Estratégia bilionária de Trump aponta futuro da IA na mão de poucos
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Uma boa história de ficção científica pode muito bem começar com um pronunciamento do presidente dos Estados Unidos - e muitas, de fato, começam assim. Nesta semana, tive a sensação de estar assistindo ao prólogo de uma dessas tramas em que o desfecho da relação entre humanidade e tecnologia é incerto. Alguns poucos sairão beneficiados, isso parece certo. Mas e o resto de nós?
Em menos de uma semana, a nova administração Trump já movimenta peças no tabuleiro da inteligência artificial. Nesta terça-feira (21), o presidente dos EUA, ao lado dos CEOs da OpenAI, Oracle e SoftBank, anunciou uma iniciativa ousada e surpreendente. O Projeto Stargate é uma nova empresa, financiada por capital privado, que prevê o investimento de 500 bilhões de dólares nos próximos 4 anos para construir uma nova infraestrutura para IA nos Estados Unidos.
Não, você não leu errado. São 500 bilhões de dólares. Meio trilhão. O equivalente a quase um quarto do PIB do Brasil.
A proposta é utilizar todos os recursos disponíveis - dinheiro, conhecimento e política - para chegar na chamada IA Geral e, quem sabe, avançar até a Superinteligência para garantir a supremacia dos EUA.
Embora não haja um consenso sobre a definição exata de IA Geral - além da ideia de que se trata de um modelo com capacidades cognitivas equivalentes às humanas -, a proposta se mostra sedutora, convencendo fundos de investimento a apostarem em algo que pode ser a última grande inovação da humanidade.
Tudo isso ficou evidente na coletiva de Trump com empresários na Casa Branca, criando um cenário que mesclava a urgência de uma política de Estado com os contornos de uma história sci-fi. Era como se todos ali quisessem dizer que este é um caminho sem volta, e que a IA desenvolvida por eles vai guiar o futuro da humanidade.
As promessas para o público doméstico são chamativas. Trump falou na criação de 100 mil postos de trabalho nos Estados Unidos, enquanto Larry Ellison, da Oracle, destacou que a IA permitirá o desenvolvimento de vacinas de mRNA personalizadas para combater o câncer.
Objetivo: EUA grande e dominante em IA
A mensagem também foi clara para o resto do mundo: não tentem competir conosco. É a tentativa de demonstração de uma força intransponível de quem começa a enxergar sombras assustadoras. Se os Estados Unidos pareciam dominar o jogo com ampla vantagem, nos últimos meses foram surpreendidos com empresas chinesas apresentando modelos que competem de frente com os de OpenAI, Google e outros.
O destaque da vez é a DeepSeek, uma startup chinesa que em apenas dois meses conseguiu treinar um modelo de código-aberto bastante otimizado que rivaliza com o ChatGPT. É um indicativo que a China está conseguindo fazer muita coisa mesmo que os EUA tenham barrado o acesso aos chips mais avançados.
É por isso que os esforços agora são para fazer a América grande e dominante nas próximas gerações de IA. A iniciativa não é exatamente um projeto do governo Trump, mas precisa dele para dar certo. Softbank é a responsável financeira enquanto a OpenAI cuida da parte operacional. E onde Trump entra na história? O mandatário entra como um articulador político para facilitar o processo.
À medida que a Inteligência Artificial ganha mais poderes, o escrutínio público e a pressão por regulações são coisas certas. Neste sentido, o governo executivo pode atuar para criar um ambiente mais desregulado. Poucas horas após o retorno à Casa Branca, Trump revogou a Ordem Executiva do Biden sobre o desenvolvimento ético e responsável da IA, afrouxando as regras e responsabilidades para as empresas treinarem novos modelos.
Em seguida, Trump assinou um novo decreto que visa "tornar os Estados Unidos a capital mundial da inteligência artificial", disse um de seus assessores no Salão Oval da Casa Branca. A ordem estabelece um prazo de 180 dias para a criação de um Plano de Ação de Inteligência Artificial para sustentar e aprimorar o domínio global da IA dos EUA.
Se por um lado essas mudanças foram comemoradas pelas Bigtechs, as decisões foram vistas com ressalva por pesquisadores da área. O que virá a seguir ainda é incerto, mas marca que a partir de agora a aposta é em um desenvolvimento mais rápido e menos controlado da IA.
Entre tantas dúvidas, resta uma certeza: o futuro da humanidade não está sendo criado coletivamente, mas definido por um grupo restrito de pessoas que domina o desenvolvimento das tecnologias capazes de guiar nossos comportamentos, escolhas e afetos. E com a chegada dos agentes de IA previstos para este ano - modelos que não apenas nos auxiliam, mas podem agir em nosso lugar -, essa concentração de poder se torna ainda mais inquietante.
7 comentários
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Antonio Carlos Cunha
Dinheiro, tecnologia e poder reunidos para criar uma imbatível cleptocracia, sem qualquer preocupação com a ética.
Marcos Antonio Rios Forte
Quem assistiu O Exterminador do Futuro e Matrix sabe onde isto vai nos levar.
Leandro Schmaedeke
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