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Akin Abaz

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Influencers com deficiência me ajudam a não ser capacitista; tente também

Gabriel Araújo, nadador das Paralimpíadas de Tóquio - Naomi Baker/Getty Images
Gabriel Araújo, nadador das Paralimpíadas de Tóquio Imagem: Naomi Baker/Getty Images

Colunista do UOL*

23/09/2021 04h00

Você sabe o que é ou já ouviu falar do termo capacitismo? Essa palavra se refere ao preconceito e/ou discriminação contra pessoas com algum tipo de deficiência. Na época das Paralimpíadas, a expressão foi muito falada, o que é ótimo para trazer mais visibilidade sobre o assunto.

Mas você pode estar se perguntando o porquê ou com qual propriedade estou aqui para falar sobre isso, já que sou um homem negro, trans, que não tenho nenhuma deficiência, e que a priori possuo esse espaço para falar sobre tecnologia.

Bom, de fato não tenho lugar de fala nessa luta em específico, porém, uma coisa que todos podemos e devemos fazer é procurar se informar, estudar e conhecer a respeito dessa pauta e das vivências de pessoas com deficiência, para que não sejamos capacitistas, ou seja, saber de que forma podemos evitar ser preconceituosos ao falar com e sobre indivíduos PcD (pessoa com deficiência).

Nas minhas leituras e pesquisas sobre o assunto e buscando consumir conteúdo de produtores e influencers com deficiência, vi que umas das primeiras coisas que podemos fazer é eliminar do nosso cotidiano expressões que são capacitistas como: "fulano é um retardado" no intuito de xingar alguém, "você não viu isso, tá cego, é?", "Você tá surdo? Estou te chamando há séculos". Isso porque a cegueira ou a surdez são exemplos de características, como ser alto ou baixo, ter olho preto ou azul etc. Não são xingamentos.

Outra coisa é entender que pessoas com deficiência não são "coitadinhas" dignas de pena.

Há uma diferença enorme entre sentir pena e ter empatia por alguém. Ser empático com o outro é reconhecer e entender as dificuldades das pessoas com deficiência e não pela característica, mas sim pelo contexto que a sociedade coloca esses indivíduos, que vai da invisibilidade à síndrome de super-heróis da superação.

Pessoas PcDs não são inferiores a nós, que não temos nenhum tipo de deficiência, da mesma forma que não são melhores ou reis da superação por tê-las. Fazer isso é negar as particularidades de cada um, e não reconhecer que homens e mulheres com deficiência possuem a mesma capacidade e vontade de realizar tarefas do cotidiano, trabalhar, ser independente, ter amigos, relacionamentos amorosos e sexuais, como qualquer um.

Um outro ponto, esse no caso dos atletas em específico, é entender que nas Paralimpíadas assim como nas Olimpíadas, os participantes estão ali após uma rotina exaustiva de treino para dar o seu melhor, competir, superar recordes, se emocionar, torcer pelos seus colegas, aprender com as derrotas, vibrar com as vitórias, representar o seu país e buscar pelas tão sonhadas medalhas.

Inclusive, muita gente ainda não sabe por não ter acompanhado as Paralimpíadas, mas o Brasil é uma grande potência na competição. Ficando em 8º lugar em 2016, com 72 medalhas no total, sendo 14 delas de ouro, 29 de prata e 29 de bronze.

E neste ano alcançamos a 7ª posição com 22 medalhas de ouro, 20 de prata e 30 de bronze. Nosso país deu um show com atletas como Silvânia Costa no salto em distância T11, Wallace Santos no arremesso de peso F55, Wendell Belarmino nos 50m livre da classe S11 e Gabriel Araújo nos 200m livre da classe S2. Todos negros e medalhistas de ouro. #puroorgulho

Por isso, ser anticapacitista, além de ser empático com realidades diferentes das nossas, é compreender que não é preciso esperar ter um parente ou amigo com deficiência para querer saber mais sobre e levantar as bandeiras de respeito, igualdade e acessibilidade.

* Colaborou Gabriela Bispo, jornalista e redatora de conteúdo da InfoPreta