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Opinião

Para onde você vai revela seu perfil: Threads é Leblon, e Bluesky a Tijuca

O momento de decisão sobre qual rede usar quando fomos todos expulsos do X, se Bluesky ou Threads, é tão interessante por que ninguém é verdadeiramente por inteiro nas redes. Nosso perfil é sempre um recorte —mesmo quem expõe excessivamente a sua intimidade o faz de forma meio cenográfica— e para começar a ter algum alcance o conteúdo precisa ser etiquetado e entregue para algum nicho.

E o usuário de rede social é essencialmente um taurino: detesta mudança e nada mais no mundo é mais importante do que o conforto de ter o que é seu: o seu espaço, os seus seguidores, os seus posts. Por isso, todo novo update, toda nova mudança de layout das redes, é sempre recebida de forma negativa. Sempre ficou péssimo, sempre antes era muito melhor.

Para contas maiores é mais do mesmo. É aquela corrida para trazer de volta os seguidores e mostrar que mesmo na casa nova tudo permanece confortavelmente igual.

Mas, para quem não faz das redes um negócio e usa para se comunicar, se informar ou se divertir, esse é um momento bem confuso. Em qual rede estão os perfis que eu mais gosto de seguir? Nem todo mundo migrou para as duas.

E no átimo de um dia as opções não poderiam ser mais diferentes.

Até aqui a galera tuiteira está mais no Bluesky.

Lá estão os memes, aquele fino senso de humor autodepreciativo e o engajamento rápido que constrói o ego dos influenciadores.

No Threads está o jornalismo, a divulgação científica e talvez um recorte de idade mais alto do que no Bluesky.

É uma sensação de primeiros dias. Ainda é cedo para cravar que o Threads é o Leblon e o Bluesky a Tijuca.

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Talvez não seja isso de que um é mais autêntico e o outro mais scriptado; um mais bicho solto e o outro mais gourmet.

O que faz as redes são o seu público, mas também as ferramentas que elas colocam nas mãos desse público.

A ausência de trending topics e de mensagens diretas no Threads faz falta, assim como a instabilidade nos primeiros dias no Bluesky fez muita gente achar que as coisas lá são mais precárias.

De toda forma, novas redes são novas possibilidades de comunicação e a gente, que achava que já tinha visto tudo o que uma rede social poderia ser, com seus naturais impactos na sociedade, tem mais que abraçar esse momento.

É chato ter que caçar seus perfis favoritos em novas redes. É chato perder seguidores. É chato descobrir que talvez alguns perfis gringos só estejam mesmo no X porque nos seus países o Musk ainda não decidiu descumprir ordens das autoridades locais para fins políticos.

Por outro lado, ver como funcionam novas redes quase que do seu começo é um respiro que pode ter vindo na hora certa.

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Talvez o debate sobre o que é uma rede social, como nós usamos essas ferramentas (e como elas usam nossa atenção, nosso tempo e nossos dados), como elas formam comunidades e bolhas, espalhando informação e desinformação, possa agora ganhar uma nova luz.

O X com sua ausência de moderação já não era o espaço crítico, muitas vezes intenso, e valioso que um dia foi.

O X virou um teatro cuja peça que estava em cartaz era o que Musk quisesse botar para a gente assistir.

Tomara que as redes sociais possam ser mais do que isso e que a gente possa entender melhor nossa vida cada vez mais digital. Esse caminho não tem volta.

Ao mesmo tempo, vale lembrar que os personagens que tocam essas novas redes não estão começando agora.

Jack Dorsey (fundador do Bluesky e ex-CEO do Twitter) e Mark Zuckerberg (CEO da Meta, que opera o Threads) são protagonistas de alguns dos episódios mais impactantes que ajudaram a formar essa breve história das redes sociais.

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Será que a trajetória de Musk, que confundiu a sua agenda política com a gestão da sua rede social como nunca antes, servirá de aviso ou de sugestão para os líderes da próxima rede social super popular no Brasil?

E se o X voltar a abrir a porta para brasileiros, com um eventual desenlace das questões judiciais? Você voltaria para lá? Quanto mais tempo ficarmos sem o X me parece que mais vamos poder refletir sobre o que aquela rede virou.

Será que não tem como participar do ambiente memético, irreverente e com o frescor do ao vivo que o Twitter oferecia sem vir junto os ataques gratuitos, a franja lunática e o emagreça em três dias fazendo yoga na cadeira?

Bom, esse último fica no meio do caminho entre o meme e a alucinação.

Pode ser coisa de velho, mas para mim o X e o Twitter são duas redes muito diferentes. A compra do Twitter por Musk acentuou o que havia de pior por lá. Como não posso voltar para o Twitter, vamos seguir para as redes novas e ver no que vai dar.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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