Diogo Cortiz

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Opinião

Apple mostra ao mercado que inteligência artificial virou commodity

O mercado estava ansioso para saber como a Apple se comportaria na revolução da inteligência artificial, ou IA. A percepção era a de que a empresa estava atrasada se comparada com as outras big techs, como Google e Microsoft, mas a resposta veio nesta semana.

Mais do que uma resposta, o lançamento do projeto de IA da Apple foi uma lição para o mercado: a IA deve ser vista como meio, não como fim.

Chamada de Apple Intelligence —um nome que nasce com uma pitadinha de marketing para que a empresa crie seu próprio acrônimo para AI—, não é essencialmente apenas um modelo de IA, mas um ambiente que coloca o poder dos modelos generativos no centro dos principais produtos da Apple: iPhone, iPad e Mac.

A sacada da empresa foi criar um ecossistema em que a IA se integra de forma natural ao sistema operacional, aplicativos nativos e de terceiros. Diferente de outras IA e modelos gigantescos que focam no "conhecimento do mundo", a Apple quer que a IA seja especialista no contexto pessoal dos usuários.

São várias funcionalidades de IA que fluem por todo o ambiente da Apple de uma maneira intuitiva. A ferramenta de escrita permite a correção ortográfica, mudança de tom e de formato do texto, enquanto a ferramenta de criação de imagens permite a produção de novos conteúdos.

Tudo isso acontece a partir de uma interface fluida e integrada com a mesma experiência dos aplicativos da Apple, com microinterações que dão um show à parte e nos seduzem no uso das funcionalidades dos modelos generativos.

A Siri também ficou mais poderosa e promete facilitar a vida das pessoas de uma maneira personalizada, uma vez que agora aprende e responde a partir dos dados pessoais de cada um. A IA pode vasculhar fotos, calendário, mensagens e e-mails para produzir uma resposta que seja contextualizada para cada pessoa.

Isso pode parecer um pesadelo para a privacidade, mas a Apple garante que é justamente a sua atenção para esse requisito que faz sua IA tão diferente. Enquanto os usuários precisam enviar dados para servidores na nuvem ao usar os modelos generativos e chatbots mais comuns, a Apple Intelligence foi desenvolvida para ser executada no dispositivo das pessoas.

A proposta da Apple é que com um modelo mais enxuto e especializado, quase tudo que o usuário de um smartphone precisa pode ser executado localmente. Caso uma tarefa ou pedido exija mais processamento, o sistema recorre a um pedaço de nuvem privada da empresa para ajudar no processamento.

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A Apple seguiu à risca o que chamamos de "AI First", que é a proposta de colocar a Inteligência Artificial no centro da inovação. Mas em vez de desenvolver a IA por modismo, ela focou nas necessidades e preferências dos seus consumidores no contexto de uso do smartphone.

Quem esperava que a Apple fosse apresentar um modelo gigantesco para competir com o ChatGPT e Gemini, ficou frustrado. As ações caíram logo após o anúncio, o que, na minha opinião, mostra que o mercado ainda é imaturo para entender a tecnologia, além de ser facilmente persuadido por um discurso baseado no hype.

Enquanto todo mundo discute qual é o modelo mais avançado a partir da avaliação em diferentes benchmarks, os próprios desenvolvedores não conseguem muitas vezes gerar valor a partir de sua própria criação. Basta ver como o Google ainda patina em como integrar e tirar valor do Gemini em muitos dos seus serviços, incluindo a própria Busca.

Quando analisamos os grandes modelos de IA generativa hoje, tanto os proprietários como os código-aberto, identificamos uma tendência em que todos estão ficando cada vez mais próximos em desempenho. Isso é inerente da própria arquitetura desse tipo de IA (as redes Transformers), que pode estar atingindo o seu limite.

Quando eu falo que a IA está virando "commodity", muitas pessoas acham uma loucura. Como uma tecnologia que é tão custosa de ser desenvolvida pode virar "commodity"?

É preciso abstrair um pouquinho e inverter a lógica de como analisamos a tecnologia. A IA está se transformando em algo parecido com a eletricidade ou a internet, uma infraestrutura que é fácil de acessar e de trocar o provedor de serviço. E a Apple parece ter entendido isso.

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Enquanto ainda não tem o seu próprio modelo de linguagem tão complexo como o ChatGPT, a Apple optou por uma parceria com a OpenAI para plugar a IA que é estado da arte no Apple Intelligence. Quando o usuário faz um pedido que não pode ser atendido pelo modelo local, o sistema pergunta se deseja enviar a requisição ao ChatGPT.

Assim, a Apple Intelligence funciona como uma camada que integra diferentes modelos de IA: os próprios e de terceiros. Durante o lançamento, a empresa anunciou que em breve pode contar com outros modelos especializados e, quem sabe, o seu próprio modelo estado da arte.

A vantagem competitiva para as empresas no futuro estará nos dados e no conhecimento exclusivo para tirar vantagem. O que importa no fim é criar o melhor ecossistema para os seus usuários, o que a Apple sempre fez muito bem.

Aos poucos, o mercado está assimilando o movimento da Apple. Se logo após o anúncio da Apple Intelligence as ações caíram, ao longo da semana elas se recuperaram e subiram quase 9%. A Apple voltou a ser a empresa mais valiosa do mundo na última quinta-feira (13) com sua estratégia peculiar de IA.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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