Far Cry 6 retoma qualidade da série ao focar na cultura e política latinas
Far Cry 6 se passa no país caribenho de Yara, governado pelo ditador Antón Castillo, filho de outro ditador, que acredita que o tabaco produzido na ilha, enriquecido com uma substância chamada Viviro, é a cura para o câncer. E este homem está disposto a matar todos (inclusive seus aliados) para fazer o Viviro acontecer.
O jogador pode escolher o gênero de seu personagem: Dani, guerrilheiro ou guerrilheira que faz parte da Libertad, o principal exército paramilitar de Yara. Eles são a maior pedra nos belos sapatos lustrados de Castillo.
A partir daí, o jogador recebe uma infinidade de missões, sejam elas da história principal, secundárias, ou mesmo as missões de retomada de postos de controle, de abertura do espaço aéreo ou de emboscadas contra os soldados castillistas.
A herança latina (boa e má)
Na jornada rumo ao confronto com o vilão, você conhece outros exércitos da guerrilha, em um cenário bastante similar ao cenário político atual em diversos países - completamente fragmentado.
E, sim, a guerrilha caribenha contra ditadores nos países latinos é um tema batido no mundo dos videogames. E, sim, jogo de tiro em primeira pessoa em mundo aberto é um estilo batido. Far Cry 6 não inventa a roda. É mais um FPS em um enorme mapa que vai te fazer cavalgar bastante, procurar os carros mais bonitos, aprender a pilotar um avião ou um helicóptero e usar (muito!) seu paraquedas.
A trilha sonora também é inacreditável. O jogo não se torna excelente somente por causa das músicas, claro; e este ponto mostra exatamente que a Ubisoft acertou muito mais onde não esperava acertar do que nas mecânicas básicas do jogo em si.
É uma delícia dirigir pelas estradas de terra de Costa del Mar em um Cadillac brilhando de polido ao som de "Havana", da Camila Cabello. Ou invadir uma igreja, trocando tiros com um batalhão de castillistas, e, no altar, um rádio começar a tocar "Livin' La Vida Loca", de Ricky Martin. Isso, sem falar da enormidade de salsas, mambos e todo tipo de música tradicional caribenha, indo do auge dos anos 70 até o atual reggaeton, nas mais diferentes situações que você pode passar durante uma guerra.
Tudo isso se alia a uma mecânica confortável, na qual você passa menos tempo prestando atenção no que está fazendo e mais nos seus arredores. Far Cry 6 não é somente um jogo para prender sua atenção em lutas intermináveis contra batalhões invadindo hotéis - e são realmente intermináveis, acredite. A Ubisoft acertou em transformar Yara em um tributo à cultura latina. A arquitetura das cidades, tanto as destruídas quanto as que ainda são mantidas pelo governo de Castillo, o visual, as praias, o estilo de vida. Dá vontade de ir ao país, assumidamente inspirado por Cuba.
A influência de The Division
E mesmo com tantos atrativos visuais, você não perde o foco no jogo. Claro, ele tem seus defeitos. A Ubi entendeu que tinha, em outros jogos, elementos que seriam capazes de trazer de volta o sucesso que Far Cry teve em seus primeiros três títulos.
De The Division, ela tirou seus principais acertos, mas um dos mais graves erros.
O sistema de crafting do jogo é excelente. Aprimorar as armas que você compra ou conquista ao libertar áreas tomadas pelos yarenses é simples e fácil de fazer. Não te demanda horas de estudo sobre qual build é melhor para cada arma. Você quer uma AK-47 que cause dano e seja estável? Pronto! Quer um rifle de precisão silenciado com pente estendido? Simples! Eu não quero ter este mundo inteiro para explorar e passar mais de meia hora em uma bancada de oficina. E isso ajuda na fluidez do jogo.
Mas o sistema de níveis dos acampamentos e bases inimigas promove o contrário. Assim como em The Division, a Ubisoft precisava restringir as áreas nas quais o jogador deve ou não ter acesso a cada momento. Para isso, incluiu um sistema de nivelamento, tanto para Dani quanto para os inimigos. Então, em um cenário lindo, com belos gráficos e uma experiência fluida, é frustrantever seus inimigos levarem uma saraivada de balas e não tomarem dano nem com um tiro de lança-granadas.
E isso acontece muitas vezes, simplesmente por você virar errado em uma esquina, ou por ter que saltar de um avião no meio do caminho porque o espaço aéreo ainda não foi liberado, e cair em um acampamento três níveis acima do seu. Os inimigos chegam causando praticamente 100% de dano em um único tiro e seu personagem é incapaz de reagir. São altos e baixos das novas mecânicas, mas, como dito cima, não são elas que mudam a experiência como um todo.
Uma franquia revitalizada
A Ubisoft acertou em cheio com Far Cry 6. A experiência é tão incrível quanto a luta pela sobrevivência em Far Cry 2 ou o ódio que Vaas causa em Far Cry 3 (Castillo vai te despertar a mesma raiva). Há uma sensação de real liberdade em meio à tensão. Há uma verdadeira vontade de celebrar as vitórias nos combates contra os castillistas.
Os personagens são carismáticos e personificam perfeitamente os grupos guerrilheiros aos quais fazem parte, sejam os veteranos da primeira revolução, ou os jovens que deveriam ser universitários não fosse a guerra. Há uma identificação clara com a realidade, e com como a luta política em Yara, mesmo que exagerada para alguns, reflete em muitos aspectos, o cenário da sociedade moderna nos países de terceiro mundo, incluindo o Brasil.
É uma experiência de aprendizado político, de audiovisual, de desafio e de reconstrução. Que Far Cry 6 seja jogado por muitos, de verdade. E que, sem a violência do jogo, a gente aprenda um pouco mais com Dani Rojas sobre ser, de fato, uma nação.
Far Cry 6 (PS4, PS5 e Xbox One)
Preço: R$ 269,91*
*O preço foi checado em 8 de outubro de 2021 para atualizar esta matéria. Pode ser que ele varie com o tempo.
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