A temática cyberpunk está por todos os lados. O "High tech, low life" de tempos de Philip K. Dick e William Gibson já foi muito empregado em videogames, mas um tal Cyberpunk 2077 causou a nova polvorosa cibernética da vez.
Ghostrunner, jogo de estreia do estúdio polonês One More Level e com a bênção e suporte da 3D Realms, se besunta na estética, enquanto explora exponencialmente outra capacidade um tanto pária nos games: a plataforma em primeira pessoa.
Onde Mirror's Edge encontra Katana Zero
Não curto muito essas comparações facilitadoras para entendimento de algo. São como rótulos, eliminando os obstáculos e mistérios tão necessários para compreender qualquer arte. Mas quando um amigo me descreveu Ghostrunner como uma combinação entre o "parkour de Faith Connors" (de Mirror's Edge) e a lâmina afiada do samurai com amnésia de Katana Zero, não consegui discordar.
Se a comparação fez sentido para você e experimentar Ghostrunner ainda era dúvida em sua mente, já pode ir se preparando.
Jack é o protagonista que vive uma luta contra o sistema doutrinador da Torre de Dharma. Assim como seus outros colegas ghostrunners —que funcionam como uma espécie de yang quando o yin parece desbalanceado—, foi dizimado pela ameaça afligida por Mara. A CGI inicial dá o tom da ação, e também deixa claro que o foco aqui é mesmo o gameplay.
Quando o ghostrunner é rearranjado com novas partes biônicas e o mesmo velho propósito, em sua mente surge a voz do Arquiteto. Foi esse fantasma na máquina quem projetou a Torre e também os ghostrunners, e sua verborragia é irritante.
Felizmente, Jack não faz o tipo protagonista mudo, e suas intervenções são, por vezes, como a de quem o controla: "silêncio por um instante e me deixe fazer todas essas dezenas de ações ao mesmo tempo, por gentileza."
Chegar ao final da fase é a certeza de ter escolhido a pílula certa, com direito a tapinha nas costas e tudo, pois a dificuldade pode ser fator desmotivador
É perfeitamente possível superar os dezessete estágios presentes no jogo sem qualquer entendimento do que se passa, ignorando coletáveis de áudio e itens que, de forma bastante arcaica, exploram mais esse mundo futurista e desesperançoso, e não vejo isso como demérito, honestamente.
Ghostrunner segue um esquema bem arcade de ser, com checkpoints (quase sempre) bem posicionados para manter quem joga num ritmo frenético e ininterrupto de realização de ações. É tipo entrar na Matrix. Chegar ao final da fase é a certeza de ter escolhido a pílula certa, com direito a tapinha nas costas e tudo, pois a dificuldade pode ser fator desmotivador.
De novo e de novo e de novo
Hotline Miami conseguiu, dentre muitos feitos, o de criar um looping virtualmente inquebrável de tentativa e erro. E vício também, porque largar aquilo antes de concluir algum estágio (ou todos) é tarefa árdua.
Ghostrunner remete a essa prática, com obstáculos tão bem posicionados quanto um jogo de tabuleiro criado há centenas de anos. O fato de lidarmos com um personagem poderoso logo de cara, com seus dashs, corridas por paredes flutuantes e katana capaz de cortar em dois o metal mais espesso, cria essa sensação de empoderamento. Mais que uma sensação, é colocar tudo em prática, e o quanto antes, pois você verá muito uma tal tela de "falha crítica". Nada mais que morte. Recomece e tente de novo.
O ritmo de Ghostrunner é tão acelerado e ele faz um trabalho tão bom em incentivar isso, que só após algumas fases parei o jogo para explorar o até então desconhecido menu de habilidades especiais
O ritmo de Ghostrunner é tão acelerado e ele faz um trabalho tão bom em incentivar isso, que só após algumas fases parei o jogo para explorar o até então desconhecido menu de habilidades especiais.
É possível acoplar chips ao sistema do ninja ciborgue, facilitando, por exemplo, sua capacidade de rebater projéteis ou intensificando ainda mais algum poder específico, como o do curto, porém preciso e letal, teleporte para frente, cuja barra de energia é preenchida com ataques certeiros, mas também com o passar do tempo.
Como exemplo prático de o quanto Ghostrunner consegue criar consistência entre todas as suas partes, não há botão para acelerar o passo. O ninja cadencia seus movimentos conforme uma série deles são acionados por consequência, um após o outro.
Correr, saltar, fatiar, ricochetear, refletir, segundos antes de disparar o gancho com corda cibernético para, assim, se projetar até os céus escuros e mentirosos da Torre de Dharma, tudo isso para, então, pousar elegantemente sobre um robô voador, mero peão posicionado para se alcançar a próxima plataforma.
Pensado para speedrunners
Conforme passeava por cenários futuristas, apinhados de guardas alienados e neons tirados diretamente de uma versão barata de Blade Runner, imaginei Ghostrunner sendo dissecado por speedrunners, pessoas que dedicam muito de suas vidas a dominar um jogo por completo, a enxergar os zeros e os uns.
O jogo da One More Level se entrega em bandeja de prata para esse grupo seleto de jogadores, e deve figurar nos eventos mais populares do conceito, como o sempre ótimo Awesome Games Done Quick.
Enquanto minhas capacidades não passam as de um mortal qualquer, Ghostrunner me custou dezenas e dezenas de tentativas (logo, vidas) em certos estágios. Concluir o desafio já foi desafio o bastante —TOM, sua máquina maldita, jamais esquecerei nosso encontro.
Dizem ser muito mais fácil jogar no mouse e teclado, e talvez o jogo tenha mesmo sido projetado para tal, como tantos outros jogos em primeira pessoa. Resolvi encarar o desafio no controle mesmo (do Xbox One, no caso), e tive diversos momentos de total catarse, controlando eventuais e pontuais surtos para não arremessar o controle contra a parede.
Ghostrunner é bem esse tipo de jogo, e um que se orgulha muito disso. Ainda bem, e sorte a nossa.
Lançamento: 27/10/2020
Plataforma: PC (via Steam e Epic Games Store), PS4, Xbox One e Switch
Preço sugerido: A partir de R$ 99,00
Classificação indicativa: 16 anos (Violência, Linguagem imprópria)
Desenvolvimento: One More Level
Publicação: 505 Games
Jogue também: Mirror's Edge, Katana Zero
SIGA O START NAS REDES SOCIAIS
Twitter: https://twitter.com/start_uol
Instagram: https://www.instagram.com/start_uol/
Facebook: https://www.facebook.com/startuol/
TikTok: https://www.tiktok.com/@start_uol/
Twitch: https://www.twitch.tv/start_uol
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.