Ina's Tale: como um poeta brasileiro lançou seu primeiro jogo aos 70 anos
Como tantos outros brasileiros, Luiz Sampaio tentou algo diferente durante a pandemia. Luiz sempre se entendeu como um poeta, embora tenha pagado muitas contas como administrador. Agora, iria se dedicar a algo inimaginável: seu primeiro game.
Com uma diferença: Luiz é um homem de 70 anos. Sem nenhuma experiência na área. Ele sequer jogava videogame.
O resultado é Aspire: Ina's Tale, que chegou nesta sexta-feira (17) para PC (via Steam), XBox One e Nintendo Switch. É a aventura mágica de uma garota que desperta presa numa torre. Mas a construção é um monumento vivo e Ina não precisa apenas achar a saída - ela também precisa descobrir porque foi aprisionada.
"Foi um desafio! Eu realmente mergulhei no mundo mágico da Torre, convivi com os personagens e espero ter conseguido transmitir sentimentos e ensinamentos", afirma.
É uma narrativa bem poética, então fica evidente onde Sampaio entrou com seu talento. Mas, se ele cuidou das metáforas... quem cuidou do código?
Um encontro no karaokê
Foi numa noite agitada de 2019, em um karaokê no bairro da Liberdade em São Paulo (SP), que Sampaio conheceu Nickolas Jaques e Pablo Abraham.
Numa daquelas parcerias inusitadas que só a boêmia é capaz de criar, a dupla topou ajudar Luiz a levar seus versos para as redes sociais. Depois disso, a "collab" nunca mais parou.
"Nosso sucesso com a divulgação dos poemas nos levou a um sonho maior: criar um estúdio de jogos, que era a paixão do Pablo", explica Sampaio. "A gente queria desenvolver jogos poéticos, estéticos, que levassem o jogador a experiências enriquecedoras e ao seu desenvolvimento como ser humano."
Abraham é hoje CEO da Wondernaut Studio e Jacques foi o designer de áudio de Aspire: Ina's Tale. Sampaio virou o diretor financeiro.
"Essa foi uma noite mágica e inexplicável, qualquer ação diferente do que havia sido feito, com certeza, não resultaria no que criamos hoje, a Wondernaut." Pablo Abraham, CEO e Diretor da Wondernaut
Jimi Hendrix, Alice e Chihiro
Para sair de sua prisão, Ina precisa ganhar novas habilidades ao longo da jornada. Mas, alinhada com as expectativas mais elevadas de Abraham e Sampaio, essas habilidades não são apenas pragmáticas, como na maioria dos jogos.
"Elas podem ser tanto para vencer o espaço físico, mas também para evoluir sua alma e sua essência", explica Abraham.
Quatro poemas de Sampaio inspiram os pontos centrais da narrativa. A equipe também trouxe muito de seus sentimentos e influências, tanto na estética, na música e no gameplay, segundo Abraham.
Uma das gêneses da ideia foi a canção "All Along the Watchtower" (Ao longo da torre de vigia, em tradução livre) de Jimi Hendrix. Mas nesse caldo também entraram animações como A Viagem de Chihiro, Alice no País das Maravilhas, Gris e INSIDE.
Cada um traz à mesa... virtualmente
Como tantos outros projetos típicos da pandemia, Aspire foi feito coletiva mas à distância, com todo mundo em home office.
Sampaio, parte do grupo de risco da covid-19, participou remotamente das reuniões, com ideias, opiniões e conselhos ("o lado bom de ser mais experiente, sem ser necessariamente mais velho", avalia, entre risos).
"O time fez questão de que Luiz aparecesse periodicamente para falar com todos, e essas reuniões foram sempre muito positivas", avalia Abraham.
" Acreditamos que construímos mais que um estúdio juntos, falamos muito em valores que nos permitiram construir uma afetuosa família". Pablo Abraham
Luiz também teve uma colaboração fundamental inesperada: como também já cuidou de outros negócios, usou sua experiência em negociação para firmar a parceria com a publicadora polonesa Untold Tales, que está auxiliando no lançamento de Aspire: Ina's Tale.
"É nítido que eles admiram a trajetória do Luiz e a coragem dele de investir em algo totalmente novo e inovador como jogos", analisa Abraham.
Todo lugar é da poesia
Os executivos da Untold não são os únicos admiradores que Sampaio ganhou. Assim como ele aprendeu um pouquinho de modelagem e progamação, seus colegas também começaram a se interessar mais por poesia.
"Sou suspeito para falar, mas o Luiz é de fato meu autor favorito", conta Abraham. "Os poemas são 'fáceis' de ler e falam geralmente sobre coisas do cotidiano, que todo mundo vive, viveu ou vai viver".
No sentido contrário, Sampaio diz que ainda não conseguiu levar a paixão por games para outras pessoas na sua vida particular, mas ainda assim recebeu muito apoio e "energias positivas" nessa guinada.
"Graças a Deus tenho ótima saúde e sou todo direcionado para o futuro. O passado é realmente aquilo que passou. Todas as manhãs ponho os pés no presente e me predisponho positivamente para as coisas boas que vão acontecer", resume.
E agora Ina vai levar essa mesma lição, poeticamente, para jogadores do mundo todo.
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