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Akin Abaz

REPORTAGEM

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The Last of Us salvou pessoas LGBTQIA+, diz dubladora de personagem lésbica

Luiza Caspary, atriz de voz brasileira da personagem Ellie da franquia The Last of Us - Carlos Franco
Luiza Caspary, atriz de voz brasileira da personagem Ellie da franquia The Last of Us Imagem: Carlos Franco

Colunista do UOL*

25/11/2021 04h00

Apesar de já estarmos em novembro, e o Mês do Orgulho para comunidade LGBTQIA +, da qual faço parte, ter sido em junho, a importância de se falar sobre temas que estejam ligados a isso é diária.

Como um bom apaixonado por games, me ver de alguma forma representado nesse universo faz toda a diferença. Por isso, decidi pesquisar um pouco mais sobre assunto para descobrir qual foi a primeira personagem trans nos jogos ou como anda essa representatividade no cenário atual.

Birdo - Super Mario Bros 2

Considerada como a primeira personagem transexual no mundo dos games, Birdo de Super Mario Bros 2 (1998) é um animal que se assemelha a um dinossauro.

No jogo a personagem é uma vilã, forte e carismática, que atira ovos de sua boca para atingir um alvo/personagem principal.

No manual do game, a descrição para Birdo diz: "é um garoto que pensa ser uma garota", que apesar da forma que está escrita não ser a ideal, deixa claro que a vilã é trans.

Alucard - Castlevania (1997)

O personagem que apareceu pela primeira vez em 1989 no jogo Castlevania III: Dracula's Curse, Adrian Tepes ou Alucard só veio a se tornar mais conhecido do público em Castlevania: Symphony of the Night.

Produzido para PlayStation, apesar de não ter na descrição nada referente a sexualidade de Alucard, o personagem é bissexual e tem isso explorado em outras mídias, como na série de mesmo nome que está no catálogo da Netflix.

Flea - Chrono Trigger (1995)

Em 1995, a Super Nintendo lança o RPG Chrono Trigger. Nele, o personagem Flea se apresenta como sem determinação de gênero binário.

Em um momento do jogo, Flea diz: "Masculino... Feminino... Qual é a diferença? O poder é lindo, e eu tenho o poder!"

Neeko - League of Legends (2007)

League of Legends é um jogo eletrônico online, gratuito e em equipes, que possui mais de 140 personagens jogáveis, com diferentes idiomas, terras natais e sexualidade, além de poderem ser humanos ou não.

Neeko, por exemplo, é uma vastaya (espécie híbrida de animais selvagens e humanos) que sente atração por outras personagens do sexo feminino.

Além disso, em 2018, Matt Dunn, um dos roteiristas de "League of Legends", confirmou a um usuário em um post no Twitter que Neeko se identifica como lésbica.

Ellie - The Last of Us (2013)

Uma das personagens que faz um grande sucesso e possui muita visibilidade no mundo dos jogos, é a Ellie da franquia The Last of Us.

Sua sexualidade foi muito explorada na saga, principalmente no segundo título, e também muito criticada fora da comunidade LGBTQIA+, por pessoas preconceituosas que disseram que essa temática não deveria ser abordada.

Definindo essa protagonista, Ellie é corajosa, forte e resistente, que passa por diversas situações problemáticas ao longo da sua jornada, e vai superando uma a uma.

Ela é lésbica e possui uma relação com Dina, que é uma mulher bissexual. Em uma determinada cena do game, ambas estão dançando e acabam sofrendo represália por terem se beijado. Uma cena que revolta, mas que infelizmente também já foi vivenciada por muitas pessoas LGBT na vida real.


Dublagem de games no Brasil

Luiza Caspary é cantora, compositora, atriz e muito conhecida por dar voz a personagens famosos de videogames. Baiana radicada em São Paulo, Luiza nos cedeu um depoimento falando como é ser uma atriz de voz e como é dar vida a Ellie da franquia The Last of Us:

"Dar vida a Ellie com minha voz na localização do jogo em português é um presente cheio de coincidências, me identifico demais com sua personalidade independente, forte... cresci longe do meu pai, assistindo e me inspirando por mãe e avó que derrubaram barreiras e faziam acontecer!

Ellie vive uma linda história com Dina, elas criam sua família, tem um bebê, são companheiras no amor e nos perrengues. Ela peita o preconceito e ainda traz o meme "preconceituíches", quem jogou sabe e vai se ligar na referência.

O mais lindo de tudo isso é a importância dessa representatividade.

Centenas de pessoas LGBTQIA+ me escreveram agradecendo por ter uma protagonista como Ellie, adolescentes dizendo estarem sossegados depois de se verem em um grande game, sua realidade retratada com naturalidade, é como se ver na tela.

Pessoas que tiveram depressão, traumas familiares e tendências suicidas... Recebo relatos que me arrancam lágrimas, contando como The Last of Us as "salvou" e faz parte da vida delas.

Querendo ou não, é minha voz ali, e eu faço com muito amor."

* Colaborou Gabriela Bispo, jornalista, planner e redatora da InfoPreta