Diogo Cortiz

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Opinião

2025 marca o início da Geração Beta; faz sentido usar esse nome?

Todos os bebês que nascerem a partir de 2025 receberão uma nova etiqueta: a da geração Beta. Depois dos Baby Boomers, Millennials, GenZ, Gen Alpha, neste ano estamos inaugurando safra de humanos que crescerão rodeados por inteligências artificiais, tecnologias imersivas, neurotecnologias e a necessidade de ações efetivas para a emergência das mudanças climáticas.

Pelo menos é assim que as diferentes matérias que li apresentam a nova geração. Mas isso me fez pensar: os Betas serão as únicas pessoas nessas condições?

Certamente não.

Os próximos 50 anos também serão criados por pessoas de outras idades. O início e fim de uma nova geração é uma forma arbitrária de traçar limites entre os diferentes indivíduos que, na maioria das vezes, não são assim tão bem definidos. O importante é reconhecer que as tecnologias têm o potencial de mudar o comportamento de todos os que convivem com ela.

É por isso que sou crítico de pesquisas e relatórios que utilizam apenas essa lente para fazer seus estudos. Isso reduz a complexidade de qualquer análise.

Cada pessoa é um mundo customizado por sua personalidade, preferências e comportamentos. E, sabemos bem, que tudo isso é influenciado mais por sua etnia, raça, classe social e acesso à tecnologia do que simplesmente a data de nascimento.

Não se trata de abandonar o uso dessas etiquetas. Elas podem ser úteis para estudar e definir macro comportamentos, além de identificar algumas tendências. No entanto, usá-las como o Santo Graal de pesquisas em ciências sociais pode ser limitante.

Alguns institutos sérios e renomados estão repensando o uso de nomenclaturas por gerações. É o caso do Pew Research Center que, embora entenda a utilidade desse tipo de classificação, listou algumas considerações que devemos ter antes de adotá-la:

1 - Gerações não são cientificamente definidas: as fronteiras de onde começa e termina uma geração não são precisas e nem universalmente aceitas. Pessoas nascidas perto dos limites das classificações se sentem desconfortáveis ao serem colocadas no mesmo grupo com pessoas muito mais velhas ou mais novas do que elas.

2 - Rótulos geracionais podem levar a estereótipos e simplificações excessivas: nem todos os Baby Boomers ou GenZ são iguais, assim como nem todos os brasileiros, católicos ou indianos são iguais. Experiências e identidades compartilhadas devem ser reconhecidas, mas não às custas da individualidade.

3 - As discussões sobre gerações frequentemente se concentram nas diferenças em vez das semelhanças: o "Ok Boomer" virou meme global, mas talvez a distância entre avós e netos não seja tão grande assim. A separação entre as diferentes culturas faz a gente exagerar nas diferenças e deixar passar o que é compartilhado entre as gerações.

4 - Pessoas mudam com o tempo: o comportamento das pessoas vai se ajustando conforme a realidade. Quantos baby boomers vocês conhecem que estão mais viciados em celulares do que os GenZ?

Essas são algumas ressalvas que devem ser levadas em consideração, ainda que o pensamento geracional possa nos ajudar a entender algumas coisas. Não sou contra e até mesmo uso em minhas aulas e palestras, mas sempre como uma pitadinha de sal.

É importante sempre lembrar que o tempo traz mudanças. Viver no mesmo momento, ainda que sejamos de épocas diferentes, cria marcas que nos aproximam. Crises e novas tecnologias deixam cicatrizes e moldam a forma como enxergamos o mundo, independente da nossa data de nascimento.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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