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Encontro de Musk e Bolsonaro envolve política, negócios e negacionismo
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A política, os negócios e o negacionismo marcaram presença no evento Conecta Amazônia, palco do encontro de Elon Musk, o homem mais rico do mundo, com autoridades e empresários brasileiros.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) marcou presença no encontro e disse para Musk que "o que você puder trazer para nós, dessa forma graciosa, do coração, nós somos eternamente gratos."
O propósito do evento era anunciar o plano para "conectar e proteger" a Amazônia a partir da tecnologia provida pelos satélites da empresa Starlink, de Musk. As duas propostas merecem um olhar mais cuidadoso.
Conectar escolas da região amazônica por meio dos satélites da Starlink pode gerar um resultado interessante ao levar internet ou melhorar a qualidade de acesso nessas localidades.
Mas não custa lembrar que o desatendimento dessa região continua sendo uma falha importante tanto no desenho dos planos de expansão do acesso à internet no Brasil, como da consequente fiscalização das entidades envolvidas na sua execução.
Vale ainda lembrar que o começo da operação da Starlink no Brasil foi acompanhada de críticas sobre a condução do processo de autorização na Anatel.
Já a parte de proteger a Amazônia é no mínimo paradoxal. Poucos detalhes foram revelados sobre como isso vai se dar, mas aparentemente os satélites de Elon Musk ajudariam o governo a controlar o desmatamento na Amazônia. Como isso se encaixa com os discursos prévios sobre soberania nacional e interesses estrangeiros na região?
Bolsonaro chegou a falar que a tecnologia de Musk vai ajudar a mostrar ao mundo a verdade sobre a floresta. Segundo disse o presidente, "a Amazônia não pega fogo porque é uma floresta úmida".
O presidente do Brasil também afirmou que a visita do empresário não era para fazer negócios, mas apenas uma cortesia.
Os interesses de Musk no Brasil vão além da cortesia.
A Tesla celebrou recentemente contrato com a Vale para o fornecimento de níquel, extraído do Canadá. Com as interrupções do suprimento da China e a guerra da Ucrânia, a mineradora brasileira ficou em posição privilegiada para aumentar a sua participação no lucrativo negócio de fornecimento de matéria-prima para a fabricação de carros elétricos.
Quando autoridades bolivianas questionaram os negócios da empresa no país, em especial com relação à extração de lítio, o empresário ironizou no Twitter que o governo norte-americano bem poderia incentivar um golpe por lá, "e onde mais quisesse".
Por fim, Bolsonaro aproveitou a oportunidade para fazer comentários sobre a proposta de aquisição do Twitter pelo empresário. O presidente disse que essa proposta era um "sopro de esperança" e que muitos brasileiros viram essa notícia como "um grito de independência".
O que está em jogo aqui é a torcida do governo para a aquisição se concretize.
Musk já disse que o banimento de Trump da plataforma foi um erro e Bolsonaro espera contar com essa visão caso ele continue a infringir as regras da rede social em suas postagens. O principal receio é que, em caso de derrota eleitoral, o presidente use as redes sociais para insuflar movimentos golpistas e violentos, como visto nos Estados Unidos.
No final das contas, Musk e Bolsonaro saem ganhando com esse encontro. O empresário avança seus negócios em um país que pode ser cada vez mais importante para suas empresas. O presidente ganha uma oportunidade de foto com uma celebridade internacional e que pode, em um futuro próximo, ditar as regras de uma das mais importantes redes sociais.
Nas redes, por sinal, o encontro já está rendendo uma centena de memes. O próprio ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, postou uma montagem de Bolsonaro e Musk como dois Power Rangers. Resta saber o que vai sair dessa combinação quando for a hora de morfar.
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