Tênis, roupas, relógios, bolsas, canetas, eletroeletrônicos, notícias, filmes, séries. A lista de produtos e serviços falsificados ou que chegam até nós, consumidores, de maneira ilegal é enorme e —a parte desoladora— não para de crescer. Muitos consomem produtos de origem incerta ou ilegítima por desconhecimento. A maioria faz isso pelo simples desejo de ter acesso a algo por um preço menor do que pelo que está disponível.
Como esse desejo nunca vai cessar, vamos partir do princípio que produtos e serviços piratas vão sempre existir. Na indústria do streaming não vai ser diferente, e essa cadeia ilegal ficou ainda mais exposta com a operação da Anatel contra a pirataria, deflagrada no início do ano. Além da retirada do mercado de milhares de set-top boxes sem certificação de centenas de "marcas", que chegam ao país sem origem ou aqui são fabricados e distribuídos em grandes centros comerciais, a agência também anunciou o bloqueio do sinal de sites de conteúdo que oferecem conteúdo de forma ilegal.
Foi uma ação corajosa e comemorada, porque, embora a sensação seja de enxugar gelo, é preciso dar o primeiro passo nessa batalha. Os consumidores de pirataria vão reclamar, mas estão diante de uma grande oportunidade: sair da ilegalidade e passar a consumir conteúdo que alimenta e impulsiona uma indústria que gera empregos e impostos e reúne um grande número de setores. Do produtor de hardware, como a Roku, que fabrica em solo brasileiro dois dispositivos de streaming, ao produtor de audiovisual, que está na outra ponta investindo pesado e carregando consigo uma engrenagem muito maior do que o que vemos na frente das câmeras.
Do ponto de vista da experiência, esse consumidor vai receber um conteúdo de qualidade, com segurança e privacidade. Ou seja, ao comprar um equipamento legal ou assinar um serviço oficial, não vai dividir seus dados bancários sabe-se lá com quem nem levar para dentro de casa possibilidades de ter seus dados pessoais sequestrados, dispositivos como celular e computador infectados por vírus ou hackeados. Vale a pena passar por isso?
Esse cliente, ao contrário, vai ter ao alcance dos dedos, entretenimento e informação de primeira sem se expor, e ainda vai contribuir para a saúde de toda essa cadeia, que, certamente, também passa por ele próprio. Segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a pirataria como um todo impede a criação de 1,5 milhão de empregos por ano no Brasil.
A pirataria no país é endêmica, mas assim como aconteceu em mercados mais maduros, que a combateram e viram-na reduzir drasticamente, existe saída. O crescimento dos canais suportados por anúncios, os AVOD na sigla em inglês, oferecem ao consumidor uma gama impressionante de filmes e séries grátis, sem a necessidade de fazer login ou deixar o cartão de crédito e quaisquer outras formas de pagamento. Medidas impopulares como a tentativa de frear o compartilhamento de senhas dos serviços por assinatura são necessárias e esperamos que sejam mais uma frente nesta luta.
A exemplo do movimento feito há alguns anos no mercado fonográfico global, que ao baratear e deixar músicas acessíveis em plataformas específicas praticamente extinguiu a pirataria, podemos continuar investindo em ações conjuntas e articulando, em conjunto com a Anatel e outros órgãos relacionados, políticas públicas para tornar cada vez mais perigoso e desnecessário o hábito de consumir pirataria.
*Country Manager da Roku Brasil, possui mais de 20 anos de experiência no segmento de tecnologia e televisão, estando à frente da área de produtos em empresas como Sony e TPV. Integrante da Roku desde 2020, ano em que a empresa chegou no Brasil, é responsável pelo desenvolvimento e expansão dos negócios da plataforma no país
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