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OPINIÃO

Uma noite nos domínios mal-assombrados de Phasmophobia

Divulgação
Imagem: Divulgação

Makson Lima

Colaboração para o START

21/11/2020 04h00

Margaret Thompson. Há anos estudando atividades paranormais, nunca havia antes me deparado com algo tão nefasto quanto a história de Margaret Thompson. E estava prestes a adentrar seus domínios, o sobrado geminado onde tirou a própria vida, assim como a do marido e das duas filhas gêmeas de sete anos de idade.

O que levou uma mulher tão pacífica, religiosa e comprometida com sua família e comunidade, a cometer tão hediondo ato? A ideia em Phasmophobia é descobrir exatamente isso. Além, claro, de conseguir algumas provas de atividade paranormal. É preciso colocar comida na mesa.

21h00 - água suja na pia

Seria a presença de um espírito? Poltergeist, demônio ou alguma outra sorte de entidade sobrenatural? Alguns indícios costumam indicar o caminho, por isso é preciso preparo e estudo antecipados.

Com todo equipamento devidamente selecionado - EMF para captar induções eletromagnéticas, luz ultravioleta, termômetro para pontuar quedas bruscas de temperatura, Spiritbox para ouvir o que o espírito tem a dizer e um caderno ungido, para comunicação mais aprofundada com o além, além de câmeras para gravar e fotografar - adentrei a casa geminada.

Phasmophobia  - Reprodução/START - Reprodução/START
Phasmophobia
Imagem: Reprodução/START

De experiências passadas, cronometro cinco minutos para me situar, sentir e entender o local, cada cômodo, quarto e corredor. Foram os cinco minutos mais longos de minha vida. Assim que coloquei o primeiro pé na sala de estar, imediatamente me arrependi de não ter aceitado a ajuda de meus colegas investigadores. Margaret Thompson, num sonho, me pediu para não levar ninguém comigo. Foi como um sussurro doce e gelado, e senti o mesmo naquela sala de estar.

Uma presença invisível me guiou até o lavabo: a torneira aberta e a água, turva, espessa, como se um corpo vivo e sofrido, ou ainda sofrendo. Com os olhos fixos na imensidão daquela poça de um escuro infinito, fui tirado do transe com um sobressalto, resposta automática ao som de passos na escada.

00h00 - marca de mão na porta do armário

Phasmophobia  - Reprodução/START - Reprodução/START
Phasmophobia
Imagem: Reprodução/START

O som das cigarras na pacífica vizinhança de grandes, espaçados e arborizados quintais frontais e de fundo, me faziam companhia enquanto me aprofundava na normalidade daquela casa: depois do ocorrido, pouca coisa pertencente a família fora deixado para trás. Há tempos havia aprendido a controlar minha própria imaginação em situações como essa, afinal de contas, você pode ser seu pior inimigo e a mente é o maior dos ilusionistas.

Não demorou para que o choque de realidade me atingisse fisicamente: havia alguém naquela casa comigo. Sequer precisei do termômetro para sentir a queda brusca de temperatura, ao mesmo tempo o feixe de minha lanterna afunilou e piscou, revelando vultos indo e vindo de algum lugar tão próximo e também tão distante. O tecido entre realidades estava bem ali, na porta do quarto das gêmeas. Onde mais?

Foi quando a luz ultravioleta acusou a marca de uma mão no armário do corredor, como que, mais uma vez, guiando minha atenção, senti um forte tremor. Involuntariamente, recuei alguns passos e, por muito pouco, não fui escada abaixo.

Era hora de uma comunicação direta.

03h30 - contato de quarto grau com o além

Phasmophobia  - Reprodução/START - Reprodução/START
Phasmophobia
Imagem: Reprodução/START

Com o caderno posicionado no chão do quarto das gêmeas (o papel de parede serviu de indicativo) e minha inseparável Spiritbox ligada, chamei: "Margaret Thompson". Alguns segundos se arrastaram como horas e, mais uma vez, "Margaret Thompson". Com o EMF quase estourando e a temperatura caindo vertiginosamente, já tinha informações o bastante para identificar o tipo específico de entidade ali presente.

Mas eu precisava de mais. Precisava de respostas. "Margaret Thompson".

Mal pude me recompor do sussurro ensurdecedor em meu ouvido, quando a porta atrás de mim se trancou, num som de trovão inesquecivelmente monstruoso. No caderno, apenas as palavras "morra, morra, morra" e foi ali, naquele segundo, ao me deparar com o traço fundo de uma cruz invertida, que identifiquei meu erro fatal: esqueci meu crucifixo. E não importa o quão convicto dentro de seu ateísmo você seja, não podia ter cometido um erro tão básico.

Sequer pude encarar Margaret Thompson de frente. Suas mãos geladas e putrefatas abraçaram meu rosto, meu peito, pernas, braços. Conheci o meu fim. E, daqui, desse espaço invisível e sobrecarregado de trevas eternas, redijo essas palavras que você acabou de ler.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL