Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Por que jogo 'cara ou coroa' simboliza as decisões de empresas na pandemia?
Quem já brincou de cara e coroa com uma moeda sabe que a probabilidade de cair um ou outro lado depende basicamente do acaso. É uma dualidade inocente. Entretanto, essa mesma dinâmica acontece em diferentes setores por conta da pandemia de covid-19. Em vez de se prepararem de forma adequada, muitos países, empresas e sociedade civil deixam as decisões para o "acaso", num jogo que pode trazer consequências nefastas para todos.
É o que ocorre, por exemplo, nas mais diversas áreas de conhecimento, incluindo na educação básica e superior e também em pesquisa e desenvolvimento. Enquanto que no primeiro sinal de crise o recomendado é manter (ou até ampliar) o investimento, o que se vê é o outro lado da moeda, ou seja, a redução dos custos durante um cenário de instabilidade econômica.
É nesse paradoxo perigoso que as organizações e o próprio poder público se equilibram.
A aceleração digital evidenciou a necessidade de inovação. Afinal, o que seria de nossas vidas sem redes sociais, pagamentos digitais por aplicativo, comércio eletrônico, videochamadas, entre outros, durante o distanciamento social? São recursos que ofereceram entretenimento, potencializaram o trabalho remoto e garantiram a sociabilidade entre as pessoas.
Mas nenhum deles surgiu ao acaso, como o simples lançamento de moedas para o alto. Para cada ferramenta que agiliza parte de nossa rotina, há uma intensa preparação, estudo, pesquisa e desenvolvimento por trás.
O senso de urgência em meio à pandemia de covid-19 pode acelerar essa busca, mas somente o investimento em conhecimento possibilita a identificação de um problema e, claro, como resolvê-lo.
Em um mundo onde a tecnologia está intrínseca em nossas vidas, a ponto do metaverso deixar de ser teoria para ter efeitos práticos, o conhecimento merece uma posição de destaque em qualquer estratégia —e não deixado ao acaso com o risco de comprometer o próprio futuro.
Nesse cara ou coroa, a moeda sempre precisa cair para o lado da inovação.
"Cara": inovação contínua e mais pesquisa
Diante da digitalização acelerada pela pandemia, há um lado dessa moeda que precisa ser valorizada. É a parte da "cara", ou seja, aquela que mostra o seu valor e pode ser considerada a mais importante. Em suma: é o investimento contínuo em educação, pesquisa e desenvolvimento.
Parece óbvio —e é— que o avanço tecnológico praticamente obriga empresas, sociedade civil e poder público a inovarem continuamente.
Não dá para adotar as mesmas medidas de meses e anos atrás e esperar resultados diferentes hoje. O mundo mudou bastante nesse tempo e, claro, as iniciativas planejadas, construídas e executadas precisam acompanhar essa realidade.
Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), realizada pelo Instituto FSB Pesquisa, mostra que 80% das médias e grandes indústrias que buscaram inovar entre 2020 e 2021 tiveram um ganho de produtividade, de competitividade e até de resultados financeiros.
Apenas 1% de quem inovou não conseguiu atingir nenhum dos três requisitos.
A mensagem está clara: quem inova tem maiores chances de alcançar a tão sonhada sustentabilidade financeira.
Não à toa, até mesmo pequenos negócios reconheceram essa necessidade de inovação.
A oitava edição da Pesquisa de Impacto da Pandemia de Covid-19 nos pequenos negócios, realizada pelo Sebrae, indica que um em cada quatro donos implementou algum tipo de inovação a partir da pandemia, o suficiente para alcançar resultados iguais ou até melhores.
"Coroa": a estagnação provocada pelo medo
O outro lado da moeda é a coroa, a parte que contribui para a estética e o design.
Nessa metáfora, são as situações que extrapolam a rotina de cada um e que podem imobilizar a busca por inovação e pelas ferramentas necessárias para esse fim. Podem ser fatores econômicos, desafios desconhecidos ou, como é o caso da pandemia de covid-19, um pouco disso tudo.
Isso ocorre pelo medo do imprevisível. Quando os próximos passos não são claros e a crise bate à porta, é natural fechar a torneira de investimento —e a área de educação e de pesquisa é uma das primeiras a sentir esses efeitos. São os setores em que o retorno sobre o investimento (o famoso ROI) é mais difícil de enxergar e/ou só é percebido a longo prazo.
O problema é que o pensamento no presente pode inviabilizar uma estrada para o futuro.
Quando se fala em educação durante a pandemia, quase metade das escolas públicas brasileiras (47%) não mantiveram o calendário letivo entre 2020 e 2021, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Em suma: uma grande parcela de crianças brasileiras não recebeu o ensino adequado no período.
Houve também uma redução de investimento em Pesquisa & Desenvolvimento, que é justamente onde ocorre a criação de novas soluções.
Hoje, essa área corresponde a apenas 1,3% do PIB (Produto Interno Bruno) nacional. Muito pouco, segundo relatórios da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad). A recomendação é justamente o contrário: os países deveriam aumentar a participação.
É hora de parar com o cara e coroa
Inovação e estagnação são dois lados da mesma moeda. No sentido de que quando não há políticas que incentivem a primeira, o resultado invariavelmente é a segunda opção.
No fim, não se trata de uma obra do acaso, mas de uma consequência direta de nossas ações. Inovar deve ser parte da estratégia. Ou melhor, da missão de profissionais e organizações.
O investimento em pesquisa e educação, portanto, precisa fugir dessa dualidade perigosa e finalmente ser encarada como deveria. Isto é, como elemento de mudança necessário para a construção de um país mais justo, igual e desenvolvido para todos.
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