Quando pensamos em Call of Duty, o que vem à mente é tiroteio pra todo lado, explosões e partidas multiplayer intensas. Afinal, por muito tempo a série ditou o que eram shooters modernos com visão em primeira pessoa.
Por isso foi surpreendente quando me dei conta de que Black Ops: Cold War, o CoD de 2020, estava mais para um RPG. Não a arma RPG lança-foguetes, mas o gênero de Role-Playing Games mesmo. Só que, claro, um RPG estilo Call of Duty.
Jogadores, calma. Call of Duty não virou Final Fantasy. Mas quando Cold War coloca árvores de diálogos e escolhas entre matar ou capturar logo na primeira fase da campanha, você percebe que alguma coisa mudou.
Logo depois, as minhas suspeitas foram confirmadas quando precisei fazer uma "ficha de personagem" da protagonista da história, escolhendo nome, tom de pele e sexo como se fosse um Fallout, por exemplo. O processo tinha até escolha de "biografia", igual acontece com Shepard em Mass Effect.
Para terminar, é possível selecionar duas perícias (chamadas de perfil psicológico, de forma mais "calofidutiana" possível), vantagens de mais vida, menos recuo de armas ou ter mais granadas à disposição.
Se isso não é ser um RPG, não sei mais o que é.
Apesar de Cold War não parar por aí com características que o fazem ficar um pouco mais próximo de Skyrim do que de DOOM, ele ainda é o Call of Duty que conhecemos: ainda tem uma das melhores experiências de jogo de tiro em videogames, muito Zumbis para matar no modo cooperativo e uma narrativa que retrata os EUA como a salvação do mundo, igualzinho muitos dos jogos anteriores.
É por essa mistura de elementos de RPG para dar uma revigorada na velha fórmula "pew pew pew" que Black Ops Cold War se torna, ao mesmo tempo, um dos melhores e piores Call of Duty já feitos.
Relatório confidencial de campanha
A dúvida que fica por Black Ops Cold War "brincar" de ser RPG é: funciona? Com base na campanha single-player, a resposta é sim, e muito.
Em vez de seguir uma estrutura linear de fases que são completadas uma após a outra, o jogo apresenta agora um esconderijo, que serve como base e por onde é possível continuar com a história, escolher uma missão paralela (pois é, CoD tem side quests) ou só papear com outros personagens.
Só por isso, a dinâmica de jogo ganha muito mais, com esse tempo de "respiro" entre a intensidade das missões.
As próprias fases também conseguem entregar uma variedade muito boa entre pura ação bem Call of Duty raiz, momentos de furtividade, exploração e até de quebra de expectativa.
Uma missão em particular, por exemplo, me fez esquecer que estava jogando um Call of Duty, com claras inspirações de Deux Ex ou Dishonored: múltiplas maneiras de chegar ao objetivo, uma mais criativa do que a outra —para vocês verem o quanto a campanha pode surpreender positivamente.
Sempre que voltava para a base, fazia questão de conversar com todos os personagens, saber o que tinham pra dizer e conhecer um pouco mais de cada membro do grupo que, querendo ou não, agora pareciam muito mais uma "party" de aventureiros, que só trocaram as espadas e cajados por AK-47 e outras armas semiautomáticas.
Não são todos os personagens que são bem desenvolvidos, mas Cold War pelo menos tenta gerar uma empatia com os companheiros que estão no seu grupo e que não seja só piadinhas clichês ou estar do seu lado na zona de guerra, o que já é alguma coisa..
Aliás, entre os membros que fazem parte do seu grupo estão Alex Mason e Frank Woods, os protagonistas do primeiro CoD Black Ops, mas que se limitam a serem não mais do que isso: coadjuvantantes.
Essa também é a hora de falar que Cold War é continuação direta do game de 2010, e jogá-lo antes vai ajudar bastante a entender certos contextos do novo jogo e referências, até porque em muitos momentos, ele parece uma versão remake de Black Ops, com fases idênticas e o retorno a lugares do game original.
Relatório Confidencial de Zumbi
Se elementos de RPG tão evidentes na campanha de Call of Duty são uma surpresa, no multiplayer não é nenhuma novidade.
O seu boneco no multiplayer (que é diferente do da campanha) ganha XP e evolui, desbloqueia vantagens conforme aumenta de patente militar (afinal, Call of Duty) e até as armas têm evoluções próprias.
Em Cold War, eu pude fuçar mais profundamente esses aspectos graças ao modo Zumbi cooperativo para até quatro jogadores, no qual estou atualmente viciado, jogando religiosamente todo dia.
O que o torna tão atrativo é que em cada partida, que pode durar até 30 minutos, você evolui em algo, seja o seu nível de patente ou o nível da arma que está usando, o que desbloqueia novos itens, acessórios, bonecos. Aí você já está preso no ciclo vicioso.
Cheguei ao ponto em que matar zumbi em CoD agora é a minha atividade de intervalo no trabalho no meio da tarde, e também aquela partida antes de dormir.
Foi percebendo o quão mais profundo esses aspectos específicos de evolução de RPG são no multiplayer que senti o quanto isso fez falta também na campanha.
Por exemplo, armas que pudessem ser melhoradas com mira, pente, cano etc que são parte importante na experiência de jogar o multiplayer de Cold War.
Por essa perspectiva, parece que o pessoal da Raven, o estúdio responsável pela campanha single-player, realmente só estava "brincando" de RPG ou experimentando para saber o que dava certo ou não, sem apostar realmente na novidade. Um "soft RPG".
O jogo ideal seria a combinação dos elementos de RPG que estão separados nos dois modos.
Relatório Confidencial de ideia errada
Se Call of Duty Black Ops Cold War é um RPG, a história é uma característica importante, já que é a base de um bom "role play".
Bem, a Guerra Fria é um prato cheio para um jogo que tem operações secretas no nome. O período é cheio de casos de espionagem e teorias da conspiração, e Black Ops Cold War usa bem esses aspectos para entregar uma trama acima da média para o nível Call of Duty, com reviravoltas e construções narrativas até que interessantes.
Não é à toa que o enredo ficou nas mãos de David Goyer, também responsável pela ótima campanha do primeiro Black Ops e famoso roteirista de filmes como Batman: O Cavaleiro das Trevas (e desastres como Batman vs. Supeman também).
O grande problema é que todas as boas sacadas são jogadas no lixo por causa da mensagem que o jogo quer passar.
Black Ops Cold War inicia com um discurso de posse do presidente conservador de direita norte-americano Ronald Reagan.
Usando como contexto um evento histórico real, a crise dos reféns americanos no Irã que terminou no início dos anos 1980, a versão videogame do presidente dá ordens para os jogadores invadirem ilegalmente países estrangeiros e matarem "terroristas", cometendo, assim, crimes de guerra.
Já em uma cutscene, o próprio aparece enaltecendo a coragem dos militares brancos ali presentes por "proteger nosso modo de vida de um grande mal": a União Soviética.
Aqui é preciso ressaltar que um produto cultural como um jogo de videogame não existe em uma bolha isolada, e Call of Duty ter esse tipo de mensagem, no contexto de 2020 e na situação em que se encontra os EUA, é, no mínimo, perigoso e, na pior das hipóteses, ferramenta fascista.
Não que Call of Duty antes nunca tenha sido uma grande propaganda de ideais deturpadas dos EUA como o grande salvador da liberdade. URRA! É só lembrar que a primeira missão de Black Ops o objetivo é matar Fidel Castro em Cuba.
Mas porque usar a imagem de Ronald Reagan, uma figura política que hoje é bastante controversa até mesmo entre americanos? Por que sempre pintar qualquer um que não seja branco o suficiente ou americano o suficiente como "terrorista" que precisa ser eliminado em nome da liberdade?
Call of Duty: Black Ops - Cold War
Black Ops Cold War é um dos melhores Call of Duty por trazer elementos que dão uma boa chacoalhada na fórmula, valorizando a campanha single-player, além do modo Zumbi incrível.
Pena que Black Ops Cold War também é um dos piores Call of Duty pela covardia de continuar a ser feito pelo mesmo tipo de pessoa.
Lançamento: 13/11/2020
Plataforma: PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series, PC (Battle.net)
Preço sugerido: R$ 279 (consoles) e R$ 229 (PC)
Classificação indicativa: 18 (violência extrema)
Desenvolvimento: Treyarch e Raven Software
Publicação: [Confidencial]
Jogue também: Call of Duty: Modern Warfare (2019), [Confidencial], Titanfall 2
*A cópia do jogo foi enviada pela Activision para o START. Unidade do Xbox Series X usado para testar o game foi enviado pela Microsoft Brasil ao START
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