Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

'Pai' do ChatGPT diz que IA mudará o mundo, mas teme morrer por isso

Sam Altman, CEO da OpenAI, tem dado várias entrevistas recentemente. O timing parece bom, já que faz alguns meses desde que o mundo acompanhou a saga de sua demissão da empresa pelo conselho de administração - ainda que para ser trazido de volta em menos de uma semana. De lá para cá, a OpenAI revelou estar trabalhando em uma ferramenta que transforma comandos de texto em vídeo, chamada Sora, e expandiu sua loja de aplicações que rodam a partir do GPT — ah, e também foi processada pelo jornal "New York Times" e por Elon Musk.

Era de se esperar que Altman esclarecesse as razões que levaram à sua breve demissão, além de fazer anúncios importantes sobre o que vem pela frente. Nada disso aconteceu. Ainda assim, as falas de Altman ajudam a montar um quebra-cabeça curioso sobre o futuro da inteligência artificial e como a OpenAI, com uma peculiar estrutura societária que mistura unidade empresarial supervisionada por entidade sem fins lucrativos, pretende liderar um mercado cada vez mais competitivo.

Talvez a expressão que mais apareça nas respostas de Altman sobre os mais variados assuntos é "ainda não". De certa maneira, isso revela que os planos da empresa são bastante ambiciosos. Demonstra também que atualmente muitas das percepções sobre o que a IA pode fazer são ainda uma mistura de expectativas e de especulações.

A OpenAI é realmente aberta?

Um ponto curioso da entrevista de Sam Altman ao podcast de Lex Fridman é a revelação de que, se ele pudesse voltar no tempo, mudaria o nome da empresa. Isso acontece porque a OpenAI não é tão open ("aberta", em inglês) assim. Esse é o argumento de Elon Musk em sua ação contra a empresa. A missão última da entidade é garantir que a descoberta e o desenvolvimento de uma inteligência artificial geral (IAG) aconteça de forma segura e que seus benefícios possam ser compartilhados. Musk argumenta que os lançamentos da empresa são cada vez mais fechados, dando pouco espaço para se entender como as aplicações, como o ChatGPT, são treinadas e implementadas.

Altman argumenta que o seu entendimento de "abertura" é outro: "colocar tecnologia poderosa nas mãos das pessoas de graça, como um bem público". É por isso, diz o CEO, que "não exibimos anúncios na nossa versão gratuita, nem a monetizamos de outras maneiras".

A versão gratuita do ChatGPT por si só foi revolucionária ao mostrar ao mundo o poder da IA. De certa forma, ela ajudou a dar concretude ao debate sobre as potencialidades —- e os riscos — envolvidas no desenvolvimento e na disponibilização de ferramentas de inteligência artificial. "[A IA não] mudou o mundo, mas sim as expectativas do mundo para o futuro", pondera Altman.

E, quando se pensa nas expectativas para o futuro, já se imagina quando a IAG será de fato alcançada. Nas redes sociais não faltam especulações sobre Ilya Sutskever, co-fundador da OpenAI, ter pressionado pela demissão de Altman porque teria visto que a IAG já estaria mais perto do que se imagina. A pergunta é "o que Ilya viu?". Na entrevista a Lex Fridman, Sam Altman deixa claro:

Ilya não viu a IAG. Nenhum de nós viu a IAG. Nós não construímos a IAG
Sam Altman

Continua após a publicidade

Ainda não.

O futuro do ChatGPT

Uma questão que chama atenção em várias falas de Altman é o papel da personalização na experiência do usuário do ChatGPT. Ele mesmo admite que a função que mais gosta de testar na aplicação é a de assistente para fazer brainstorm sobre os mais variados temas. E aqui fica uma dúvida: um parceiro para refletir sobre os temas seria melhor ou pior se ele conhecesse com detalhes a sua forma de pensar e de ver o mundo?

Estamos muito no início de nossas explorações aqui, mas eu acho que o que as pessoas querem, ou pelo menos o que eu quero para mim, é um modelo que me conheça e se torne mais útil para mim com o tempo. Todos nós ganhamos experiência ao longo de nossas vidas em graus variados, e eu gostaria que meu agente de IA ganhasse com essa experiência também. Então (...) se eu pudesse colocar todas as conversas que já tive com qualquer pessoa na minha vida lá, se eu pudesse ter todos os meus e-mails de entrada e saída na ferramenta em que faço uma pergunta, isso seria bem legal
Sam Altman

Tudo indica que as próximas versões do ChatGPT vão querer saber mais sobre você.

Altman vem destacando nas entrevistas recentes a sua visão otimista sobre o futuro da IA. Mas reconhece que muitas "coisas ruins" vão acontecer no caminho. Por exemplo: pessoas podem perder os seus empregos e botar a culpa no desenvolvimento de IA. E quem é a cara da IA no mundo? Por isso, Altman diz que "não é zero" a chance de ele ser eventualmente baleado por alguém insatisfeito com o mundo permeado por IA.

Continua após a publicidade

Em uma nota mais leve, quando perguntado sobre quais as capacidades mais impressionantes do seu modelo de IA, Altman disse que acha o GPT-4 meio "ruim" — é ele que alimenta a versão paga atual do ChatGPT.

Segundo ele, o GPT-3 parecia incrível no ato de lançamento. Hoje, ele "é inimaginavelmente horrível." Já o GPT-5, quando for lançado, deve fazer o mesmo com o GPT-4. Acontece que ele ainda não foi lançado. Isso nos leva a crer que o CEO da empresa deve estar ancorada em alguma visão — ou experimentação — do que vem pela frente com o GPT-5. Sam Altman não prometeu nenhuma data, mas disse que a OpenAI deve lançar um modelo novo esse ano.

O que se sabe é que a Sora, a ferramenta de criação de vídeos, ainda não está pronta para ser lançada. "Ainda há uma tonelada de trabalho a ser feito lá", disse Altman, apontando também para questões sobre deepfakes e desinformação.

A trajetória dos debates sobre inteligência artificial se confunde com a história, as disputas e os produtos da OpenAI. Conhecer o que pensa o CEO da empresa é importante para entender o mundo no qual achamos que sabemos do que a IA é capaz. Até porque, enquanto as ferramentas mais populares para criação de imagens continuarem a gerar figuras humanas com seis dedos, parece que elas ainda não estão prontas para redesenhar o mundo. Ainda não.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Deixe seu comentário

Só para assinantes