Pessoas já preferem poesia feita por IA, isso diz muito sobre a humanidade
Quando as máquinas tomarem todos os nossos trabalhos, o que nos restará fazer? Alguns dizem que, pelo menos, nos sobrará a arte, a poesia, a expressão da alma humana em alguma forma.
Talvez essa seja uma visão romântica da natureza humana. Talvez.
Ou, quem sabe, isso apenas revele o quanto subestimamos o poder da tecnologia em expor nossas concepções equivocadas sobre as preferências da maioria das pessoas.
Um estudo publicado recentemente na Scientific Reports mostrou que as pessoas não conseguem diferenciar de forma confiável as poesias criadas por inteligência artificial de poesias escritas por humanos.
E mais do que isso. As pessoas tendem a preferir os versos gerados pela IA quando não sabem que foram a máquina quem escreveu.
Os pesquisadores selecionaram 5 poemas de 10 escritores conhecidos na língua inglesa, entre eles William Shakespeare, Lord Byron, Walt Whitman, T.S Elliot e outros.
Em seguida, pediram ao ChatGPT 3.5 para criar novos poemas no estilo de cada um dos poetas.
No final, eles tinham uma coleção de textos escritos por autores genuínos e textos gerados por IA para cada estilo de autor.
No primeiro experimento, os pesquisadores recrutaram 1.634 pessoas e atribuíram aleatoriamente um poeta para cada uma delas. Cada participante recebeu 10 poemas em ordem aleatória, sendo 5 escritos pelo próprio autor e 5 gerados pela IA no estilo do autor.
Os participantes tinham que dizer se cada texto era escrito pelo humano ou pela IA, e eles eram mais propensos a julgarem que os poemas gerados pela IA tinham sido escritos por humanos.
E o inverso também aconteceu. Entre os cinco poemas considerados como os menos prováveis de terem sido escritos por humanos, na verdade todos tinham sido escritos por poetas genuínos.
Para ter mais substância de dados para a pesquisa, os pesquisadores fizeram um segundo experimento para avaliar como as pessoas percebem e avaliam a poesia.
Desta vez, um grupo diferente de 696 participantes recebeu os mesmos textos do experimento anterior, divididos em três subgrupos.
Um foi informado de que todos os textos eram escritos por humanos, outro que eram criados por IA, e o último grupo não recebeu nenhuma informação.
Os resultados mostraram que os poemas gerados por IA foram mais bem avaliados em ritmo e beleza, o que ajudou a dificultar a distinção entre autoria humana e artificial.
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Quero receberNo entanto, quando os participantes acreditavam que os poemas eram criados por IA, atribuíam notas mais baixas em 13 características.
Curiosamente, o conjunto incluía textos escritos por poetas genuínos, o que expõe uma 'heurística da espécie': tendemos a declarar que preferimos aquilo que é criado pelos humanos, mesmo quando tudo já se torna indistinguível.
Como explicar esse resultado?
Os participantes dos estudos não eram pessoas especializadas em literatura e tinham pouco contato com a poesia. Por este motivo, os pesquisadores argumentam que a simplicidade dos poemas criados por IA são mais fáceis de serem entendidos.
Isso diz mais sobre a humanidade do que sobre a própria máquina. A IA trabalha no lugar comum.
O seu conteúdo é a média da criação humana. E, muitas vezes, nós nos sentimos confortáveis nesse espaço.
Isso acontece com a música, com o cinema, com qualquer outro tipo de arte. Se não estivermos dispostos a enfrentar a estranheza e o incômodo daquilo que nos atravessa com questionamentos, vamos querer ficar com o previsível.
A IA está pronta para dominar a produção no território do previsível, replicando padrões que se mantêm na média.
Inclusive, a IA generativa tem um desempenho tão bom porque passou por uma fase de treinamento chamada "Aprendizado por reforço a partir do Feedback humano" em que foi treinada justamente para criar conteúdos de acordo com nossas preferências.
E, como vimos, a maior parte das pessoas preferem padrões mais simples.
Como sempre na história, os artistas continuarão esticando as possibilidades da realidade, pensando naquilo que foge dos padrões e cutucando a ferida da nossa existência.
Como disse Pablo Neruda: "A poesia tem comunicação secreta com os sofrimentos do homem". Ou talvez tenha sido uma máquina.
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