Musk x OpenAI: A briga pela IA invadiu a Casa Branca
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Elon Musk é um personagem que coloca a tecnologia como aquilo que vai solucionar os problemas mais complexos da humanidade. As suas promessas sempre estiveram na fronteira da ficção: foguete que dá ré, conexão rápida por satélites, carros elétricos e inteligência artificial.
Algumas dessas tecnologias já são realidade, e ele gosta quando é considerado a pessoa que está guiando a humanidade para o próximo passo.
Quando estamos em uma conversa de bar, o nome dele é certamente lembrando quando a prosa ruma para assuntos como viagens espaciais, conexão de internet em áreas remotas do mundo e os carros que no futuro estarão rodando pelas nossas cidades sem motoristas.
Musk chega atrasado, mas sempre dá um jeito de estar no jogo
Quando começamos a falar sobre inteligência artificial, outros nomes ganham força. Sam Altman, CEO da OpenAI, Mark Zuckerberg, da Meta, e Satya Nadella, da Microsoft, são algumas das pessoas que dominam o debate sobre quem está conduzindo o desenvolvimento de novos modelos inteligentes.
Isso não significa que o dono da Tesla esteja fora do jogo. Ele tem a startup xAI - avaliada em 50 bilhões de dólares - que oferece a IA Grok, além de estar investindo há muito tempo em projetos de carros autônomos.
Mas, ainda assim, o nome de Musk é muitas vezes lembrado como alguém que está atrás dos demais. Alguém que chegou atrasado para uma disputa apertada e duríssima. E isso fere o ego de quem sempre foi influente sobre o potencial benefício e riscos do desenvolvimento da IA.
A OpenAI está na fronteira da IA. Além de desenvolver os modelos que estão entre os mais avançados, a organização inova ao propor uma série de funcionalidades que mudam a maneira como as pessoas interagem - e vão interagir - com sistemas inteligentes.
Musk deve olhar para isso e pensar: eu ajudei a fundar a OpenAI, mas o que me sobrou? Somente a sombra.
É aí que as emoções viram comportamentos hostis e processos judiciais. Desde o lançamento do ChatGPT, as críticas do homem mais rico do mundo ficaram cada vez mais vocais contra a OpenAI. Musk acusa a organização de colocar o lucro à frente do bem público e de ter abandonado sua missão original de promover uma tecnologia de código aberto.
Quando Musk decidiu ajudar a financiar a criação da OpenAI em 2015, o objetivo era estabelecer um laboratório independente que promovesse pesquisas abertas para chegar na tão esperada Inteligência Artificial Geral, o que é tudo verdade. Mas ele mesmo acabou deixando a OpenAI para focar em aplicações mais práticas e lucrativas de IA com a Tesla, argumentando que o laboratório não alcançaria o resultado esperado.
Só que em pouco tempo, liderada por Sam Altman, a OpenAI encontrou um caminho alternativo, deixando de ser apenas um laboratório de pesquisa para criar produtos comerciais antes mesmo da chegada da aguardada superinteligência.
O ChatGPT é o grande marco. O lançamento de um chatbot de propósito geral rompeu com os paradigmas do uso da IA. O sucesso repentino da aplicação criou um verdadeiro estado de FOMO - Fear of Missing Out -, fazendo com que toda a indústria entrasse em um estado de pânico na corrida pela IA.
Foi naquele momento que talvez Musk percebera que havia perdido o primeiro bonde. Lembram que ele, inclusive, chegou a assinar uma carta pedindo para que as pesquisas de IA fossem interrompidas por 6 meses? Com a justificativa de prezar pela segurança, hoje é evidente que a sua intenção era atrasar o desenvolvimento da OpenAI.
Em poucos meses, Sam Altman ficou mundialmente famoso e se tornou uma das vozes que o mundo queria ouvir para entender sobre o futuro e os riscos da IA, enquanto Musk virou um coadjuvante.
Entre ofensas públicas e processos judiciais, a última ofensiva de Elon Musk aconteceu nesta semana. Um consórcio liderado por ele fez uma oferta de 97,4 bilhões de dólares pela OpenAI.
Imediatamente, Sam Altman recusou a proposta e aproveitou para cutucá-lo. Com um post na rede X, o CEO da OpenAI escreveu: "Não, obrigado, mas podemos comprar o twitter por 9,74 bilhões se você quiser". Lembro que Musk pagou 44 bilhões pela rede social, mas hoje especula-se que a rede social valha muito menos.
Ainda que a proposta seja formalmente rejeitada, o movimento de Musk cria algumas complicações para Altman, que pode enfrentar dificuldades no conselho para transformar a OpenAI em uma empresa com fins lucrativos. A oferta pode ter "precificado" a organização sem fins lucrativos da OpenAI a um custo mais elevado.
A intenção de Musk de evitar que OpenAI se torne uma empresa lucrativa ficou explicita dois dias após a oferta inicial. Conforme noticiado pela Reuters, o bilionário se compromete a retirar a oferta caso a conversão da empresa seja abortada, disseram os advogados do bilionário.
"Se o conselho da OpenAI estiver preparado para preservar a missão da instituição de caridade e desistir da venda de seus ativos, interrompendo sua conversão para uma entidade com fins lucrativos, Musk retirará a oferta", diz o documento.
Duelo ultrapassa o Vale do Silício
A situação deve aumentar as tensões entre os dois na briga por quem irá controlar as tecnologias mais poderosas de IA. Uma disputa que agora também ganha contornos políticos ainda mais complexos.
A relação de ambos com a administração Trump ilustra bem esse novo capítulo. Enquanto Musk é o fiel escudeiro do presidente, liderando o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), foi Altman que, diretamente do Salão Oval, apresentou o ousado projeto Stargate que surpreendeu o mundo com o investimento de 500 bilhões de dólares em IA.
A posição da administração do governo, por sua vez, deve ao mesmo tempo beneficiar ambos e acirrar essa competição. A volta de Trump à Casa Branca deixa evidente que a corrida pela IA é tratada como prioridade para garantir a hegemonia dos EUA, enquanto as preocupações de governança e regulação ficam em segundo plano.
Em seu discurso durante o AI Summit de Paris, fórum originalmente criado para falar sobre os riscos da tecnologia, o vice-presidente deixou isso claro: "Não vim aqui para falar de segurança em IA, e sim de oportunidade em IA".
Nesse ambiente mais desregulado, a disputa entre Musk e Altman ganha nova dimensão, com ambos competindo não só pelo mercado, mas também pela atenção de Trump e pelo apoio que o Estado pode oferecer aos seus projetos e interesses.
A disputa entre Musk e Altman já extrapolou o Vale do Silício. Agora, está sendo travada nos salões do poder, onde a IA já deixou há muito tempo de ser apenas um produto e virou uma arma na disputa geopolítica.
1 comentário
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Ricardo Santa Maria Marins
Toda essa conversa é enganação. No fundo MUSK quer com o TRUMP, terem o controle das empresas, plataformas, interferir nos aplicativos e Big Techs, para com isso espionar o mundo virtualmente. O "X" com a Starlink, fazem isso tanto por satélite quanto por cabos subterrâneos. E chantageando ou subornando, vão induzindo que façam essas empresas o que o projeto ufânico de ambos, caminhe. A China é um empecilho ao projeto americano de domínio geral. O DEEP SEEK, jogou água fria no Vale do Silício. Vão ter que melhorar e simplificar muito ou perderão competitividade e atratividade. OPINIÃO!