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OPINIÃO

Dez anos depois, Demon's Souls finalmente ganha a versão ideal

Demon"s Souls (PS5, 2020) - Divulgação
Demon's Souls (PS5, 2020)
Imagem: Divulgação

Rodrigo Lara

Colaboração para o START

06/12/2020 04h00

Tenho um enorme carinho por Demon's Souls, especialmente por ele ter sido o pontapé inicial de um gênero que considero como o mais influente da década: os "soulslike".

Daí minha alegria ao colocar as mãos na versão refeita do game para PlayStation 5. Sim, Demon's Souls (que não tem "remaster", "remake" ou qualquer sobrenome do tipo) é um desbunde não apenas no visual, mas em todo e qualquer aspecto relacionado à parte técnica do jogo. É a nova geração de consoles mostrando a que veio e uma tentação enorme para quem ainda está indeciso sobre levar ou não para casa um PlayStation 5.

Mas, mais do que isso, ter acesso a essa versão do game significa, acima de tudo, finalmente poder jogá-lo como ele merece.

Explico: lançado em 2009 para PlayStation 3, Demon's Souls representava uma enorme quebra da então ordem vigente nos games de ação —ainda que os fortes elementos de RPG não permitam que ele seja colocado totalmente nessa categoria. Basicamente, ele não carregava o jogador pelas mãos e deixava de lado elementos como grande número de checkpoints, indicadores de progressão e ajuste de dificuldade.

Parte da dificuldade, no entanto, acabava sendo involuntária: ela surgiu na forma de bugs, quedas de taxas de frames em momentos cruciais e uma câmera que, definitivamente, podia ser considerada como um dos bosses do game.

Remaster como tem que ser

Demon's Souls (PS5, 2020) - Divulgação - Divulgação
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Felizmente a Bluepoint Games, estúdio responsável por dar esse "tapa" no game, fez um trabalho primoroso que foi além daquilo que os olhos podem ver. O game roda com um desempenho estável quase que o tempo todo, especialmente no modo performance, que limita a resolução a 1440p como parte dos esforços para manter os 60 quadros por segundo (fps) —no modo que privilegia a qualidade visual, a resolução é 4K, mas a taxa de quadros cai para 30 por segundo.

Particularmente, não vejo motivos para se jogar o game nesse segundo modo. A qualidade visual extra proporcionada pela resolução maior é pouco sentida —em um game que já é lindo por natureza, diga-se— para justificar que o game não seja jogado a 60 fps.

Demon's Souls - Divulgação - Divulgação
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E por que essa taxa de quadros é importante? Simples: Demon's Souls é um game exigente em termos de reflexos e precisão do jogador, seja para desviar de inimigos ou, ainda, para aparar ataques e contra-atacar. E a partir do momento em que o game roda a uma taxa de quadros mais alta, ele permite ao jogador ser mais preciso em seus movimentos, diminuindo ocorrências daquelas situações que parecem "roubadas" e que, geralmente, terminam em morte.

Não que os 60 fps farão você morrer menos, afinal Demon's Souls é um game difícil - arrisco dizer que consideravelmente mais difícil do que os da série Dark Souls e Bloodborne -, mas isso torna a jornada pelo game infinitamente mais prazerosa do que era em 2009.

A partir do momento em que o game roda a uma taxa de quadros mais alta, ele permite ao jogador ser mais preciso em seus movimentos, diminuindo ocorrências daquelas situações que parecem 'roubadas' e que, geralmente, terminam em morte

Demon's Souls (PS5, 2020) - Divulgação - Divulgação
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A estabilidade dessa taxa de quadros também é algo a ser notado. Não, ela não fica o tempo todo como deveria e há sim alguns tropeços. Mas eles não ocorrem em momentos cruciais (como na hora de enfrentar os temíveis chefões do game) ou em áreas que exigem movimentos precisos do jogador, como na primeira porção do Vale da Perdição (Valley of Defilement), área repleta de abismos e andaimes que apresentava problemas mais sérios de desempenho no game original.

Por fim, temos leves ajustes na câmera, que se mostra menos nervosa do que no game original e também menos propensa a deixar quem joga sem uma visão razoável do que está acontecendo —nas minhas partidas, eu "morri para a câmera" pouquíssimas vezes nessa nova versão do jogo. E fora do quesito performance, esse remaster trouxe novidades como a dublagem/legendas em português brasileiro, novas armas e itens, uma porta misteriosa e um novo sistema de criação de personagem bem mais completo do que o original.

Você vai morrer menos? Não

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Apesar de serem poucas, numericamente falando, essas melhorias são essenciais em um game que já apresenta diversas situações, inimigos, chefões e armadilhas extremamente eficientes naquilo que ele melhor: matar o jogador sucessivas vezes.

Aqui acima eu disse que Demon's Souls é um game mais difícil do que aqueles que a From Software lançou nos anos seguintes. Isso não é nenhum exagero e tem mais a ver com a estrutura do game em si: ao contrário de um mundo interconectado como o visto nos Dark Souls e em Bloodborne, cuja exploração tem forte base na dinâmica de "avance e abra atalhos", Demon's Souls tem áreas mais lineares e separadas em "mundos" sem conexão entre eles.

Ao invés de fogueiras, o jogador pode descansar em arquipedras, que também servem para se transportar entre as diferentes áreas de um mundo, retornar para o Nexus, o hub central do game, e, claro, demonstrar a velocidade de carregamento do SSD do PlayStation 5.

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O problema é que cada seção dos mundos do game só tem uma dessas pedras e, na maioria das vezes, morrer em um boss significa refazer um longo e tortuoso caminho, sem direito a aquele atalho maroto. Aí a situação é a seguinte: você se irrita pela derrota para o boss, tenta fazer o caminho até a revanche o mais rápido possível e isso só aumenta a chance de acabar morrendo pelo caminho.

Outro sistema único de Demon's Souls que influencia bastante a progressão do jogador são as tendências dos mundos. Morrer com o seu corpo físico ou matar NPCs em um mundo vai levar a tendência do local em direção à escuridão, o que torna os inimigos mais fortes, abre espaço para o surgimento dos fantasmas negros, mas em compensação melhora as recompensas para o jogador. No sentido oposto, matar os bosses das áreas ajuda a deixar o mundo em questão mais "amigável", com inimigos mais fáceis - ou levemente menos difíceis, assim por dizer.

Lindo de ver

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Mesmo no modo de performance, Demon's Souls é facilmente um dos games mais bonitos que joguei na vida. E não apenas pela profusão de efeitos de partículas de magias e faíscas diversas, mas principalmente pela iluminação do game. Elementos como chamas, raios de luz oriundos de janelas, reflexos etc agradam não apenas aos olhos, mas também contribuem para que seja criada uma atmosfera sombria e um tanto opressora que cai como uma luva para o game.

Há outros detalhes também - experimente andar um pouco pelo quarto mundo para entender o que estou falando -, mas é interessante notar que o apuro técnico, aqui, apenas reforça uma qualidade do game original: a direção de arte de Demon's Souls é brilhante e facilmente uma das mais inspiradas já feitas pela From Software.

Cenários vastos se misturam com ambientes apertados e claustrofóbicos, fazendo o game ter uma enorme variedade de locais que tornam a sua exploração bastante interessante. Passagens icônicas, como o primeiro encontro com os dragões em Boletaria e o confronto contra chefões como o Cavaleiro da Torre e o Labareda certamente deixam lembranças - algumas um tanto dolorosas e amargas, para ser sincero -, mas fazem a experiência ser marcante.

Mesmo no modo de performance, Demon's Souls é facilmente um dos games mais bonitos que joguei na vida. E não apenas pela profusão de efeitos de partículas de magias e faíscas diversas, mas principalmente pela iluminação do game

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Isso tudo já estava no original, claro, mas é um caso parecido com os citados acima: o remaster faz essas qualidades ficarem ainda mais claras e reforçam a premissa desse texto: finalmente, Demon's Souls pode ser jogado como se deve.

Ainda que seja punitivo exija uma boa dose de força mental e determinação do jogador —fazendo, portanto, que ele não seja um jogo para todos os públicos—, não é nem um pouco difícil dizer que Demon's Souls é um daqueles games que podem ser considerados obrigatórios. E não apenas por ser uma bela - e rara, no momento - demonstração do que poderemos ver nesta nova geração, mas, essencialmente, pela sua vasta lista de qualidades.

Demon's Souls PS5 capa - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Lançamento: 19/11/2020
Plataforma: PlayStation 5
Preço sugerido: R$ 349,90
Classificação Indicativa: 16 anos (Violência Extrema).
Desenvolvimento: Bluepoint Games
Publicação: Sony Interactive Entertainment
Jogue também: série Dark Souls, Bloodborne, Sekiro: Shadows die Twice, Nioh, Hollow Knight e Blasphemous

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