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Opinião

Estamos fazendo cada vez menos sexo? Teste o nível do seu declínio erótico

Há vinte anos, escrevi um pequeno artigo sobre o declínio do erotismo no cinema brasileiro¹ a partir das observações do nosso grande crítico e estudioso Ismail Xavier, que apontava duas tendências dominantes no cinema brasileiro a partir dos anos 1960: uma voltada para a dramaturgia familiar, situações de classe e vida política; outra centrada nas paixões, no desejo e na sexualidade.

Ao longo dos anos 1980 e 1990, esta segunda tendência tornou-se cada vez mais hegemônica. Em parte, por que houve um breve período conhecido como "desbunde", logo depois do fim da ditadura, em 1984, e a consciência da chegada da Aids, em 1986.

Tínhamos Dzi Croquetes e Madame Satã na cena gay. Língua de Trapo, Joelho de Porco e o roquinho malicioso na música. Vale Tudo e a série de novelas inspiradas em Jorge Amado. No humor, era Pasquim, depois Planeta Diário, depois ainda Casseta e Planeta. Nos quadrinhos, Angeli, Laerte e Glauco. No teatro, Zé Celso Martinez.

Nos anos 2000, esta tendência entrou em queda. O cinema começava a sua linhagem de super-heróis. Na vida real, os super-pop stars como Michel Jackson escasseavam. Falava-se muito em tribalização dos gostos com a ascensão da classe C e do culto das subcelebridades.

O otimismo era gradualmente substituído pelas decepções com as novas tecnologias e a percepção de que a curva de crescimento seria mais lenta e longa. O terrorismo e a redefinição de preconceitos tomaram a frente da pauta moral.

Do ponto de vista da sexualidade, ocorreu uma abertura muito maior para as práticas não heteronormativas e genitais. E as famílias se redefiniram grandemente com a abertura para a união e adoção homossexual.

Neste momento, a sexualidade deixou de centrar-se exclusivamente no problema do prazer e começou a ser pensada e atravessada por questões de gênero, poder e reconhecimento.

As emoções envenenadas, a prepotência e as pequenas tiranias substituem as grandes alegorias em torno da decadência familiar, da ambição e da resistência à autoridade constituída, tematicamente marcantes nos anos 80.

Assim, a ascensão do ressentimento parece corresponder ao declínio do erotismo.

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Poderíamos argumentar que a violência ressentida torna-se mais palatável que o erotismo pré-fabricado, e que a miséria vem a dar nova forma a nosso exotismo, agora aderente também ao universo urbano.

Em 2010, escrevi uma outra coluna sugerindo que a sexualidade estava saindo de pauta, com a entrada de uma curiosa nova moralidade, por um lado mais aberta e tolerante, por outro lado, mais hipermoral e vigilante.

Usei o exemplo das novas séries de animes, como Pokémon, como exemplo de narrativas onde o sexo fica apenas sugerido. Os tais quase-animais evoluíam, mas não por reprodução como encontro entre dois seres diferentes, mas pela aquisição de experiências, equipamentos e habilidades.

Quando mencionei que era uma geração que tinha começado vendo Teletubbies, ou seja, bebês anamórficos em termos de gênero, muitos sentiram-se ofendidos. Mas, na verdade, começava ali um novo declínio do erotismo nacional, depois comprovado por muitas pesquisas quantitativas.

Nos anos 2000 a 2010, a frequência sexual dos brasileiros variava, em média, de 2 a 3 vezes por semana. Mas, já em 2017, essa frequência caiu para 1,7 por semana, com a concentração da prática entre 25 a 34 anos.

Cenário que piorou ainda mais durante a pandemia (2020-2021), atingindo a frequência sexual tanto de casais de longa duração quanto dos jovens adolescentes.

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Estresse, confinamento e "familiaridade forçada" em conjunto com a ansiedade atmosférica com o "outro perigoso", gerada pela crise sanitária, ocasionaram uma espécie de curto-circuito erótico digno do Bubassauro.

Aumento do uso de aplicativos de relacionamento, acesso facilitado a sexo virtual e a disseminação da pornografia digital parecem ter concorrido para a diminuição do sexo presencial.

Contudo, o mais preocupante, do ponto de vista psicanalítico, não é tanto a frequência do comportamento, mas que o sexo tenha saído da "cabeça das pessoas".

O mais expressivo vilão aqui não é a internet, nem os aplicativos, nem os vibradores, tipo coelhinho ou Charmander, mas o tempo mental excessivamente dispensando ao trabalho, seja ele trabalho formal, informal, doméstico ou em práticas de cuidado.

Arrisquemos aqui uma lista de elementos antissexo, que serve como reflexão e "autoteste" (a paixão enganadora da atual internet) para que o leitor avalie seu eventual declínio erótico:

  1. Excesso de ocupação mental com o trabalho
  2. Excesso de dedicação ao entorno laboral (colunas que ensinam a ganhar tempo, métodos de agilização mental, disciplinas de auto-organização, técnicas de lista)
  3. Degradação ou rarefação de experiências como intimidade ou comunalidade
  4. Terceirização da imaginação erótica para a vida dos outros (em modo Instagram, Big Brother, etc)
  5. Transformação do erotismo em agressividade
  6. Degradação do erotismo em narcisismo (a causa e os suportes para gerar o desejo se sobrepõe ao desejo ele mesmo)
  7. Dessexualização dos gêneros
  8. Preguiça de colocar a camisinha
  9. Temor das implicações sociais de uma transa (especialmente o medo sobre humano de broxar ou o comentário maledicente dos amigos no after).
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Como avaliar seu nível de degradação erótica:

Some os pontos conforme os itens que você marcou na lista acima

  • Se você passou de 15 pontos, comece imediatamente um regime de engorda erótica.
  • Se você tem menos de 10 pontos, considere diagnósticos como priapismo, satiríase ou ninfomania.
  • Se você não consegue responder a um questionário tão vago e genérico, entenda: talvez você esteja no caminho certo. Vá em frente e desfrute!

1. Dunker, Christian (2003) O Declínio do erotismo no cinema nacional. Interações v.8 n.16 São Paulo dez. 2003.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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