'Brainrot': seu cérebro pode 'apodrecer' por consumir tanto conteúdo fútil?
Quanto tempo você passa rodando por vídeos e memes nas redes sociais? Esse é um bom momento para dar uma espiadinha nas métricas do seu celular e ver quantos minutos (ou horas) por dia fica no Instagram, TikTok e Youtube.
A resposta pode te surpreender.
Só que além da quantidade de tempo, o tipo de conteúdo também faz a diferença.
Você já fez uma pausa e refletiu sobre quais são os assuntos que têm chegado até você? Aproveite a oportunidade e faça esse exercício mental por alguns instantes.
Você pode pensar que a coluna de hoje está parecendo uma terapia guiada, mas a minha intenção é apenas despertar a audiência do adormecimento das redes sociais para que possamos examinar com mais profundidade o assunto principal que quero trazer.
Se você chegou à conclusão que passa a maior parte do seu tempo consumindo conteúdos fúteis e insignificantes nas redes sociais, pode ser que você esteja enfrentando a condição de "brainrot".
O termo "brainrot", traduzido como "podridão cerebral" ou "cérebro apodrecido", define uma suposta deterioração mental causada pelo consumo excessivo de conteúdos de baixa qualidade, como os memes, fofocas e vídeos sem sentidos.
Eu sei que todo mundo assiste a esse tipo de conteúdo e que faz parte de uma forma emergente de entretenimento, eu estou no mesmo barco, mas o consumo em excesso pode afetar o repertório das pessoas, as habilidades cognitivas, criatividade e o pensamento crítico.
"Brainrot" é um termo criado há quase 20 anos, mas que recentemente ressurgiu nas redes sociais porque os próprios usuários, especialmente os jovens, estão identificando esse comportamento entre si. Através de gírias ou vídeos de autoafirmação, muitos conteúdos no TikTok explicam o que é o termo e até propõem quizzes para avaliar se as pessoas estão com "brainrot".
É importante deixar claro que este não é um diagnóstico médico ou um termo científico, mas apenas um nome que apareceu na cultura da internet para definir uma possível consequência do nosso comportamento online em consumir conteúdos fúteis para ter uma rápida recompensa e as sagradas doses de dopamina.
Embora não esteja no rol de doenças, esta é uma hipótese que merece mais pesquisas com profundidade porque começam a aparecer pistas de que a coisa está deixando de ser apenas uma brincadeira.
Em matéria do The New York Times, o médico Michael Rich do Boston Children's Hospital, que investiga sobre o tema, contou que muitos pacientes já usam o "brainrot" como um símbolo de honra. Eles brincam sobre a situação, estão conscientes que o consumo obsessivo desse tipo de conteúdo afetam suas vidas, mas não conseguem abandonar o comportamento.
Não dá para simplesmente ignorar os possíveis efeitos colaterais do consumo excessivo de conteúdos fúteis e fragmentados que vem se intensificando com os novos formatos das redes sociais. Precisamos ter consciência que a cada nova tecnologia, a complexidade dos fenômenos aumenta.
O TikTok mudou ainda mais a dinâmica de interação e consumo de conteúdos online. Com o seu algoritmo poderoso e um design que estimula o usuário a trocar de estímulos o tempo todo, a plataforma construiu um império de retenção da atenção e, assim, influenciou as outras a fazerem o mesmo. Reels no Instagram e Shorts no YouTube não são nada além de cópias deste mesmo modelo.
E isso marca o início do fim da curadoria humana. Hoje, quase tudo o que se consome em vídeo nessas plataformas não é algo que o usuário deliberadamente escolhe assistir, mas o que o algoritmo entende ser o melhor não necessariamente para os humanos, mas para a plataforma.
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Quero receberOs sistemas de recomendação são projetados para maximizar o tempo que as pessoas ficam dentro dos domínios das big techs, então entregam os conteúdos mais recompensadores, que geralmente são memes, virais e publicações de consumo rápido.
É verdade que os sistemas de recomendação não são novidades e estão aí desde as primeiras versões das plataformas de streaming. Só que antes eles funcionavam como um garçom que entregava um cardápio de opções. No fim, ainda cabia ao usuário escolher o que gostaria de ver.
Agora, a coisa está mais delicada, pois com essa dinâmica de interação criada pelo TikTok, os algoritmos enfiam os conteúdos mais virais diretamente em nossas mentes, sem qualquer permissão prévia.
Conteúdos fúteis e memes sempre existiram e compõem a essência da cultura digital. E, convenhamos, o consumo com moderação não é um problema.
A questão é quando o algoritmo nos coloca em um fluxo no qual temos pouco controle do que assistimos. Tudo é rápido, fragmentado e muitas vezes sem contexto.
Se não tomarmos cuidado com essa dinânica, é possível que "brainrot" deixe de ser apenas um jargão de internet e vire de vez um diagnóstico médico
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