contribuam para a equipe e para o bom ambiente no elenco.
Fora do cenário competitivo desde o término de 2019, o atirador Daniel "danz0r" Mussoi declarou estar aberto a propostas em publicação no LinkedIn, rede social para negócios e mercado de trabalho útil ao mundo corporativo, mas ainda pouco utilizada por jogadores e treinadores de eSports.
"Eu queria tentar atingir o máximo de pessoas possível e, criando o LinkedIn, eu achei que poderia refletir um pouco do profissionalismo que eu tenho. Eu tive o maior cuidado para mostrar o profissional que eu sou e montar um currículo que o pessoal curtisse", explica danz0r.
Ele está apostando todas as fichas nesta janela transferências, em uma fase que classifica como "de vida ou morte".
EU ESTOU BASTANTE OTIMISTA E BEM ANSIOSO, PORQUE, SE EU CONSEGUIR ENTRAR AGORA [EM UMA EQUIPE DO CBLOL], EU SEI QUE SERÁ UMA OPORTUNIDADE QUE PODE MUDAR A MINHA VIDA. AO MESMO TEMPO, EU FICO PREOCUPADO, PORQUE, SE NÃO ROLAR, NÃO SEI COMO SERÁ DAQUI PARA A FRENTE. ESTOU ENFRENTANDO UMA SITUAÇÃO DE VIDA OU MORTE
Daniel "danz0r" Mussoi, sobre a janela de transferências do LoL
Caçador da KaBuM, o experiente Gabriel "Revolta" Henud ironizou a onda de publicações com currículos dos cyber-atletas, recheadas de exaltações às qualidades:
Outros jogadores e treinadores retuitam os posts de quem está à procura de emprego para fazer recomendações.
Agente em ação
Liberado pela Vivo Keyd, o suporte Matheus "Professor" Leirião também publicou no Twitter sobre estar livre para negociações, mas conta com o trabalho de um agente para representá-lo e atuar nesta janela de transferências do LoL.
"Com tanta coisa, às vezes você não consegue fazer tudo ao mesmo tempo. Ter uma pessoa de sua confiança auxiliando, conversando e fazendo coisas por você é essencial nos dias de hoje", acredita Professor.
Ele relata que, nestes dias, continua treinando e mostrando, dentro do jogo, o seu potencial. "Eu trabalho com coisas que posso fazer e tento fazer a minha imagem perante o mercado. Eu estou mostrando meu valor. A última etapa não foi boa, mas em solo queue eu estou me destacando bem. Eu faço o que dá. Tem coisas que fogem do nosso alcance. Eu não posso controlar quem os times irão comprar, mas eu posso controlar ser um bom jogador e uma boa adição para os clubes".
TUDO COMEÇA COM UM POST ANUNCIANDO QUE VOCÊ ESTÁ DISPONÍVEL NO MERCADO, É O PRIMEIRO PASSO. O SEGUNDO É COMO VOCÊ FAZ CONTATO COM AS ORGANIZAÇÕES
Matheus "Professor" Leirião, sobre a janela de transferências do LoL
Contrato planejado
O meio Bruno "Brucer" Pereira revela que, assim como diversos cyber-atletas, assinou contrato só até novembro de 2020 para que o término do vínculo coincidisse com a janela de transferências para a franquia.
Dos 134 contratados por equipes do CBLoL e do Circuito Desafiante que constam na base de dados da Riot Games, 47 tinham contratos válidos só até novembro de 2020 —o que representa 35% do total. Nesses casos, os jogadores podem negociar sozinhos e não precisam do aval da equipe que representavam.
"Estou esperando a janela de transferências para ver como será, escolher o time e tentar entrar na franquia de todo jeito", diz Brucer, que estava na Team One desde maio de 2017.
"É a primeira vez que eu fico free agent [sem contrato com uma equipe]. Desde o início da minha carreira, em 2014, eu sempre tive time. Eu estou extremamente ansioso e um pouco preocupado para saber o que irá acontecer", admite o jogador. Ele tem buscado conselhos de companheiros de profissão para saber como agir nesta fase.
Brucer argumenta que, como a franquia dá estabilidade aos dez participantes, os clubes deverão investir em novos talentos para os elencos da 2ª divisão, o que poderá reduzir o espaço para parte dos cyber-atletas hoje consolidados no cenário brasileiro.
Medo de rejeição
Com isso em mente, o caçador João Vitor "zuao" Morais, antes na Falkol Esports, não esconde o receio de ser preterido e ficar fora das competições oficiais a partir de 2021.
"Eu estou preocupado, já pensando no que eu poderia fazer caso não tenha oportunidade, o que é muito triste, porque eu sei do meu potencial e que sou muito bom, mas infelizmente eu fiz algumas escolhas na condução da minha carreira que talvez não tenham sido as melhores e acabei sendo muito prejudicado", confessa o pro-player, lamentando os últimos resultados que obteve em competições.
"Eu tive muitas oportunidades e bati muito na trave. Eu odeio dizer isso, é meio doído, mas o espaço para jogadores como eu vai encurtar, porque os times não vão querer macacos velhos na equipe academy [da 2ª divisão]. Eu acho isso muito bom para o nosso cenário, mas não necessariamente é bom para mim", conclui o caçador.
Novas oportunidades
O ex-treinador da Redemption POA Gabriel "Von" Barbosa exalta que, nesta janela, deverá haver a maior renovação de elencos da história do cenário brasileiro, justamente pela possibilidade de contratação de promessas para os times B.
"Para mim está sendo um momento bem importante, porque eu estou focado em expor minha ideia de que eu gostaria de trabalhar com uma equipe técnica forte. Eu acho que falta, para o Brasil, um time que invista em ter uma comissão técnica competitiva", analisa Von. "Esta época é de bastante conversa. Por se tratarem de altos investimentos, os projetos têm que ser alinhados. Mais do que nunca os empregadores irão querer pessoas capacitadas".
Todos os entrevistados pelo START citaram a qualidade do elenco e/ou a estrutura do clube como principais pontos a serem considerados na escolha da equipe ideal, deixando o valor do salário e outros benefícios em segundo plano.
"Quando chega na janela de transferência, tem que começar a pensar mais ou menos no que você quer. Tem que avaliar qual será comissão técnica, o salário, com quem irá jogar junto. É um momento em que você tem que pensar bastante em como quer seguir. 'Quero jogar CBLoL? Quero ficar em um bom time, mas que não tenho chance de jogar muito?' Mexe com a filosofia do que você quer fazer naquele ano. Tem que pensar muito e ter conversas também, para estar por dentro e criar certas amizades", descreve o topo Bruno "Kennedys" Goularte.
Ele era da Havan Liberty, que, apesar da alta expectativa da comunidade, acabou não sendo selecionada pela Riot Games Brasil para o CBLoL.
Suave na nave
Estar em uma organização escolhida para integrar a franquia dá tranquilidade maior neste período turbulento e decisivo.
É o caso do suporte Pedro "zirigui" Vilarinho, cyber-atleta veterano que, nos últimos anos, esteve longe dos holofotes. Ele participa, desde fevereiro, da Rensga Esports, equipe de Goiânia (GO) que surpreendeu muita gente ao entrar para a seleta lista do CBLoL.
"Não só por ter entrado na franquia, mas, por ter sido com a Rensga, é muito especial", exalta zirigui, que ficou na expectativa, desde o término do último Circuito Desafiante, pelo anúncio dos clubes selecionados. "Ficou muito feliz mesmo de estar aqui".
Para o suporte, a janela de transferências do LoL já era uma época decisiva, mas ganhou importância ainda maior nesta transição para 2021.
"É um momento delicado, em que todo mundo tem que ficar atento, jogar muito LoL, se destacar e estar por dentro de tudo", acredita zirigui.
SE VOCÊ NÃO SE MANTIVER EM ALTO NÍVEL, NO MELHOR DA SUA PERFORMANCE, SERÁ TROCADO. COM A FRANQUIA ENTRANDO ISSO IRÁ SE TORNAR MAIS REALIDADE AINDA
Pedro "zirigui" Vilarinho, sobre a janela de transferências do LoL
Negociações com contrato vigente
Para jogadores ainda sob contrato, como zirigui, as negociações devem passar pela direção dos clubes que atualmente defendem. Parte deles pode ser vendida para outras equipes, enquanto outros permanecem no mesmo time.
Nesses casos, portanto, o sistema de negociação é outro, com muito mistério envolvido. Até por isso KaBuM, FURIA Esports e paiN Gaming recusaram os pedidos de entrevista do START com seus jogadores. "Questões estratégicas", justifica a empresa de Limeira.
Já a Prodigy Esports liberou o caçador Yan "Yampi" Petermann para falar. Ele conta que, ao término de cada ciclo, faz um balanço de sua passagem pela equipe e pede para ser informado dos clubes que manifestarem interesse em contratá-lo, mesmo que não vá sair.
É que, pelas regras do cenário competitivo, as organizações não são obrigadas a repassar todas as propostas para os seus jogadores, o que já causou muitas reclamações deles nos últimos anos.
"Eu sempre quero saber as propostas, não só por interesse em sair de um time, mas sim para me manter ativo. É bom ter este parâmetro de quem me quer ou não. Se eu ficar free agent, eu sei a quem recorrer, com quem conversar, é bom ter o plano B. Isso também até alavanca a autoestima", avalia Yampi.
O jogador admite que se preocupava muito com este período no passado, mas acredita que, hoje em dia, consolidou seu nome no mercado.
ANTES EU ENTRAVA MUITO NESTA NOIA DE 'VAI SER TIME RUIM' E 'EU VOU FALHAR COM ESTE TIME'. HOJE EM DIA EU TENHO UMA CONFIANÇA EM MIM MUITO GRANDE, NÃO IMPORTA O ELENCO QUE EU ESTIVER, EU VOU DAR MEU 100% E FAZER ACONTECER
Yan "Yampi" Petermann, sobre a janela de transferências do LoL
O último dia da janela de transferências do LoL costuma ser, também, a data-limite para as organizações inscreverem jogadores e técnicos nas competições oficiais. Cada um dos dez clubes da franquia deverão ter duas equipes, uma para o CBLoL e outro para a competição Academy, da 2ª divisão.
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