Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Roupas digitais ganham adeptos na pandemia e ainda ajudam o meio ambiente
Quem, assim como eu, cresceu durante a década de 90 e os primeiros anos dos anos 2000 provavelmente pelo menos uma vez viu o filme "As Patricinhas de Beverly Hills" passando na TV. O filme conta a história da adolescente Cher que, vaidosa, tinha em seu computador um programa com todas as suas roupas catalogadas. Nele, conseguia ver como as peças poderiam combinar entre si, e assim escolhia seu look do dia.
Quando me deparei com o termo "roupas digitais", a primeira coisa que me veio à cabeça foi isso. Mas imagina que essas peças existem apenas dentro dos aparelhos eletrônicos, sem existir fisicamente no nosso mundo real. Imaginou? Agora sim, isso são roupas digitais.
A moda digital ganhou espaço quando uma empresa holandesa se juntou a artistas gráficos e designers para criar peças virtuais. A marca começou o projeto em 2018, mas ganhou bastante espaço durante a pandemia, permitindo aos clientes "confinados" experimentar diferentes looks e fotografá-los para postar em suas redes sociais.
Com a pandemia da covid-19 e as pessoas tendo que estar em isolamento sem poder usar o que estão em seus armários, fez com que as roupas digitais se difundissem ainda mais entre blogueiras, influenciadoras e pessoas que se preocupam com as toneladas de roupas que são descartadas anualmente e os malefícios que isso causa ao meio ambiente.
É o caso da modelo brasileira Isabelle Boemeke, que atualmente mora nos Estados Unidos e criou um avatar nas redes sociais, Isodope, que defende a energia nuclear e o uso de roupas virtuais como uma das formas para combater a mudança climática.
Segundo um estudo de 2015 da organização Barnados, 92 milhões de toneladas de roupas são jogadas fora a cada ano. Com as peças criadas no computador, a moda digital reforça a ideia de que qualquer pessoa, independente de gênero ou tipo de corpo, pode usar a roupa que quiser, agradando a si mesmo e sem correr o risco de no futuro agredir a natureza com o descarte incorreto.
Mercado brasileiro x peças virtuais
No Brasil, as roupas digitais estão aos poucos tomando forma e se tornando conhecidas do público.
A Genyz, criada por Cairê Moreira, é pioneira no país quando se trata desse segmento. É também a primeira da América Latina a oferecer, desenvolver e trabalhar com um aplicativo que é capaz de escanear o corpo dos clientes para a criação de roupas físicas. Além de ser responsável pelas peças que são utilizadas por influencers virtuais como Princess A.I e Mia Bot.
Na prática, o processo funciona da seguinte forma: após a imagem escaneada do corpo, a modelagem e o corte de cada peça são realizados pelo computador. Depois dessa etapa, o molde é enviado para uma costureira (o) como no processo tradicional da confecção. Devido a maior parte dessa operação ser digitalizada, os fornecedores tem a flexibilidade de enviar metros do tecido desejado via Correios e similares. Isso faz com que a produção seja individualizada e sem desperdício de material.
Outro negócio do setor no Brasil, é o Studio Acci, criado por Letícia Acciarito e Henrique Assis, que fazem roupas 3D a partir de fotografias, desenhos e ideias dos seus clientes, que podem usar as peças em propagandas, editoriais ou para produzir conteúdo na internet.
E para quem pensa que só empresas ou clientes do segmento da moda e vestuário podem se beneficiar com isso, está muito enganado. Grandes marcas de luxo como Balenciaga, Marc Jacobs, Valentino e Louis Vuitton e muitas outras já criaram looks virtuais para o universo dos games como League of Legends, Animal Crossing e Fortnite.
Apesar de ainda não ser popular quando se trata do custo de criar e comprar uma roupa digital, o avanço tecnológico é tão constante e rápido, que não me surpreende a ideia de que em algumas décadas será possível ver pessoas utilizando tecnologias que permitam que suas roupas se transformem aos olhos dos demais, com auxílio de óculos especiais e realidade aumentada.
* Colaborou Gabriela Bispo, jornalista e redatora de conteúdo da InfoPreta
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