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Felipe Zmoginski

Câmera que reconhece cara de dúvida de aluno? China aposta em IA na escola

Segundo especialistas, avanço do uso de IA pode eliminar as provas com questões de múltipla escolha - Michael Salinger/ Pixabay
Segundo especialistas, avanço do uso de IA pode eliminar as provas com questões de múltipla escolha Imagem: Michael Salinger/ Pixabay

23/12/2020 04h00

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A China é reconhecida por entidades internacionais, como a Unesco e o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos, na tradução do inglês), o teste internacional de estudantes do ensino médio, como um dos países que mais investe em soluções de inteligência artificial (IA) nas salas de aula.

De acordo com Kai-Fu Lee, que foi CEO do Google na China, o país asiático deve liderar o uso de ferramentas de IA entre as edtechs em todo o mundo na década de 2020 a 2030.

O uso destas tecnologias permite, por exemplo, que câmeras de reconhecimento facial instaladas em sala de aula façam o controle de frequência dos alunos, mas também avaliem, a partir de suas expressões, o grau de compreensão das matérias ministradas. Em tempo real, o professor pode receber orientação sobre quais alunos precisam de mais atenção e reforço.

O método deve permitir ainda que algoritmos identifiquem "talentos especiais" em turmas espalhadas pelo país.

O uso de automação e AI é particularmente interessante na China, um país que, a exemplo do Brasil, tem dimensões continentais, por permitir que estudantes em vilarejos distantes como no Tibete e Xinjiang, tenham acesso a professores, aulas e testes com a mesma qualidade que adolescentes matriculados em colégios de Xangai ou Pequim.

Especialistas em várias partes da China concordam, porém, que o uso de IA em sala de aulas vive ainda "sua infância".

Das 500 mil escolas públicas do país (para efeito de comparação, o Brasil tem 184 mil escolas públicas de ensino básico) menos de 5% usam estes recursos, em parte porque seus gestores têm dificuldades de justificar à sua comunidade que vale a pena colocar dinheiro em ferramentas do tipo.

Nas escolas particulares chinesas, porém, o uso ocorre de forma mais intensa, movimento que deve acelerar após a pandemia de covid-19, fenômeno que estimulou a adoção de novos serviços digitais em toda a economia, não só em educação.

Entre os casos mais bem-sucedidos de uso de IA na educação estão as plataformas de ensino de idiomas, Liuliusho, que ensina língua chinesa, e K12, que ensina língua inglesa.

Ensino de idiomas com IA: os algoritmos avaliam sua pronúncia e conversam com você - Divulgação - Divulgação
Ensino de idiomas com IA: os algoritmos avaliam sua pronúncia e conversam com você
Imagem: Divulgação

Além das aulas (presenciais ou virtuais) com professores de verdade (entenda-se "seres humanos") é possível conversar com avatares de IA e executar testes de conhecimento, que permitem aferir seu nível de pronúncia, compreensão de textos, vocabulário e gramática.

Para muitos especialistas, o contato entre professor e aluno sempre foi mais eficaz para medir conhecimento, porém seria humanamente impossível a um mestre acompanhar os exercícios, leituras e comentários de todos seus alunos, detidamente.

Além disso, o contato entre duas pessoas é sempre suscetível a predileções pessoais. Por isso, frequentemente, para dar impessoalidade a exames como o vestibular, usa-se o método de "questões de múltipla escolha".

Para especialistas como Ka-Fu Lee, o avanço da inteligência artificial, porém, permitirá eliminar este tipo de avaliação, para provas no ensino médio, nas faculdades e até no disputado Gao Kao, o ultracompetitivo vestibular chinês.