Brasileiros colocam Sonic em jogos "alternativos" com Dollynho e corrupção
Sonic, o ouriço mais veloz dos videogames, já não está com tanta pressa. Nos novos jogos, ele arranja tempo para pescar, namorar e até lutar com outros personagens. Se isso te parece um pouco "fora do normal" para o personagem, é porque essas novidades não foram criadas pela SEGA, empresa dona da marca, e sim por fãs - e muitos deles, brasileiros.
São os chamados "fangames", fenômeno em que os próprios admiradores de alguma franquia decidem desenvolver novas aventuras - muitas vezes, compensando a lentidão ou incompetência das empresas originais em criar jogos considerados dignos da marca.
Os fangames são muito populares no Brasil, e nenhum personagem é tão popular quanto Sonic. "A SEGA finge que não vê o que estamos fazendo e, em troca, a gente não tenta vender o que criamos" diz o brasileiro Pedro Litwinski, ou P3DRO, administrador da comunidade Sonic Fan Games Headquarters (SFGHQ), criada em 1998.
A SFGHQ é uma das organizadoras da SAGE, a Sonic Amateur Games Expo, onde o herói azul mostra toda a sua "versatilidade". Na edição de 2020, houve jogos de luta, pinball, pesca, namoro virtual, RPGs e até point-n-clicks. Isso sem falar em crossovers com outros ícones, como Mario, Megaman e Kirby.
A edição de 2021 está agendada para agosto. O evento anual é global, mas os brasileiros, claro, dominam a "zueira". "Quase todo projeto de fangame em desenvolvimento tem pelo menos um brasileiro na equipe", afirma P3DRO. "Quase 25% de todos os acessos ao nosso fórum vem do Brasil".
Na última edição da SAGE, brasileiros apresentaram títulos como Sonic GT, Cosmic Boll, Super Mombo Quest, Sonic Freedom, BraSonic 20XX e Ednaldo Pereira: Mescladasso.
Robotnik virou um político corrupto
O país também inspira a trama dos jogos. Em BraSonic 20XX, uma versão "nacional" do ouriço enfrenta problemas bem conhecidos do brasileiro, como a criminalidade urbana, o trânsito e a corrupção. Trata-se de um remake do BraSonic original, lançado em 2004, um clássico do Orkut que teve mais de 100 mil downloads, indo parar até em sites estrangeiros.
"Era um jogo bem simples, com um plot improvisadíssimo", relembra o desenvolvedor, Bruno Campestrini. Surpreso com o sucesso, ele chegou a trabalhar numa sequência, mas ela acabou cancelada. Agora, voltou com tudo. "As referências ao contexto e crítica social do BraSonic ainda continuam vivas como sempre", afirma.
Não foi só o protagonista que ganhou um "clone" tupiniquim. O clássico vilão Robotnik se tornou o deputado Dr. Ivo Corruptnik, que quer virar presidente com a ajuda das fake news de seus robôs Influenciator 8000. Completam o elenco os parceiros PeloTails e Bahianuckles (versões de Tails e Knuckles); o Yankow (versão do inimigo Shadow) e o Mollynho (sátira ao Dollynho, mascote da marca de refrigerantes Dolly).
BraSonic também se encontra com o Sonic original, nas praias do Guarujá (SP). Seu passeio pelo país ainda inclui uma treta com uma capivara no alto do MASP, em São Paulo; e uma travessia nas correntezas das Cataratas de Foz do Iguaçu (PR).
A brincadeira é séria - e rende negócios
A cultura dos fangames de Sonic começou nos anos 90, no período entre Sonic 3 e Sonic Adventure. Com a série principal sem novos jogos, os fãs assumiram a responsabilidade de criar seus próprios títulos.
A SEGA sempre entendeu esse fenômeno como uma fonte de mobilização e inspiração. Tanto que o sucesso oficial mais recente do personagem, Sonic Mania, foi feito por Cristian Whitehead, ex-modder responsável pelo fangame Retro Sonic e pela Retro Engine. Outros membros da equipe da desenvolvedora também passaram pelos fóruns de fangames.
Muitos dos games criados por amadores apontam novas direções criativas. Foi o caso de Sonic GT, baseado no período pós-anos 2000 em que a franquia oficial tentou se adaptar ao 3D. Apesar de só ter cinco fases, o game criado por Gabriel Gonzalez parece estar à frente dos próprios jogos da SEGA, tanto em gráficos como em jogabilidade. Sonic Freedom, programado por Lucas Rodrigues (conhecido como MarmitoTH), aposta em gráficos desenhados manualmente, como os de Cuphead.
Outros desenvolvedores criam seus próprios personagens - que também são bem-vindos na SAGE. Foi o caso de Felipe Daneluz, o LakeFeperd, que havia se consagrado nas edições de 2011 e 2012 com Sonic Before the Sequel, Sonic After the Sequel e Sonic Chrono Adventure. Em 2020, ele anunciou o terceiro jogo de seu próprio personagem, Spark the Electric Jester.
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