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Felipe Zmoginski

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Como novo perfil do povo chinês colocou o Brasil na mira das big techs

Novo censo mostra que a China está envelhecendo e se aproximando do perfil de nações desenvolvidas - Hassaan Malik/ Unsplash
Novo censo mostra que a China está envelhecendo e se aproximando do perfil de nações desenvolvidas Imagem: Hassaan Malik/ Unsplash

21/05/2021 04h00

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A China publicou esta semana os resultados de seu censo populacional, realizado em todo o país apenas uma vez a cada dez anos. Como esperado, os números revelaram um país que está envelhecendo e se aproximando do perfil de nações desenvolvidas, o que pode ser interpretado como fator positivo e negativo ao mesmo tempo.

Do lado otimista, é invejável que um país pobre e subdesenvolvido se transforme em uma economia rica, com aumento da renda dos trabalhadores e elevação da expectativa (e qualidade) de vida.

Do lado negativo, sobram dúvidas sobre a capacidade do país de continuar crescendo.

Os números indicam que a população cresceu, em média, 0,57% ao ano na última década. O país deve entrar em declínio populacional já em 2017, aponta a análise.

A quantidade de pessoas em "idade para trabalhar" (entre 15 e 59 anos) era de 70% no último censo. Agora, são 63%. Já o percentual de pessoas com mais de 60 anos, que era de 13% há uma década, agora soma 18,7%.

Por quase duas décadas, as grandes companhias de internet da China cresceram de forma fabulosa, apoiadas, entre outros fatores, na inclusão de milhões de novos usuários, a cada ano, no mundo digital.

O uso da internet no país, porém, parece ter chegado a um estado de saturação. No censo, 902 milhões de chineses declararam usar a internet com frequência. Na prática, quase 100% da população economicamente ativa do país.

Do ponto de vista de negócios, os números indicam que empreendimentos digitais já não poderão crescer apenas apoiados na expansão da internet no país.

O envelhecimento populacional também aponta que haverá menos jovens dispostos a trabalhar por baixos salários. Logo, o país precisa investir em mais empregos qualificados com adição de novas tecnologias —e menos fabricação de xing-lings, os produtos "baixo preço, baixa qualidade".

Não é preciso ser um gênio dos negócios para prever o que ocorre com empresas que atingem a saturação no mercado doméstico: elas buscam clientes no exterior. Para a China, o caminho natural é investir em seus vizinhos asiáticos, notadamente a Índia e a Indonésia, as duas maiores populações online da Ásia. Além, é claro, de explorar o maior e mais rico mercado digital do mundo, os Estados Unidos.

Após uma série de bem-sucedidos investimentos na Índia, como aportes na empresa indiana líder em mobile payments, a PayTM, e em serviços de e-commerce, a China encontra um cenário hostil no país. Disputas fronteiriças (com mortes de lado a lado) levaram ao banimento temporário de apps chineses no país.

Já nos Estados Unidos... os negócios pareciam ir bem com o sucesso avassalador da ByteDance, empresa criadora do TikTok, entre os jovens americanos, bem como a expansão das empresas de software e conectividade 5G no país. Mas o temor americano em perder a liderança tecnológica para a China tem gerado uma crescente ameaça de bloqueio e banimento das empresas chinesas no "livre mercado" americano.

O caminho natural para estas companhias, além dos países do Sudeste da Ásia, caso de Indonésia, Filipinas e Vietnã, é o Brasil, quinta maior população online do mundo e mercado onde, apesar da crise econômica continuada, preserva grande percentual da população com renda média e alta.

Daí justificam-se os crescentes investimentos que temos visto das big techs chinesas no Brasil, que passam por aquisições (como a Didi fez com a 99 no passado recente) até a abertura de escritórios locais, contratação de equipe local e muito marketing.