Virou rede social? ChatGPT ganha memória para lembrar quem você é
O ChatGPT agora tem um recursos de memória para lembrar tudo o que precisa para deixar a experiência de uso mais agradável. Isso pode ser bom para os usuários, mas é muito melhor para a OpenAI, o que desperta questionamentos importantes.
A empresa anunciou nesta semana que liberou para a versão paga do ChatGPT um novo mecanismo de memória de longo prazo que armazena informações sobre quem você é, com o que trabalha, como gosta das coisas. Chamado "Memory", o recurso é uma versão aprimorada e com experiência mais orgânica da ferramenta "Instruções personalizadas".
Você poderá dizer explicitamente para o ChatGPT as coisas que ele deve lembrar para você não ter que ficar repetindo o tempo todo. Basta contar em uma conversa que ele deve memorizar tal coisa.
Por exemplo, você pode falar para o ChatGPT que é um professor e que trabalha com um plano de aula em um formato específico. Então, sempre que abrir um novo chat e fizer um pedido, ele já sabe o formato que deve usar para responder.
Você também poderá especificar preferências pessoais para tornar a experiência melhor. Abaixo, um exemplo dado pela OpenAI:
Você menciona que tem um filho pequeno que adora águas-vivas. Quando você pedir ao ChatGPT para ajudar a criar o cartão de aniversário dele, o Chat deve sugerir o desenho de uma água-viva usando um chapeuzinho de festa
Esse movimento é ótimo para a OpenAI por dois motivos principais.
- OpenAI irá conhecer cada vez mais as preferências, gostos e necessidades das pessoas sem ter que inferir por dados indiretos (likes, compartilhamentos, pesquisas, etc). Usará apenas a própria autodeclaração das pessoas. Se combinar esse tipo de informação com dados indiretos, a IA vira uma ferramenta poderosíssima de relevância e personalização.
- O segundo motivo está relacionado com o próprio desenvolvimento da tecnologia. Essas IAs conversacionais, também chamadas de Modelos de Linguagem, estão próximas de atingir um platô de desempenho em que muitas delas vão ter comportamentos parecidos. Assim, a escolha por uma ou outra será influenciada pela familiaridade com a ferramenta, outras funcionalidades e a facilidade de acesso.
A OpenAI está conseguindo criar um ecossistema relevante em torno do ChatGPT. O lançamento de funcionalidades de customizações (Memória, GPTs, etc) ajudam a fortalecer o vínculo dos usuários com o ecossistema do ChatGPT.
No universo das redes sociais, discutimos o "efeito de rede", fenômeno no qual o valor de uma plataforma aumenta à medida que mais pessoas a utilizam. É tão difícil desbancar Facebook, Instagram e X porque o valor está no ecossistema de conexões entre pessoas e conteúdos que elas hospedam.
Algo parecido pode acontecer no universo da IA. É o "efeito personalização". As pessoas ficarão dependentes das personalizações das IAs que vão ter preguiça de usar — ou migrar — para outras plataformas de chatbots.
A OpenAI está fazendo movimentação para permitir cada vez mais personalizações por meio da funcionalidade Memória e GPTs customizados. O Google também tem buscado fortalecer o ecossistema em torno do Gemini. Nesta semana, a empresa de Mountain View apresentou a integração da sua IA com várias extensões do Youtube, Google Flights e mais.
A personalização das IAs é o próximo grande movimento que devemos acompanhar no curto prazo. Esse tipo de inovação traz melhorias no desempenho do modelo e na experiência de uso. Mas há pontos de atenção que precisamos discutir.
A privacidade é um deles. Embora a OpenAI tenha implementado mecanismos de controle para as pessoas poderem apagar suas memórias, a empresa deixa claro em seu anúncio que poderá usá-las para o treinamento dos próximos modelos.
O encolhimento da pluralidade sobre a realidade é outra preocupação. Se o tal do algoritmo que monta os "feeds" em redes sociais é um mecanismo sensível para a formação de bolhas que moldam a percepção das pessoas, o que dizer de uma IA customizada que pode, no limite, responder apenas o que as pessoas querem ler e ouvir?
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