Diogo Cortiz

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Opinião

Utopia ou distopia? Novos óculos de Zuckerberg são a revanche do metaverso

Não importa o que a tecnologia é. Importa o que ela pode vir a ser. Eu sempre falo essas duas frases nas minhas aulas e palestras sobre tecnologia e inovação, e nesta semana Zuckerberg mostrou que elas fazem cada vez mais sentido.

Na última quarta-feira, durante a conferência anual Meta Connect, Zuckerberg revelou ao mundo o que sempre especulamos em ficções e outras histórias futuristas: um óculos de realidade aumentada com projeções diretamente na lente.

Chamado de Orion, o protótipo é diferente de tudo o que vimos até agora.

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Imagem: Divulgação/Meta

A Apple já tinha apresentado seus óculos de realidade mista como uma grande promessa para o que poderá ser a próxima forma de computação, uma computação espacial em que o real e virtual se misturam em um único mundo.

Mas o design da Apple segue o padrão tradicional dos óculos de VR. Um dispositivo grande e desengonçado em que a interação com o mundo real é capturada por câmeras e exibidas em uma tela próxima aos olhos.

A proposta da Meta é totalmente diferente. Estamos falando de um óculos aparentemente comum em que o mundo físico é combinado com hologramas sobrepostos diretamente na lente dos óculos.

É uma arquitetura completamente nova de display, composta por pequenos projetores e estruturas 3D em nano escala gravadas nas lentes, que consegue colocar holograma em diferentes tamanhos e profundidades no mundo.

É um trabalho incrível de engenharia e design para desenvolver uma tecnologia avançada de maneira miniaturizada, que cabe em pares de óculos.

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Estamos falando de um dispositivo que pesa por volta de 100 gramas. O Apple Vision Pro, por exemplo, pesa 600 gramas.

O Orion também inova na forma de interação. Por meio da IA da Meta será possível interagir por voz, mas a grande sacada está na interação por gestos.

Um diferencial do projeto é adotar uma pulseira de EMG que cria uma interação neural com os óculos. Aliás, a Meta vem apostando muito em neurotecnologias.

Exatamente um ano atrás, participei de um evento para discutir as novas tecnologias da Meta e questões emergentes de privacidade e éticas na sede da empresa em Menlo Park, no coração do Vale do Silício.

Foi quando conheci o Reality Labs e ví mais de perto os produtos que estavam sendo desenvolvidos pela empresa de Zuckerberg.

Tive a certeza que dali sairiam inovações com potencial de influenciar os comportamentos e as narrativas do futuro. O projeto Orion é exatamente isso.

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O Reality Labs é o laboratório que foi criado quando teve o hype do metaverso. Muita gente falou mal da tecnologia, mas esse movimento foi influenciado por conta do hype criado pelo mercado que quis vender uma ideia como um produto final.

A Meta mesmo sempre disse que as tecnologias imersivas para o metaverso eram uma aposta para o longo prazo. Agora, começa a mostrar que jogar fichas no futuro pode render bons frutos na longa corrida da inovação.

A tecnologia apresentada parece ter saído de um conto de ficção. Agora precisamos saber se faz parte de uma utopia, distopia ou algo no meio do caminho.

Sedutor, mas...

Apesar de sedutores, esses novos produtos trazem desafios éticos, de privacidade e governança que precisam ser debatidos.

O ponto positivo é que eu estive na sede da Meta justamente para discutir sobre critérios de privacidade para alguns dos novos produtos da empresa, especialmente relacionados à neurotecnologia.

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Não posso falar muito porque os acordos de confidencialidade não permitem, mas é interessante acompanhar as empresas trabalhando para antecipar cenários que podem ser problemáticos e propor soluções antecipadas.

Isso demonstra que o próprio processo de desenvolvimento de produtos está em outro nível de maturidade quando critérios éticos e de privacidade são pensados no momento do design, e não apenas quando o produto no mercado traz alguma consequência indesejada.

O Orion ainda não é um produto comercial. É um protótipo que custa US$ 10 mil para produzir cada par de óculos.

No entanto, a Meta entende que esse pode ser o futuro da computação. Pela primeira vez, eu vejo um produto que, de fato, pode ser o substituto do smartphone.

Vai rolar? Não sei, mas termino esta coluna da mesma forma que comecei.

Não importa o que a tecnologia é. Importa o que ela pode vir a ser. E isso vale para o Orion, mas também para o Apple Vision Pro.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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