Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Você levou sua mãe para se vacinar? É uma boa hora para valorizar a ciência
Hoje é aniversário da minha mãe! Ela mesma, que me levou para tomar as mais diversas vacinas quando eu era criança. Não vou listar aqui, para não criar confusão, mas sou feliz por não ter tido várias doenças graças às vacinas e aos meus pais, que me levaram para o terrível momento infantil de ser vacinado.
Quem diria que muitos anos depois haveria esse momento invertido de se preocupar com os pais e com a vacinação deles.
Cada vez que alguém posta nas redes sociais uma foto de um pai, mãe, avô ou avó dizendo que foram vacinados é uma emoção boa, é uma vitória, mesmo que ainda lenta. Minha mãe está vacinada! A gente já comemorou online.
Estamos há mais de um ano lutando contra um inimigo invisível, tomando medidas de precauções para se proteger de algo que a gente não vê, não sabe realmente onde está.
Nesse momento, a vacina, que é a melhor proteção, é também algo visível, é algo marcante, que ajuda a acalmar um pouco o coração e "ver" um pouco da situação melhorar.
Além de ver a vacina de perto, os números pelo mundo têm mostrado como ela tem feito diferença, como os grupos mais vacinados estão apresentando menos contaminação e menos mortes, o que traz ainda mais esperança.
É para relaxar? Ainda não, por um bom tempo. Mas é hora de celebrar a vacina, incentivar e cobrar uma boa vacinação.
É um bom momento para valorizar a ciência, a pesquisa e os esforços de tanta gente boa envolvida no desenvolvimento de imunizantes.
A gente costuma viver muito aquele ditado que diz que só se dá valor a algo quando se perde. Nós não perdemos por completo, ainda, a área de pesquisa e desenvolvimento, mas muita gente trabalhou com afinco para que isso acontecesse em nosso país (e isso durante muitos e muitos anos).
Hoje nós estamos passando por uma limitação na produção de vacinas que nos mostra como é importante o investimento em ciência, como é importante capacitar pesquisadores e institutos para estarem prontos para situações como essas e prontos para criarem a inovação no país.
Bom, quando eu digo que estamos percebendo isso, sinto que estou sendo muito otimista, porque no fundo não acho que vai melhorar o cenário num futuro próximo.
Já perceberam como na maioria das inovações que vemos em outros países, sempre tem algum brasileiro na equipe que até serve de ponte para explicar em reportagens como isso funciona? Isso acontece porque exportamos muito de nossas melhores mentes, que saem de um ambiente hostil para lugares onde podem trabalhar com incentivo e investimentos.
Enquanto isso, aqui ainda mantemos a narrativa de que pesquisadores são vagabundos, de que professores não querem trabalhar e que esses profissionais já são muito bem remunerados, mesmo que estejam com salários congelados, defasados e tendo que bancar parte do trabalho do próprio bolso.
Estamos vivendo numa realidade surreal de espera da vacina misturada com um ódio à ciência.
Vemos pedidos de fechamentos de universidades, cortes de verbas em pesquisas, falta de condições mínimas para realizar um trabalho científico que possa se equiparar a outros países, mas com uma cobrança de resultados, como se esses não viessem por má vontade.
Temos um desafio muito grande para manter a ciência viva e crescendo em nosso país, mas como fazer isso se as novas gerações já veem a ciência como uma área perseguida, difamada e desvalorizada?
Hoje é mais "interessante" seguir carreira de participante de reality show ou tentar carreira na política, que são áreas onde se ganha bem e se responde pouco pelos atos.
Precisamos valorizar a ciência, precisamos trazer o brilho de volta aos olhos das crianças que sonham em ser cientistas, em fazer diferença no mundo.
Como fazer isso?
Podemos começar valorizando os que já estão fazendo ciência e estão fazendo a diferença no mundo. Não só dando os parabéns ou um cartão de congratulações, mas fornecendo um ambiente digno de trabalho, condições de fazer e ampliar as pesquisas e, por que não, o reconhecimento público pelo que fazem, ao invés das pedradas a que estão acostumados.
E eu gostaria de agradecer também a vocês por terem vacinado a minha mãe e até eu mesmo estou vacinado com a primeira dose.
Muito obrigado cientistas, profissionais de saúde e todos os envolvidos!
Viva a ciência!
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