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Trump precisa do Twitter, mas sua volta pode afetar negócio de Elon Musk
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Algumas frases entram para a história do cinema sem nunca terem sido ditas. É o caso da famosa profecia "Construa e eles virão!", que motiva Kevin Costner no filme "Campo dos Sonhos" (1989) a construir um estádio de beisebol no meio da sua plantação de milho.
Na verdade, a frase escutada pelo personagem de Costner no filme é "Construa e ele virá". No final das contas, ambas as versões da frase combinam com a mensagem do filme, já que ele (o pai do personagem) e eles (o público) acabam mesmo vindo para o estádio recém-construído.
O mesmo vale para a recente declaração de Elon Musk sobre a possibilidade do ex-presidente norte-americano Donald Trump voltar ao Twitter depois de ser banido da plataforma. Trump já disse que não tem intenções de voltar e que prefere privilegiar a sua nova rede (chamada "Truth Social").
Acontece que o Twitter que Elon Musk pretende construir após a conclusão do processo de aquisição da empresa parece destinado a atrair personagens como Donald Trump. Construa e ele virá.
Elon Musk classificou a decisão do Twitter em banir Trump após tuítes que provocaram a invasão do Capitólio em 2021 como "moralmente errada" e "inteiramente estúpida". Segundo Musk, essa decisão não calou Trump, mas apenas amplificou a sua voz na direita.
Musk defendeu nessa mesma entrevista a suspensão temporária para contas que violem gravemente as regras da plataforma (como um tuíte que "destrói o mundo"), mas não banimento permanente.
Não deixa de ser interessante que ele hesita duas vezes ao falar sobre remoção de tuítes e parece preferir opções como redução de visibilidade do conteúdo à supressão do mesmo.
Acontece que Trump precisa estar no Twitter. Na Truth Social ele só prega para convertidos. Redes sociais que congregam públicos diversos são essenciais para que políticos possam crescer a sua base de apoio e sensibilizar novos eleitores. Construa e eles virão.
Redes nichadas, por outro lado, servem de laboratórios para memes e narrativas que são testadas na base já mobilizada. Mas esses conteúdos precisam sair dali e chegar aos eleitores indecisos.
No caso norte-americano, esses conteúdos precisam atingir também os que não estão motivados para votar. Esse público não está na Truth, mas em redes maiores e mais diversas como o Twitter.
Por tudo isso parece claro que Trump, se possível, voltará ao Twitter sob a nova direção de Elon Musk. Resta saber se o comportamento do ex-presidente, em ritmo de campanha eleitoral, não deteriorará a confiança do público e de autoridades na habilidade da empresa em conter ataques e desinformação.
Esse cenário seria bastante prejudicial para os investidores que apostaram na empresa, já que o Twitter poderia começar a enfrentar problemas com autoridades estrangeiras, levando à imposição de sanções ou mesmo bloqueio. A Europa acaba de aprovar uma legislação que vai no sentido contrário do que prega Musk.
E vale também prestar atenção nos usuários do Twitter. Um novo público pode migrar para a plataforma justamente para acompanhar figuras como Donald Trump, mas a ausência de moderação de conteúdo e a criação de um ambiente cada vez mais tóxico podem afastar outros tantos. Destrua e eles irão embora.
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